A imagem sempre me impressiona.
O jogador profissional de golfe se aproxima do chamado “tee”, ponto inicial de cada buraco.
Após colocar a pequena bola sobre um apoio que a eleva a poucos centímetros do solo, o jogador toma a posição adequada, frontal à bola e lateral ao alvo.
Após alguns segundos de mentalização, revezando seu olhar entre a bola e o campo à sua frente, o jogador inicia o movimento.
Com os braços esticados, torce o troco e o quadril, elevando o taco em uma trajetória circular, até que a cabeça do taco, sobre os ombros do jogador, esteja apontando para o destino da bola.
Aí, com a força de mola descomprimida, toda a energia potencial acumulada é liberada com a reversão do movimento.
Ao passar por sua posição original, o taco atinge a bola a cerca de 200 km/h. O impulso aplicado transforma a pequena esfera branca em um projétil.
O projétil termina caindo ao solo cerca de trezentos metros adiante (estou falando de um jogador profissional), de onde o esportista fará a próxima tacada.
O movimento acima descrito, de formidável técnica, exige absoluta precisão. Qualquer desvio milimétrico na direção do taco tem impacto direto na trajetória da bola, transformando o que seria uma bela tacada em um fracasso retumbante.
Se for atingida pela parte inferior da cabeça do taco, a bola não sobe, e sai rastejando. Por outro lado, se pegar na parte superior, a bola sobe demais, perdendo distância.
Ademais, o plano da cabeça do taco precisa estar rigorosamente perpendicular à bola. Caso contrário, o taco faz com que a bola passe a girar no seu próprio eixo, fazendo com que ela “abra” ou “feche” sua trajetória, consequentemente afastando-a do alvo almejado.
O que realmente me impressiona, porém, são as circunstâncias envolvidas na jogada.
Especialmente nos grandes torneios, ainda mais no caso dos jogadores mais populares, os jogadores são praticamente cercados pela torcida no momento da tacada.
Formando uma espécie de corredor polonês, dezenas ou mesmo centenas de pessoas se perfilam, formando um estreito caminho onde o jogador deve direcionar sua tacada.
É verdade que os espectadores comportam-se impecavelmente, silenciando-se completamente assim que o jogador se posiciona para a jogada.
Assim mesmo, a situação é desafiadora demais.
Já tentou realizar alguma tarefa delicada, sendo observado de perto por outra pessoa?
Agora imagina fazer um movimento que requer níveis extremos de técnica e precisão acompanhado não por um, mas por centenas de pares de olhos. Complicado demais!
Tiger Woods cercado por seus fãs
Felizmente para eles, jogadores profissionais, o peso dos observadores parece não afetá-los. Pelo contrário, muitos alegam ter melhor performance com “casa cheia” do que quando jogam sem torcedores.
De fato, acostumados e treinados para conviver com esse tipo de situação desde pequenos, os profissionais dos grandes esportes competitivos aprendem não só a resistir a esse tipo de pressão, como também a usá-la a seu favor.
Quando iniciei minha vida como empreendedor, depois de uma carreira em bancos de investimentos, tive imensa dificuldade em me adaptar à pressão de liderar um novo negócio.
Toda a experiência acumulada por anos de trabalho no mercado financeiro, com seu conhecido nível de estresse, não havia me preparado para uma pressão de outra natureza, a luta pela sobrevivência de uma empresa iniciante.
As noites eram especialmente difíceis de atravessar. Havia investido no novo negócio boa parte do capital pessoal que acumulei trabalhando como executivo. Dormia pouco e mal, assombrado pelo espectro do fracasso.
A falta de sono prejudicava minha produtividade durante o dia, formando um perigoso círculo vicioso.
Resolvi procurar e encontrei ajuda em um médico psiquiatra especializado em situações de estresse profissional.
Entendi a importância de aprender a conviver com novas situações e desafios, lidando com a ansiedade de enfrentar o desconhecido.
Sobre o sono, a medicação prescrita garantiu o necessário descanso para enfrentar e lidar com as adversidades inerentes à atividade empreendedora.
Para muitos brasileiros que passaram a investir em ativos de risco recentemente, a performance negativa em suas carteiras, decorrente do atual bear market, fez com eles tivessem perdas em seus investimentos pela primeira vez em suas vidas.
Alguns investidores novatos mais afoitos sucumbem à pressão da volatilidade, jogando a toalha e realizando perdas no pior momento de mercado.
É preciso lembrar sempre contudo, e como repete Felipe Miranda em seu canal do Telegram, “o problema da renda variável é que ela varia”.
Assim como golfistas profissionais aprendem a exercer sua técnica sob a pressão dos olhares de espectadores, investidores experientes terminam desenvolvendo a resiliência para suportar perdas, mantendo clareza de pensamento e capacidade de execução.
Encerro lembrando Ernest Hemingway: “Coragem é dignidade sob pressão”.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço.