O que será da Empiricus e da conta de Felipe Miranda daqui para frente? O próprio responde

Felipe Miranda conversa com o NeoFeed sobre a aquisição da Empiricus pela BTG Pactual, comentando sobre seu futuro e o da casa

Por: Equipe Empiricus

Por Carlos Sambrana

Felipe Miranda, cofundador e estrategista-chefe da Empiricus, já sabe o que vai fazer com o dinheiro que embolsou com a venda do grupo Universa para o BTG Pactual. “Ele tem dois destinos”, diz Miranda ao NeoFeed. “Os fundos da Vitreo e uma casa em Laranjeiras.”

Laranjeiras, condomínio em Paraty (RJ), é onde Miranda se refugiou depois de assinar o contrato de venda da holding que concentra a casa de análises Empiricus, a gestora Vitreo, os sites MoneyTimes e SeuDinheiro, e o consolidador de carteiras Real Valor. Ele aluga uma casa lá. Mas por pouco tempo. Em breve terá a sua própria.

Dinheiro para isso, agora, não falta. Pelo negócio, os sócios da Universa receberão R$ 440 milhões à vista e R$ 250 milhões em ações do BTG Pactual. Além disso, em até quatro anos, se atingirem as metas operacionais e financeiras estabelecidas, terão um earn-out que pode fazer o negócio atingir mais de R$ 2 bilhões.

Os últimos dias foram intensos para Miranda e seus sócios. “Pensando como analista, esse deal foi muito bem construído. Para a gente, demorou uma eternidade, mas M&A é assim mesmo. O BTG foi muito duro na negociação, mas leal”, afirmou Miranda na tarde de ontem, dia em que o BTG anunciou o negócio em fato relevante.

Aos 36 anos, milionário, Miranda poderia, enfim, relaxar. Mas, mal deu tempo de respirar, ele já está pensando no próximo passo. “Tenho que ir atrás desse earn-out. Agora estou preocupado com isso”, diz ele, que continuará sendo a cara da casa de análise com mais de 425 mil assinantes.

Mas, se for chamado para compor a linha de frente do BTG Pactual na guerra que está tomando conta do mercado financeiro, Miranda diz que está a postos. “Agora sou sócio do banco. Se o Esteves me chamar para colaborar com ele, no business do BTG, fora da Empiricus, estou disposto a ser soldado do banco.”

Na entrevista que segue, Miranda falou sobre a relação com o BTG, como o negócio foi se desenrolando, o futuro da operação, a admiração por André Esteves e o ganho de escala que o BTG proporcionará para a Empiricus.

Ele também comentou sobre as polêmicas do passado envolvendo o seu nome e a casa de análise e revelou que está em análise a mudança de nome da Vitreo para Empiricus Investimentos. “No segmento B2C, a Empiricus é a marca mais forte do mercado financeiro depois da XP”, afirma. Acompanhe:

Como foi esse namoro com o BTG Pactual?
Existe esse mito do Pactual sobre mim. Meu pai também era do mercado e o banco Pactual e o banco Garantia eram assuntos frequentes lá em casa. Sempre foi uma referência para mim. A relação com o BTG Pactual começou, em 2017, quando a gente alugou o escritório que é de um fundo imobiliário deles. O Sallouti (Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual) e o Flora (Marcelo Flora, sócio responsável pelo BTG Digital) chamaram a gente para almoçar e na saída do almoço eu disse para o Caio (Caio Mesquita, CEO da Empiricus) que eles tinham tudo a ver com a gente. Desconfiava que algum dia poderia ter uma parceria operacional ou até estratégica.

Como isso evoluiu?
Durante esse período, continuei conversando com o Flora e um dia ele me chamou para conversar com o Esteves. Quando fui falar com o Esteves, imediatamente me encantei. Desenvolvi por ele uma admiração e um respeito muito grandes. Quando eu tive a ideia da Vitreo, conversamos sobre a hipótese de fazer um white label com o BTG Pactual.

E, na época, não andou?
Eu disse que queria ter o equity dessa história. E, humildemente, acho que não estávamos prontos para uma parceria com o BTG Pactual naquele momento. Tínhamos nossas próprias questões societárias, reputacionais e regulatórias. Mas fomos mantendo uma relação de muita cordialidade e fui mostrando para ele que estava conseguindo executar o meu plano. Aquela ideia inicial de fazer uma parceria passou por momentos em que aquecia e outros em que esfriava, mas nunca morreu.

“Quando fui falar com o Esteves, imediatamente me encantei. Desenvolvi por ele uma admiração e um respeito muito grandes”

Mas e a parte do deal com a Universa?
Quando construímos a parte societária e regulatória e com a percepção institucional da Empiricus melhorando como autoridade nos últimos três anos, decidimos buscar um sócio. Aí, contratamos o Lazard e fomos atrás de um sócio minoritário, que comprasse entre 20% e 30%, nos desse mais governança e nos colocasse na rota do IPO.

O que mudou nesse plano?
O que mudou foi uma conversa com o Esteves. Ele me chamou para conversar e disse para irmos para lá, fazer o que quiséssemos, usar o banco do jeito que a gente quisesse. E ainda disse que a gente ia ter capital, apoio institucional e o arsenal do banco para os clientes. Se quisermos banking as a service, vamos ter; se quisermos fazer cartão Empiricus, vamos ter. Eu pensei: ‘putz, isso me antecipa quatro anos, estou com os melhores caras do Brasil, é um cara que eu gosto e que, aparentemente, também gosta de mim’.

Como ocorreu essa conversa?
O BTG foi abordado para uma transação minoritária, como outros bancos foram. Mas, quando começamos a conversar, eles disseram que 20% a 30% não fazia sentido. Eles nos chamaram para ir para lá e continuarmos independentes. Mas não é porque ele é bonzinho. É porque ele já tem pessoas fazendo do jeito dele. Ele está comprando a gente porque gosta do nosso jeito e, para ele, é uma diversificação de estratégia. Para mim, palavra de banqueiro vale e a minha sempre valeu. Quando ele combinou isso olhando para os meus olhos, para mim já bastava. Mas está garantido em contrato que qualquer violação da nossa independência antecipa o earn-out.

“No segmento B2C, a Empiricus é a marca mais forte do mercado financeiro depois da XP”

Mas o BTG disse que, com vocês, eles querem impulsionar a operação de varejo deles…
Acho que sim. No segmento B2C, a Empiricus é a marca mais forte do mercado financeiro depois da XP. Mas nós somos eles (BTG) agora. Impulsionar o varejo deles é por meio da gente. Agora sou sócio do banco. Se o Esteves me chamar para colaborar com eles, no business do BTG, fora da Empiricus, estou disposto a ser soldado do banco.

Como será a Empiricus daqui para frente, com o BTG?
Primeiro, dá uma catapultada. E tem outros componentes na história como ter capital, reputação, relacionamento institucional e ter o banco a nossa disposição, que foi o combinado. ‘Quer ter um link na bolsa e tirar o link da Vitreo? Reduzir custo e o peso tecnológico? Está aqui’. Toda a tecnologia do BTG estará a nossa disposição.

Mas imagino que o BTG comprou vocês visando capturar sinergias, não?
Imagino que sim e estamos abertos a isso. Adoraria ter um cartão BTG+ white label Empiricus. Agora é tudo deles. Saiu um FIP de infraestrutura? Pega um naco e separa para a Vitreo. Como posso melhorar a conversão dos e-mails do BTG Digital? Estou à disposição. Como faz newsletter? Estou à disposição. Quer conversar sobre a Exame? Estou à disposição. Essa história vai existir, mas não está escrita ainda. A gente tem um compromisso de continuarmos independentes e nos ajudarmos.

E MoneyTimes e SeuDinheiro, como ficam?
Nós continuaremos comandando.

E o BTG vai pagar anúncio de publicidade?
Claro que vai! Tenho earn-out para bater aqui, pode ter desconto, mas vai continuar pagando.

Você sempre falou que os modelos da XP e do BTG Digital eram o 2.0 e o seu era o 3.0, que seria vencedor. Como fica isso?
Acho que fica igual. Só mudou o equity, de quem é dono dessa história. Tenho meus earn-outs, ação do BTG e bônus para receber. Agora, o que sobra de lucro vai ser do novo dono dessa história, que é o BTG. Mas o modelo tem de continuar igual. Não sabemos se o modelo vai ser o vencedor ou não, é uma opinião que eu tenho e tem uma probabilidade de eu estar certo. O que o Esteves está comprando é essa probabilidade. E se for a terceira via? Uma vez eu o encontrei e disse: ‘Só fico chateado de você não ter percebido que eu sou a solução para você. Você está fazendo a XP linha e vai conseguir chegar. Mas não dá para fazer uma alternativa?’. Foi isso o que ele fez. Continua pegando os agentes autônomos de um lado, tocando de uma forma melhor, com mais governança, com gente melhor e todos os produtos bancários do investment banking por trás e, agora, põe uma outra estratégia para correr aqui do lado.

“Não sabemos se o modelo vai ser o vencedor ou não, é uma opinião que eu tenho e tem uma probabilidade de eu estar certo. O que o Esteves está comprando é essa probabilidade

Qual é a diferença do modelo 2.0 para o 3.0?
No modelo 2.0, o cliente interage com o agente autônomo. Qual é a natureza de um agente autônomo? É um vendedor de produto. Isso mancha a relação. O cara que vai orientar os seus investimentos é o vendedor dos investimentos. Por isso que existe a figura do personal stylist e a do vendedor. O vendedor não pode ser o consultor. Essas figuras têm de ser separadas. A interação na Empiricus é com o analista. No modelo 2.0, é com o vendedor.

Entrando no BTG não há conflito de interesse?
Mas já não tinha com a Vitreo? Precisa ver onde está a essência do conflito. O conflito não é estar associado a uma corretora. A origem do conflito é se você ganha diferente em cada produto. Se eu ganho dez na tampinha e dez na garrafa, tanto faz eu recomendar a tampinha ou a garrafa. Agora, se eu ganhar dez e vinte, aí dá problema.

Os sócios da Vitreo estão saindo da operação. O que muda?
Não muda nada, o que pode mudar ao longo do tempo é se a Vitreo vai continuar sendo Vitreo ou se a gente vai para uma marca só chamada Empiricus Investimentos. Isso está sob análise.

Você tomou muita porrada nos últimos anos e já assumiu que errou em casos polêmicos. O que diria para quem “bateu” em você?
Não guardo mágoas. Entendo que era um modelo novo, tínhamos uma linguagem diferente, percebida como agressiva, e reforcei esse estereótipo. Acho que as pessoas poderiam ter sido mais abertas, me conhecido um pouco melhor. Mesmo as pessoas que me criticaram, gostaria que elas conhecessem a Empiricus. Hoje, recebi centenas de e-mails com pessoas me dando parabéns, dizendo que a gente mudou a vida delas. Eu li matérias no jornal e dizia para mim mesmo: ‘cara, esse não sou eu e não é isso o que estou fazendo’. Gostaria que essas pessoas conhecessem o que a Empiricus faz nas vidas de outras pessoas. Mas sem heroísmo, porque errei pra caramba.

Quais foram os principais erros?
O caso da cabeçada (Em um evento do Credit Suisse, em 2017, Felipe Miranda deu uma cabeçada em Tiago Reis, da Suno Research) e da Bettina (Em 2019, a influenciadora da Empiricus gravou um vídeo no qual dizia que havia transformado R$ 1,5 mil em R$ 1 milhão). Só que, no final do dia, a Empiricus fez bem para as pessoas e fico triste que isso nunca tenha aparecido. A Empiricus é um fenômeno social, são 425 mil pessoas que seguem. E pessoas são famílias.

A pergunta é um clichê, mas é necessária. Hoje, todo mundo fala de sonho grande. Quando você começou, imaginou chegar aonde chegou hoje?
É importante fazer um registro histórico. Sonho grande é um termo do 3G e precisa ficar registrado a quem pertence esse termo. Algumas pessoas tentaram se apropriar dessa expressão. Mas eu me lembro quando estávamos no processo de constituição da Empiricus e eu dizia: ‘se a gente faturar uns R$ 500 mil por mês, pagamos imposto e dá R$ 100 mil para cada um’. Hoje, vendemos R$ 500 mil numa manhã. Nunca imaginei isso. Mas sou um cara do dia a dia, barriga no balcão. Agora, temos um earn-out para construir.

Quando embolsar esse earn-out, você vai sair da operação?
Sou o Felipe Miranda, da Empiricus. Não sei fazer mais nada, não me vejo fora, não vejo razões para sair.

Agora você será chamado de Felipe Miranda, do BTG?
Não, a Empiricus continua existindo dentro do BTG e vai ser uma marca relevante dentro do BTG. Quero que o meu assinante olhe para mim e diga que a operação foi boa e que o André Esteves olhe e também diga que foi boa.

Fonte: NeoFeed