‘Educação financeira é a nova paleta mexicana’, diz Felipe Miranda, da Empiricus
Oferta de serviços cresceu demais, dificultando a vida de quem busca auxílio para aportar suas economias e possui pouca informação sobre a procedência deles
Por: Equipe Empiricus
Por: Matheus Prado
Felipe Miranda, estrategista-chefe da casa de análise Empiricus, está preocupado. Não com o mercado em si, que tem ciclos naturais de subidas e quedas, mas sim com os investidores que entraram em 2020 e só ganharam até agora. O gestor teme que, quando algum tombo eventualmente vier, o estrago seja grande.
A verdade é que, em menos de um ano, o número de CPFs cadastrados na B3 mais que dobrou e superou a simbólica marca de 3 milhões. Além disso, e desde as mínimas de março de 2020, o Ibovespa só sabe subir, salvo breves momentos de realização de lucros e períodos de instabilidade. E isso faz o investidor se sentir invencível.
“Minha grande preocupação é que os investidores pessoa física que começaram agora façam um exercício de humildade”, diz o gestor, que lançou o livro “Princípios do Estrategista: O Bom Investidor e o Caminho Para a Riqueza em 2020”. “Se nós, [profissionais de meio] que vivemos disso, erramos toda hora, será que eles realmente conseguem fazer tudo sozinhos? Esse excesso de confiança é alarmante.”
Ele diz que existe um imediatismo, traduzido em vontade de ganhar dinheiro rápido, que pode prejudicar os novos entrantes, já que, no final das contas, o mercado não é de fácil leitura. “Muitas vezes, é melhor pagar por um serviço profissional do que investir sozinho e perder patrimônio.”
Apesar disso, também afirma que a culpa precisa ser compartilhada com o próprio mercado. A oferta de serviços cresceu em demasia, para o bem e para o mal, dificultando a vida de quem busca auxílio para aportar suas economias e possui pouca informação sobre a procedência deles.
Educação financeira se tornou a nova paleteria mexicana, o novo coaching. Está difícil separar as coisas boas das ruins porque há muito marketing e assimetria de informação. Mas o investidor deve buscar referências. Com quem aquela pessoa trabalhou? Alguém relevante investe com ela? É regulado?
Felipe Miranda, estrategista chege da Empiricus
Nessa linha, o gestor até faz um mea culpa. Questionado se a Empiricus resolveu adotar uma abordagem publicitária “mais light” após se envolver em uma série de polêmicas, ele afirma que sim. Entende, apesar disso, que os produtos oferecidos pela casa nunca foram questionados, somente as propagandas agressivas.
No fim das contas, ele afirma que cada classe tem, de maneira geral, interesses bem estabelecidos. “Bancos querem cobrar taxas, agentes autônomos querem vender. Alguns youtubers podem até ter maldade, mas às vezes o cara só ganhou sem saber como e acha que já consegue ensinar outras pessoas”, diz.
Essa forte presença de conteúdos e gurus na internet gera outra preocupação do mercado, corroborada pelo executivo. Em que ponto uma manifestação de um influenciador nas redes sociais sobre um ativo, seja ela positiva ou negativa, deixa de ser liberdade de expressão e passa a ser recomendação?
“Primeiramente é preciso ter claro que, por definição, a regulamentação é defasada em relação ao mercado. Os processos se desenvolvem primeiro, depois os órgãos reguladores correm atrás. E a CVM já publicou ofício atentando para essas práticas. Então, o recado está dado”, diz.
“Mas precisamos ficar atentos, porque, se a liberdade de expressão avança demais, corremos o risco de dar espaço para que haja manipulação do mercado através de ‘front running’. O que eu tenho defendido é que, se o influenciador é relevante, deve ficar proibido de negociar certo papel após falar sobre ele nas redes.”
(Front running ocorre quando um operador “prevê” uma movimentação que será realizada pelo mercado ou seu público em determinado ativo e realiza essa transação primeiro para lucrar com o impacto gerado pelo fluxo que ocorrerá em seguida.)
Fintwit
Ainda nessa linha de influência nas redes sociais, Felipe tem ressalvas em relação à atuação de agentes do mercado financeiro no Twitter, nicho apelidado de ‘fintwit’. Henrique Bredda, gestor do fundo Alaska e entusiasta da rede até o ano passado, por exemplo, decidiu deixar a plataforma de lado por uns tempos.
“Estar ali é uma decisão de foro íntimo, cada um sabe onde o calo aperta. Mas fico com a impressão de que a rede é pouco relevante para ditar tendências de mercado e, ao mesmo tempo, faz com que os gestores fiquem escravos das próprias opiniões, sendo que o ambiente muda o tempo todo”, diz Miranda.
Fonte: CNN Brasil