Finalmente chegamos ao fim desse tenebroso primeiro semestre de 2021.
Por aqui, depois do voo de galinha do início do ano, o Ibovespa acumulou uma perda de 5,99%.
Lá fora, as bolsas americanas registraram uma queda para entrar para a história, com o S&P 500 desvalorizando-se 21% nos seis primeiros meses do ano – a maior perda para esse período desde 1970.
Com o Fed deixando cada vez mais claro que fará tudo o que for preciso (“whatever it takes”) para controlar a inflação, aumentam as apostas de que não haverá escapatória de uma desaceleração econômica por conta de um agressivo aperto monetário.
De fato, já começamos a observar os indicadores da economia americana mostrando fraqueza, com os gastos do consumidor caindo pela primeira vez neste ano.
Enquanto escrevo esta newsletter, o site da Bloomberg anuncia que junho teve o pior índice da atividade manufatureira nos Estados Unidos desde maio de 2020, período crítico da primeira onda do Covid.
Também leio que o Banco JP Morgan reduziu sua projeção de crescimento para a economia americana a níveis “perigosamente próximos” de uma recessão.
Para piorar, há dúvidas sobre a efetividade de taxas de juros mais altas no combate ao aumento dos preços, já que muitos analistas defendem que o problema não está na demanda e sim na oferta de produtos e serviços.
O fantasma da estagflação, a perversa combinação de baixo crescimento com preços em elevação, é a kriptonita dos mercados de capitais.
Na busca por algum alento, esperançosos buscam no passado alguma indicação de um futuro melhor.
Em 1970, o S&P 500 subiu 27% no segundo semestre, após ter caído os mesmos 21% na sua primeira metade. Em 2020, a bolsa americana também caiu no primeiro semestre para depois subir 21% até o fim do ano.
Quando ampliamos a amostra, infelizmente não conseguimos extrair uma indicação mais firme de uma recuperação rápida. Desde 1957, em apenas metade das vezes em que o índice bursátil americano caiu na primeira metade do ano, houve valorização na segunda parte.
Enquanto que o atual bear market já cumpriu parte de sua missão ao ajustar os múltiplos à sua média histórica de 15x lucros correntes, analistas temem que uma segunda correção seja necessária por conta de uma revisão para baixo nos lucros corporativos, dada a crescente frouxidão econômica.
Do lado de cá, o cenário para a nossa bolsa tem sido desolador.
Apesar de estarmos mais adiantados no ciclo do aperto monetário, ainda não há convicção quanto ao controle da inflação, especialmente diante de uma maior leniência fiscal por parte do Governo Federal.
A PEC dos Combustíveis, recém-aprovada no Senado e agora encaminhada à Câmara, traz um custo total de mais de R$ 41 bilhões fora do teto.
Com os juros nas alturas, e gringo ainda lambendo as feridas, simplesmente não há comprador marginal para a bolsa brasileira. E assim o barato consegue ficar ainda mais barato.
Apesar dos níveis atuais extremamente descontados, com múltiplos de negociação comparáveis aos piores momentos de nossa história, a bolsa brasileira conseguiu ter seu pior desempenho para um mês de junho desde 2002, além de ter tido a maior queda mensal desde março de 2020, início da pandemia.
Não consigo me animar com nossas perspectivas de curto prazo.
O segundo semestre traz ao palco a corrida eleitoral monopolizando nossas atenções. Com os dois candidatos favoritos enfatizando plataformas populistas para angariar votos, fica difícil projetar um cenário mais amistoso aos investimentos de risco.
Encerro aqui convidando você para acompanhar a Semana da Renda Fixa que a Vitreo preparou, com as ofertas cuidadosamente selecionadas pelo Gabriel Mallet, nosso head de renda fixa.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço