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Ativos descontados e aperto monetário global: veja por que é o momento de ganhar investindo no Brasil
Matheus Spiess, analista financeiro da Empiricus, explica quais os fatores que levaram à valorização da bolsa brasileira e por que é um bom momento para investir nela
Ao longo dos três primeiros meses do ano, a Bolsa brasileira tem tido um desempenho melhor que a de seus vizinhos latino-americanos e até mesmo que as americanas, principalmente quando analisada em dólar. O Ibovespa passa por essa curva de crescimento em um momento em que muitos índices têm quedas, como S&P 500 e Nasdaq.
Os motivos podem estar associados a alguns fatores, e o analista da Empiricus Matheus Spiess fala sobre eles, elucidando por que é um momento interessante para investir no Ibovespa e comentando as perspectivas futuras.
Contextualizando: quais os fatores que ocasionaram a virada do Ibovespa
Expandindo a análise para os últimos 10 anos, a bolsa brasileira apresentou um crescimento em reais. No entanto, em dólar, o Ibovespa não se recuperou tanto e manteve um movimento de queda.
Agora, o cenário muda de forma, partindo dessa realidade para uma fonte de investimento atrativa. “O final de 2021 foi muito difícil para ativos brasileiros”, destaca Spiess. Ele explica, então, o que levou esses ativos a se tornarem tão baratos, sendo que já vinham sendo descontados em dólar antes.
O primeiro fator a ser citado é que o Brasil rompeu o teto de gastos. Matheus explica: “O teto de gastos públicos era vital para que conseguíssemos ancorar as expectativas em termos de credibilidade para o governo. Sem isso, não podemos ter a certeza de que o governo honrará seus compromissos de longo prazo”.
Spiess complementa, ainda, que o teto era importante para gerar estabilidade na curva de juros. Ele explica que, ao esgarçar essa curva, a situação ficou instável e, com isso, prejudicou-se a previsibilidade dos agentes para com os próprios ativos de risco que balizam seu valor por meio da curva de juros.
Em termos práticos, o rompimento do teto de gastos fez com que a bolsa, que estava a 130 mil pontos em reais no meio do ano passado, caísse para 100 mil pontos este ano. “30 mil pontos em um semestre é muito relevante. É uma perda de mais de 20%, levando o Brasil a entrar em bear market”, afirma Spiess.
O segundo motivo a ser considerado é o ruído político-institucional. “Os atritos entre poderes geraram uma instabilidade adicional desnecessária para aquele momento. Isso também afastou investidores estrangeiros, uma fonte importante de valor no Brasil, até por conta da falta de recursos locais”, enfatiza o analista.
Ainda nesse contexto, tem-se como agravante a antecipação da discussão eleitoral. “Historicamente, nós começamos a precificar a eleição no próprio ano em que ela acontece, em geral no final do primeiro trimestre. Mas essa discussão foi antecipada, por conta da polarização no país, e isso recaiu sobre o preço”, conta Spiess.
Além desses, outro fator está relacionado com a elevação da taxa básica de juros no ano passado. “Ao elevar a taxa de juros para combater a inflação, a economia é desestimulada. Esse processo de aperto monetário somado à estagnação na economia gerou o que chamamos de estagflação, um cenário muito ruim para a economia brasileira como um todo”.
Ainda nesse sentido, Spiess ressalta: “Quando a Selic foi elevada, gerou-se uma instabilidade, e não se sabia quando o ciclo de aperto ia terminar. Isso gerou problemas na taxa de desconto dos valuations das empresas e provocou um sell-off, ou seja, um movimento de venda dos ativos”.
Ele avalia: “Esse conjunto de fatores explica a situação ruim em que entramos em 2022 e por que os ativos estavam tão baratos. Isso aconteceu porque as pessoas venderam esses ativos, tornando-os bons a longo prazo, embora a situação vigente provoque um movimento de venda”.
Depois de tudo isso, o que podemos esperar para 2022?
Enquanto o Brasil estava apertando a política monetária no ano passado, outros países ao redor do mundo, apesar dos sinais de inflação, mantiveram as políticas estimulativas e flexíveis da pandemia. Logo, o Brasil se posicionou à frente deles nesse movimento que seria inevitável após a pandemia, já que, durante esse período, os juros atingiram um patamar mínimo.
“Essa instabilidade dos ativos brasileiros também vai acontecer lá fora. Enquanto os países desenvolvidos, com destaque para os Estados Unidos, discutem o aperto monetário, nós estamos concluindo o nosso”, destaca Spiess.
Ele complementa, ainda: “O fato de estarmos no final do processo de aperto nos coloca em uma posição privilegiada quanto à previsibilidade. A partir do momento em que chegamos no final desse ciclo, já podemos começar a discutir a queda da taxa de juros, ainda que seja no final deste ano”.
A queda da taxa de juros, por sua vez, é acompanhada por uma expansão de múltiplos. “As empresas começam a valer mais. Os ativos tão descontados anteriormente começam a ser atrativos”, explica Spiess.
Além disso, no processo de aperto monetário, as empresas de tecnologia americanas, que foram tão procuradas nos últimos 10 anos, começam a não ser mais tão atrativas. “Quando a taxa de juros sobe, ocorre um processo de rotação setorial”, afirma o analista.
Nesse contexto, pensando nos Estados Unidos, a renda fixa ainda não é uma boa opção, pois, apesar do aumento, a taxa de juros permanece relativamente baixa. Com a inflação descontada, essa renda chega a ser negativa.
“Não é atrativo ir para a renda fixa, nem ficar em ações. Então, o investidor vai vender suas ações que estão associadas com o futuro, porque o valor de uma empresa hoje é o que ela vai gerar de caixa, de hoje até o infinito, trazido ao valor presente”, explica.
Diante da atratividade da bolsa brasileira, onde investir agora?
Olhando para o Brasil, 50% do Ibovespa é formado por bancos e commodities. Matheus explica: “O Brasil tem predominância dos setores que mais se beneficiam desse movimento. Se os recursos migram do mais caro para o mais barato, eles naturalmente vão para esses setores tradicionais”.
Sobre o setor das commodities, Matheus reitera: “Desde a primeira década do século XXI, o Brasil se beneficiou das commodities, e agora não é diferente. Em um mundo de mais inflação, esse ciclo deverá ser positivo para o país”.
“Mesmo com a alta do primeiro trimestre, ainda estamos bem descontados”, finaliza Spiess. Ele conclui: “Agora é um momento interessante para investir na bolsa brasileira. Os riscos estão bem precificados, os ativos descontados e as possibilidades são muitas. A volatilidade sempre vai existir, mas, agora, tudo aponta para uma bolsa mais barata”.
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Sobre o autor
Melissa Bumaschny Charchat