Mesa Pra Quatro

Do apoio à seleção brasileira até um projeto no espaço sideral: João Adibe, CEO da Cimed, fala sobre sua trajetória

No episódio #33, João Adibe é o convidado especial. À frente da farmacêutica Cimed, laboratório 100% nacional, ele fala sobre sua trajetória de vida, empresarial, e revela planos para o futuro. Inclusive, sobre seu projeto espacial que pode revolucionar a tecnologia brasileira

Por Melissa Bumaschny Charchat

12 abr 2022, 15:58 - atualizado em 13 abr 2022, 13:01

No episódio #33 do podcast Mesa Pra Quatro, os apresentadores Caio Mesquita, Dan Stulbach e Teco Medina conversam com João Adibe, CEO do Grupo Cimed, posicionado no terceiro lugar do ranking das maiores indústrias farmacêuticas do país. 

O bate-papo com o empresário ficou em torno de temas como a sua trajetória pessoal, profissional e seus planos para o futuro, incluindo um projeto espacial voltado ao desenvolvimento de medicamentos, que tem potencial para revolucionar o panorama da tecnologia no Brasil. Adibe também comenta sobre sua paixão pelo futebol e o apoio dado à seleção brasileira.

Logo no início do programa, ele diz que é um vendedor nato e que sempre teve facilidade em se comunicar. “Vender é um conjunto de prática com sensibilidade, porque o vendedor é aquele que se transforma de acordo com a situação que ele tem”. 

Ser empresário no Brasil: desafios e responsabilidades

Uma característica marcante de Adibe que ele enfatiza é seu amor pelo Brasil. “Eu tinha o sonho de ter a cor do Brasil. Eu sempre levantei essa bandeira patriótica, porque parece que o brasileiro tem vergonha de sua nacionalidade. Foi assim que surgiu o sonho de patrocinar a seleção brasileira”, conta.  

Apaixonado por futebol, João fala sobre a Copa de 2014, quando vários patrocinadores abandonaram a seleção e a Cimed optou por fechar uma parceria, que se sustenta até hoje. “A seleção brasileira é o único produto que para o Brasil. A hora que tem jogo, o país para. Também é o maior produto que o Brasil tem lá fora. É a seleção que mais tem título”, destaca.

A identidade visual amarela lançada também segue firme, de modo que os medicamentos genéricos produzidos pela marca são muitas vezes reconhecidos somente pela cor. 

Outro fator comentado é a influência do atual cenário econômico em seu negócio. “A estabilidade no Brasil é inexistente”, comenta o empresário. “Como eu atuo na área da saúde, tem alguns agravantes que eu tive que aprender a lidar na pandemia. Por exemplo, disputar com o mundo uma matéria-prima tendo uma moeda desvalorizada”, explica.

O grande sucesso de Adibe é traduzido pela sua visibilidade nas redes sociais. Justificando esse grande alcance midiático, que é incomum no ramo, ele explica: “São poucos que mostram os bastidores de seu trabalho. Ainda mais em uma indústria tão ‘old-school’”.

Setor farmacêutico: entendendo o que está por trás

Adibe compartilha, também, sua visão sobre o panorama sobre o seu ramo de negócios. “O setor farmacêutico é muito antiquado. Até hoje os consultórios médicos funcionam do mesmo jeito, com uma recepcionista, uma fila de espera, um carimbo. Até a pandemia, quando passaram a ser permitidas as receitas digitais, era preciso ir até o médico para pegar uma receita”.

Hoje, o setor farmacêutico movimenta cerca de R$ 190 bilhões, sem contar hospitais e licitações públicas. Incluindo essas instituições, somaria cerca de R$ 220 bilhões. “Na indústria das farmácias, quanto mais você durar, mais remédios você vai tomar. A longevidade é o grande pulo dessa indústria”.

“O grande pipeline de uma indústria são os futuros registros de produto”, explica. “Hoje, para poder ter o registro, leva 3, 4 anos de pesquisa. O setor farmacêutico do Brasil é referência por conta do rigor da pesquisa”, fala Adibe. 

Tocando o próprio negócio: gestão e investimento

Sobre o fato da empresa ser familiar e funcionar à base de sucessão, Adibe comenta: “Nós nunca falamos mal do nosso negócio em casa, desde que eu acompanhava meus pais quando criança”. Ele ressalta que o mais importante é saber distanciar o negócio da relação familiar. “É uma empresa familiar com uma pegada de profissionalização forte”, afirma.

“Eu venho de uma cultura do empreendedor raiz, porque meu pai era um. E ele sempre me ensinou que o dinheiro mais bem aplicado é o que colocamos no nosso negócio”, afirma Adibe. Nesse sentido, ele afirma que o ROIC (return of invested capital) da Cimed é de 45%, e ele posiciona todos seus investimentos no negócio.

Adibe afirma que, em sua concepção, o medicamento genérico é uma commodity: “Eu tenho toda a cadeia de verticalização no meu modelo de negócios. Eu fabrico a embalagem, fabrico o remédio, distribuo ele e vendo direto para a farmácia. Automaticamente, o meu produto é o de maior rentabilidade e de maior acessibilidade”.

Novo projeto: expandindo as fronteiras para fora da Terra

O empresário conta que sempre teve gosto pelos astros e pelo espaço sideral. “90% dos astronautas que voltam da estação espacial na qual ficaram muito tempo têm probabilidade de ter câncer”. Ele explica que isso se dá porque eles vão perdendo os antioxidantes do corpo. Essa perda é o que causa envelhecimento.

Então, Adibe conta que descobriu que o espaço sideral é explorado pela indústria farmacêutica para o desenvolvimento de remédios: “A gravidade zero acelera o processo de desenvolvimento de produtos. Nós somos a primeira indústria brasileira a utilizar o espaço com essa finalidade”.

Pensando nisso, em dezembro de 2021, ele anunciou o Cimed X, projeto que, segundo Adibe, abre portas para ir além da área da saúde e alcançar a ciência e a tecnologia e será colocado em prática nos próximos 5 anos. 

O objetivo é utilizar o espaço sideral como ferramenta para o desenvolvimento de medicamentos: “O próximo passo é ser a primeira farmacêutica brasileira na pegada de uma healthtech”.

Partindo do pressuposto de que a longevidade é um dos pilares do seu negócio, Adibe explica que a iniciativa permitirá que a empresa crie mais produtos com esse foco. A empresa, alinhada com o setor farmacêutico, considera que o envelhecimento da população demandará mais medicamentos e vitaminas para as pessoas mais velhas.

O projeto é uma parceria com a companhia de logística Airvantis, que vai ser a responsável por levar os materiais para o espaço, e com o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, que é uma organização social ligada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações. 

 

Jornalista em formação pela Faculdade Cásper Líbero, é integrante da equipe de conteúdo da Empiricus e já atuou em social media e redação.