Mercado em 5 minutos

Quantas reviravoltas cabem em uma só mão?

“Entramos no último trimestre de 2022 com inúmeros fatores de risco para acompanharmos. Lá fora, as ações caíram na Ásia

Por Matheus Spiess

03 out 2022, 08:40 - atualizado em 03 out 2022, 08:40

Reviravoltas
Fonte: Free Pik
Bom dia, pessoal.

Entramos no último trimestre de 2022 com inúmeros fatores de risco para acompanharmos. Lá fora, as ações caíram na Ásia nesta segunda-feira (3), enquanto os investidores esperam por dados importantes sobre empregos nos EUA, se preparando também para a temporada de resultados corporativos que muitos temem destacar o impacto do aumento da inflação e das taxas de juros.

A abertura do mercado na Europa também não é positiva, refletindo preocupações persistentes sobre uma recessão e as perspectivas negativas para o mercado de petróleo. Chama a atenção também os ruídos envolvendo o Credit Suisse e a crise que paira sobre o banco. Os futuros americanos inauguram o dia de forma mista, sem uma única direção. O Brasil pode se descolar desse movimento tímido, repercutindo a eleição de um legislativo composto predominantemente pelo centro e pela direita.

A ver…
00:41 — O bolsonarismo se manterá muito, mesmo num eventual governo Lula
Chamou a atenção os erros dos institutos de pesquisa, que vão precisar se reinventar nos próximos anos se quiserem se manter relevantes. Lula e Bolsonaro vão para o segundo turno, mas com uma margem muito diferente do que se apontava nos levantamentos de intenção de votos. O segundo turno é uma nova eleição e tudo pode acontecer, inclusive uma virada de Bolsonaro, ainda que pouco provável (precisa trabalhar bem Minas Gerais e os espólios dos demais candidatos).

Ao mesmo tempo, ainda que Lula seja favorito para ganhar no segundo turno (teve mais de 48% no primeiro turno), terá que caminhar para o centro. Nas condições atuais, um segundo turno geralmente é positivo para o mercado, forçando uma moderação de tons (há necessidade de negociar com outros partidos). Enquanto isso, o bolsonarismo deveria comemorar, apesar de Bolsonaro ter ficado em segundo lugar. A eleição de um Congresso predominantemente composto por figuras de centro, centro-direita e direita, deverá impedir eventuais aventuras petistas muito heterodoxas.

Os dois desfechos agora me parecem positivos para o mercado local: i) uma virada de Bolsonaro (seria histórico, uma vez que ninguém conseguiu chegar em segundo no primeiro turno e depois virar as eleições) serviria para mobilizar a legislatura eleita, tendo solo fértil para a execução de um plano mercadológico aos moldes do que se observava em 2019, antes da pandemia; ii) o governo Lula deverá acontecer muito provavelmente, mas terá governabilidade comprometida e precisará fazer concessões ao centro para governar, impedindo muita criatividade para atuar sobre o mercado.
01:56 — Na expectativa pelos dados de emprego
Nos EUA, os investidores esperam virar a página depois da pancada que foi experimentada em setembro, se voltando para o calendário de outubro. Nesta semana, acompanhamos uma vasta lista de membros do Federal Reserve Bank que falam com o mercado em diferentes ocasiões, embora a expectativa geral seja de que a autoridade monetária mantenha o tom duro em direção à meta de não retroceder prematuramente na política monetária restritiva (taxas de juros mais altas).

Ao mesmo tempo, também ficamos de olho nos relatórios de empregos sobre o mês de setembro no final da semana. Na semana passada, o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) mostrou uma aceleração maior do que a esperada, o que provavelmente convencerá ainda mais o Fed de que deve manter sua postura agressiva em relação a aumentos futuros de juros. Se os dados de emprego vierem fortes, a tendência será mantida. 
02:41 — Uma provável baleia morta na praia?
Já há alguns anos o Credit Suisse vem passando por momentos ruins. Agora, os investidores globais têm pela frente o desafio de enfrentar a crise do Credit Suisse (da máxima em 2018, as ações do banco já caem mais de 80%). O sentimento negativo contamina o mercado europeu nesta manhã, diante do nervosismo do mercado sobre a posição de capital do banco suíço.

Na sexta-feira, o CEO do Credit Suisse, Ulrich Koerner, disse aos funcionários em um memorando interno que o capital e a liquidez eram robustos, mas as coisas mudaram no final de semana — o CDS (custo de proteção contra um default) aumentou em 15% e já está em um patamar semelhante ao de 2009, depois da crise do subprime. Agora, a instituição pediu mais 100 dias para apresentar uma estratégia de recuperação.

Além da questão financeira também há o choque de credibilidade junto aos negócios de investimentos e private banking. Há pouco espaço para uma salvação verdadeira aqui, uma vez que tentativas anteriores de reestruturação também foram frustradas. Uma atualização sobre a nova estratégia deverá ser divulgada até o final do mês, no dia 27 de outubro, mas os caminhos são escassos.

Estima-se que sejam necessários algo entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para endereçar a reestruturação, com o enxugamento da companhia e a demissão de funcionários.  Uma aquisição por outro player não seria improvável, mas ainda há muito por acontecer e vários processos para lidar. Uma quebra completa teria consequências desastrosas para a Europa e poderia sinalizar o começo de um processo maior…
03:58 — Os 15% da Ucrânia
No final da semana passada, a Rússia anexou 15% da Ucrânia (uma área do tamanho de Portugal) ao aceitar a adesão à federação de quatro regiões ucranianas. O movimento de Putin é a maior apropriação forçada de terras na Europa desde a Segunda Guerra Mundial e mostra como ele vê a guerra na Ucrânia como uma luta existencial entre seu país e o mundo ocidental.

Haverá retaliação, claro. O presidente Biden disse que as anexações territoriais de Putin não têm legitimidade e os ministros das Relações Exteriores do G7 as consideraram uma ofensa à soberania ucraniana. Ao mesmo tempo, a Rússia não ocupou totalmente nenhuma das quatro regiões que anexou, o que ficou bem claro quando as tropas ucranianas em uma dessas províncias cercaram as forças russas. 

Dessa forma, os países ocidentais desencadearam uma nova rodada de sanções, inclusive contra o presidente do banco central da Rússia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky respondeu solicitando formalmente a adesão à OTAN em um cronograma acelerado, embora não esteja claro se será aprovado. A situação russa é delicada: sofreu perdas embaraçosas com o contra-ataque ucraniano e centenas de milhares de russos deixaram seu país para evitar serem convocados para o serviço militar. Um possível enfraquecimento de Putin não é impossível. 
04:50 — O preço do petróleo
Os contratos futuros de petróleo Brent e West Texas Intermediate (WTI) decolaram da última sexta-feira para cá, repercutindo os relatos de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) está considerando um corte na produção de petróleo de mais de um milhão de barris por dia.

Tal medida seria a maior tomada pela organização para lidar com a fraqueza na demanda global desde 2020, quando o grupo reduziu a produção em um recorde de 10 milhões de barris por dia por conta da pandemia.

Com uma reunião esperada para o dia 5 de outubro, surpresas são possíveis, empurrando o preço da commodity para cima, de modo a neutralizar a excessiva baixa no mercado. Ao mesmo tempo, estima-se que qualquer corte de produção abaixo de 500 mil barris por dia deverá ser ignorado pelo mercado.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.