As instituições financeiras vêm revisando para cima suas projeções sobre o desempenho do Ibovespa em 2022. O Bank of America (BofA), por exemplo, subiu sua previsão de 125 mil para 135 mil pontos, muito em função dos preços das commodities em patamares elevados e da melhor performance dos grandes bancos.
Os estrangeiros têm visto o Brasil como uma boa alternativa entre os emergentes. E no radar dos gringos não estão somente as ações de produtoras de commodities ou instituições financeiras, eles estão de olho em ações ligadas a setores cíclicos domésticos.
Em que pesem ainda os desafios macro, o fato é que a Bolsa negocia próxima a 8 vezes lucros projetados, um desconto de cerca de 30% em relação à média histórica.
Portanto, há oportunidades de entrada em ações de companhias de qualidade descontadas para buscar ganhos no médio e longo prazo.
Com esse pano de fundo, Felipe Miranda, CIO da Empiricus, chamou para um bate-papo em sua live semanal deste domingo (10/04), no Instagram, os analistas de suas carteiras da casa – Cristiane Fensterseifer, que comanda a Microcap Alert e Fernando Ferrer, que lidera a série As Melhores Ações da Bolsa.
Eles discutiram sobre a dinâmica de mercado, estratégias dos portfólios e revelaram alguns tickers promissores.
Microcaps tem mais risco, porém, possibilidade de grandes upsides
As micro e as small caps são ações de empresas com baixa capitalização de mercado e menor liquidez.
Segundo a analista Cris Fensterseifer, nos últimos tempos, a pandemia, a deterioração do cenário macroeconômico e o estopim da guerra entre Rússia e Ucrânia, castigaram o mercado como um todo, mas as micro e small caps, que têm menores volumes negociados no mercado, sentiram ainda mais. Isso aconteceu muito por conta dos aumentos dos resgates dos fundos de ações. “Quanto o pessoal pede resgate, os gestores dos fundos têm que vender os papéis, mesmo achando que são bons ativos, pois têm que cumprir com essa demanda. Assim, as empresas menores sofrem mais, impacta fortemente nos seus preços”, explica.
Entretanto, Cris destaca que as companhias de menor capitalização, que tenham boa gestão, operações em ordem e capacidade de execução são justamente as que têm possibilidade de maiores upsides ao longo do tempo.
Inclusive, depois de crises como as de 2008 (subprime) e 2015 (governo Dilma), o que se viu foram empresas micro e small caps se sobressaindo com a rápida recuperação e altas.
“Quando as empresas são boas e têm o lucro crescendo, mais cedo ou mais tarde, o preço das ações acabam convergindo para o valor intrínseco”, diz.
A carteira Microcap Alert é diversificada entre players de crescimento, empresas que têm receitas no ambiente externo, do setor de tecnologia e também commodities.
Na live, ela fala sobre duas ações que ela gosta – a 3R Petroleum (RRRP3) e a WDC Networks (LVTC3).
- 3R Petroleum (RRRP3): É uma microcap com foco no desenvolvimento e revitalização de campos já maduros com reservas comprovadas de petróleo e gás em terra (onshore) e em águas (offshore). A empresa pega a onda das commodities, uma vez que o preço do petróleo deve seguir em patamar elevado devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Mas o mais relevante, segundo Cris, é que após acelerar as aquisições de ativos da Petrobras, a empresa começará a ampliar as receitas a partir do segundo semestre. “Costuma levar 12 meses entre assinar e operar os ativos. Então, este ano marca a transição entre o período de compras e o reconhecimento de receitas”, explica. Em 2023, também entra nessa conta o Polo Potiguar, constituído por campo de petróleo, terminal exportador e refinaria, ou seja, um portfólio diversificado que mitiga o risco da empresa. Ainda conforme a Cris, a ação da 3R está descontada ao se analisar tanto a métrica valor da firma frente às reservas quanto o valor de mercado de seus pares.
- WDC Networks (LVTC3): É uma empresa que comercializa e também aluga modens e equipamentos para telefonia móvel e está muito inserida no contexto 5G. Na área de locação, a empresa tem conseguido avançar em ritmo acelerado com margens altas e recorrência. Entretanto, a analista destaca que WDC poderá brilhar este ano com os resultados de vendas de kits fotovoltaicos para residências, shoppings e hotéis. “O marco regulatório aprovado em janeiro assegura incentivo, ou seja, tarifas menores de energia, para quem instalar painéis solares este ano. Com isso a gente projeta um crescimento de mais de 70% nas vendas de kits solares”, disse Cris. Para ela, a companhia é bem gerida e sua ação está extremamente descontada.
No radar, large caps de qualidade
Já a série As Melhores Ações da Bolsa, liderada por Fernando Ferrer, tem como filosofia selecionar grandes empresas (maior capitalização em Bolsa) de qualidade. Para isso, de acordo com ele, são avaliadas métricas de rentabilidade, alavancagem financeira equacionada, governança corporativa e liderança de mercado. “Daí a gente faz o valuation, vê os múltiplos para saber se as ações estão caras ou baratas. Uma empresa pode ser boa, mas não ser um bom investimento. É preciso ter atratividade em termos de preço”, comenta.
Na live, ele conta que os desafios do Brasil são conhecidos e que o país precisaria avançar em reformas como fiscal e tributária. “Se por um lado é um problema, por outro, isso acaba construindo empresas muito boas e resilientes para enfrentar e sobreviver nessa bagunça toda”, diz. São grandes companhias que investem em inovação e conseguem criar novas avenidas de crescimento.
Entre as gigantes com alto potencial, ele destaca a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) e o Grupo SBF (SBFG3).
– Gerdau (GOAU4): Há alguns anos a empresa passa por um processo de transformação – com foco em desinvestimentos, redução de despesas, investimentos em tecnologia e direcionamento aos seus principais mercados, o Brasil e os Estados Unidos “O fato é que a Gerdau se preparou para o cenário ótimo, que é o preço do aço subindo. Além disso, ela é autossuficiente em minério, então, mesmo que o insumo suba, isso não impacta na companhia”, diz Ferrer. A empresa produz aço usando diretamente o minério de ferro ou por meio de sucatas, o que significa descarbonização e uma pegada ESG relevante. O momento é interessante aos seus negócios em função da retomada da construção civil e das obras de infraestrutura. Além disso, a expectativa é de pagamento de 20% de dividend yield.
– Grupo SBF (SBFG3): Ele é detentor da Centauro, rede varejista de moda e itens esportivos e da Fisia, distribuidora exclusiva da Nike no Brasil. O contrato com a marca americana de tênis e roupas entrou em prática no ano passado. “A Nike começa a mostrar resultados, com um faturamento quase da mesma dimensão que o da Centauro”, afirma o analista. Por sua vez, a Centauro, além de ir bem nas vendas online, conta com lojas físicas que proporcionam boa experiência e engajamento dos clientes, pois eles podem provar e testar os artigos e equipamentos. Ferrer destaca ainda que o Grupo SBF é líder de mercado, possui boa governança e tem baixa alavancagem.
Se você quiser saber mais, é só assistir ao vídeo completo da live do Felipe Miranda. [clique aqui]