Mercado em 5 minutos

Os últimos cinco pregões antes das eleições

“Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em queda nesta segunda-feira (26), seguindo as indicações negativas dos mercados globais na semana […]”.

Por Matheus Spiess

26 set 2022, 09:49 - atualizado em 26 set 2022, 09:50

Eleições 2022
Fonte: Free Pik
Bom dia, pessoal.

Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em queda nesta segunda-feira (26), seguindo as indicações negativas dos mercados globais na semana passada, com os investidores continuando preocupados com o fato de que o aperto monetário agressivo dos bancos centrais para combater a inflação elevada levará a economia global a uma recessão — o aumento do custo dos empréstimos domésticos reduz a demanda econômica, gerando recessão e prejudicando os lucros das empresas.

Internacionalmente, a temporada de resultados do terceiro trimestre lentamente se aproxima, marcada para começar em meados de outubro. Os futuros americanos e os mercados europeus caem nesta manhã, na expectativa para alguns dados econômicos americanos, como a medida de inflação preferida do Federal Reserve. Há volatilidade política no ar, com a vitória da direita italiana, a polêmica no novo “miniorçamento” britânico e a proximidade das eleições brasileiras.

A ver…
00:40 — O ambiente político brasileiro no centro do debate
Os próximos dias serão impactantes, principalmente por conta da chegada das eleições gerais brasileiras. Quanto mais perto chegamos, mais as pesquisas devem ser importantes (teremos algumas nos próximos dias). Além das pesquisas, contamos também com o último debate presidencial na Globo, marcado para quinta-feira (29). 

Com o contexto político já bastante consolidado há vários meses, poucas mudanças drásticas devem ocorrer, nos levando para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Por isso, vale lembrarmos também da agenda de dados econômicos, que não é menos relevante, com prévia da inflação oficial, o IPCA-15 (terça-feira), a ata do Copom (terça-feira) e o Relatório Trimestral de Inflação (quinta-feira).
01:12 — A medida favorita do Fed
Nos EUA, os investidores prestam atenção nos próximos dias pela medida predileta sobre a inflação do Federal Reserve, o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), marcado para a sexta-feira. Em caso de aceleração da inflação ou número piores do que o esperado, podemos voltar a ver os mercados americanos renovando as mínimas. 

Aliás, na semana passada, o S&P 500 flertou com a faixa de 3.600 pontos, bem abaixo da sua máxima de 3 de janeiro de 4.796,56. Dessa vez, porém, ninguém espera que o Fed venha em socorro dos mercados. O fim da “Fed put” coloca pressão adicional sobre os mercados, uma vez que a política monetária deverá continuar sendo contracionista (elevação de juros e redução do balanço de ativos). 

Fora o PCE, também contamos com a segunda leitura do PIB dos EUA, o relatório de bens duráveis de agosto e o índice de confiança do consumidor de setembro. Todos esses dados são relevantes e devem ter efeito sobre a curva de juros americana. Independentemente, a volatilidade sobre os yields devem voltar a pressionar os valuations, assim como temos observado desde o início de 2022. 
02:10 — O problema britânico
A libra esterlina alcançou sua mínima histórica nesta manhã, caindo brevemente mais de 4%, para US$ 1,0382 (nem em 1985 foi tão ruim). Apesar da ligeira recuperação na sequência, o movimento é fruto não só do aperto monetário americano, mas também da desconfiança do mercado frente ao novo “miniorçamento” do Reino Unido.

A peça legislativa inclui grandes cortes de impostos para pessoas de alta renda e descartou um aumento planejado nos impostos corporativos. Também especificou quanto o governo planeja gastar para subsidiar as contas de energia: £ 150 bilhões. Recém-empossada, a primeira-ministra Truss já é alvo de muitas críticas. 

É improvável que os cortes de impostos proporcionem ao Reino Unido um impulso significativo a médio prazo. Adicionalmente, a resposta de um assalariado de alta renda seria aumentar a poupança em antecipação aos futuros aumentos de impostos.

Agora, todos os olhos estão voltados para o Banco da Inglaterra, que antes do orçamento disse que uma recessão já havia começado. Espera-se que o banco central continue aumentando as taxas de forma ainda mais agressiva, mas pouco ele conseguirá fazer para elevar a confiança dos investidores no governo.
03:11 — Ventos europeus
Enquanto a guerra na Ucrânia continua escalando no leste europeu, o resto do continente se preocupa com a inflação, o aperto monetário e a recessão. Ao longo dos últimos dias, vários bancos centrais, incluindo o Banco da Inglaterra, o Banco da Suécia e o Banco Nacional Suíço, aumentaram suas taxas de juros, acompanhando o movimento do Banco Central Europeu, que deverá continuar a elevar os juros.

Os próximos dias reservam a leitura preliminar da inflação ao consumidor da Zona do Euro em setembro. Ao mesmo tempo, vários membros do BCE, incluindo o Presidente Lagarde, falarão ao mercado, podendo trazer volatilidade adicional. Um dos temas abordados deve ser a volatilidade da moeda, uma vez que o euro, assim como a libra, também vem demonstrando fraqueza. 
04:01 — O custo da inflação
À medida que os bancos centrais de todo o globo aumentam simultaneamente as taxas de juros em resposta à inflação, o mundo pode estar se aproximando de uma recessão global em 2023 e uma série de crises financeiras.

Ao mesmo tempo, o problema inflacionário pode até ser combatido com juros mais elevados, mas as cicatrizes vão existir, especialmente as sociais. Na semana, Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário Internacional, sinalizou sua preocupação com o aumento do número de pessoas em situação de rua em nível global. 

Essa é apenas uma das consequências sociais da alta inflação. Se não reduzirmos a inflação, isso prejudicará os mais vulneráveis, porque uma explosão de preços de alimentos e energia para os menos favorecidos é ainda mais problemático.

Sim, hoje os bancos centrais não têm escolha a não ser aumentar as taxas de juros em um esforço para combater a inflação; contudo, a questão crítica à nossa frente é restaurar as condições para o crescimento. E a década só está começando.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.