Mercado em 5 minutos

O que a queda de um símbolo nos mostra sobre o momento atual?

“Lá fora, os mercados asiáticos subiram nesta sexta-feira (9), acompanhando o desempenho saudável em Wall Street, ainda que os investidores continuem […]”.

Por Matheus Spiess

09 set 2022, 09:15 - atualizado em 09 set 2022, 09:15

Reunião de 5 minutos
Fonte: Free Pik
Bom dia, pessoal.

Lá fora, os mercados asiáticos subiram nesta sexta-feira (9), acompanhando o desempenho saudável em Wall Street, ainda que os investidores continuem precificando mais aumentos nas taxas de juros com o objetivo de domar a inflação descontrolada – os dados de inflação chinesa abrem espaço para mais estímulos, o que é animador.

Na Europa, os mercados abrem em alta, apesar da chuva de crises sobre o continente. Os futuros americanos também apresentam bom desempenho. Este clima mais confiante se reflete também em uma queda do dólar, que subiu nas últimas semanas em relação aos seus principais pares devido à inclinação do Fed para uma política rígida.

A ver…
00:39 — Dia de inflação ao consumidor 
Hoje, o mercado local estará de olho no índice oficial de preços do IBGE, o IPCA. O indicador de agosto deverá trazer mais uma deflação, desta vez de 0,39% na comparação mensal (em julho, o índice caiu 0,68%). Não podemos nos enganar, entretanto, com o movimento do IPCA cheio.

Vale observar o núcleo, que exclui os itens mais voláteis, e a dispersão, que devem indicar ainda patamares de preços problemáticos. Tanto é verdade que o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou tom mais contracionista em suas últimas falas. Mais 25 pontos-base no próximo Copom é provável.

No ambiente político, depois do Dia da Independência ter trazido um bom presságio sobre a inclinação ao centro do discurso dos principais candidatos (não haverá violência), contamos esta noite com a pesquisa Datafolha. Se trata da primeira reação depois das manifestações do feriado, podendo trazer continuidade do movimento de achatamento da diferença entre os favoritos.
Previdência

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 01:48 — Um tom agressivo já é esperado 
As ações voltaram a subir no exterior, embora o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, tenha dado aos investidores ainda mais motivos para se preocupar com um banco central agressivo. Em sua fala ontem, Powell deixou claro que o banco central está comprometido em combater a inflação e permanecer agressivo até voltar à meta de 2%, o que pode estar bem distante (levar de 8% para 5% é uma coisa e de 5% para 2% é outra bem diferente – não podemos fazer o segundo gol sem ter feito o primeiro).

No final, a história adverte contra o afrouxamento prematuro da política monetária, o que justificaria a manutenção do discurso mais duro, que deverá ser confirmado por membros do Fed que falam hoje ao longo do dia. Com uma alta de 75 pontos-base já bem precificada para a próxima reunião, resta saber os passos para a política monetária na sequência. Para isso, os dados de inflação ao consumidor americano da semana que vem serão vitais. Com eles, o mercado conseguirá trabalhar melhor as expectativas.
02:32 – Uma Zona do Euro contracionista
Como esperado, o Banco Central Europeu subiu em 75 pontos-base a sua taxa de juros, tendo sido a maior alta dos juros em 24 anos de história da instituição e colocando a taxa de juros em 0,75% ao ano. O movimento mais contracionista pela autoridade monetária não era visto em mais de uma década, o que traz certa preocupação sobre as consequências — todos temem uma nova Crise da Dívida.

Com o aperto, o euro se fortaleceu um pouco, apesar de alguns sinais terem sido dados quanto a uma duração relativamente limitada do aperto das políticas. Diferentemente do Fed, o BCE tem menos margem para atuação por conta das características das economias do bloco econômico; afinal, há um “trade off” entre preservar crescimento e controlar a inflação. Controlar os preços a qualquer custo pode sair caro.
03:25 — God Save The Queen,
Long Live The King
Não se trata de um efeito sobre o mercado no curto prazo, mas o dia de ontem reflete um pouco o momento que vivemos, uma vez que a morte da Rainha Elizabeth II marca não só o fim do segundo período elisabetano para os britânicos, mas também a queda de um dos mais icônicos símbolos de estabilidade das últimas décadas.

A monarca mais longeva do Reino Unido nasceu no final da segunda revolução industrial, no pós-guerra, e reinou durante a terceira e os primeiros anos da quarta revolução industrial, um período no qual o mundo e os mercados financeiros mudaram muitas vezes.

Os últimos anos nos mostraram como o mundo carece de liderança e estabilidade em um momento de alta volatilidade. Muitos estão dando nome ao processo atual: pós-história, fim do fim da história, ciclo pós-moderno. Escolha seu nome predileto. O que podemos dizer apenas é que a próxima década será muito diferente da última.
04:19 – A inflação chinesa
Durante a noite de ontem (para nós), a China divulgou a inflação ao produtor e ao consumidor, com as duas tendo vindo abaixo do esperado. Enquanto o índice do produtor subiu 2,3% na comparação anual, o indicador do consumidor avançou 2,5%. A desaceleração frente ao mês passado, apesar de sinalizar fraqueza da atividade, possibilita margem para mais estímulos monetários e fiscais.

Já se percebe pouca robustez na demanda do consumidor doméstico chinês. Enquanto os consumidores americanos e europeus estão dispostos a usar as suas economias para sustentar o próprio consumo, os chineses tendem a acumular recursos como precaução contra as medidas da política de “zero Covid”. A incerteza sobre o crescimento do gigante asiático deve afetar a economia global nos próximos anos.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.