Mercado em 5 minutos

A CONSOLIDAÇÃO DE XI JINPING

Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em queda nesta segunda-feira (17), acompanhando as movimentações negativas em Wall Street na sexta-feira da semana passada (14). A preocupação central ainda é com a possibilidade de recessão depois que os recentes dados de inflação dos EUA, mais quentes do que o esperado, elevaram as expectativas de mais aumentos agressivos das taxas de juros.

Por Matheus Spiess

17 out 2022, 13:40 - atualizado em 17 out 2022, 13:40

Bom dia, pessoal.

Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em queda nesta segunda-feira (17), acompanhando as movimentações negativas em Wall Street na sexta-feira da semana passada (14). A preocupação central ainda é com a possibilidade de recessão depois que os recentes dados de inflação dos EUA, mais quentes do que o esperado, elevaram as expectativas de mais aumentos agressivos das taxas de juros.

Ainda no exterior, teremos a primeira semana mais movimentada da temporada de resultados, que contará com nomes de grandes empresas como Bank of America, Johnson & Johnson, Procter & Gamble e Netflix. Chama a atenção o início do Congresso do Partido Comunista, em Pequim, com a expectativa de que o presidente Xi Jinping garanta um terceiro mandato (algo histórico). Neste contexto, os mercados europeus sobem nesta manhã, assim como os futuros americanos. 

A ver…

00:42 — Dias mais tranquilos

Por aqui, no Brasil, os investidores se defrontam com uma semana relativamente mais tranquila, devendo acompanhar, portanto, o humor internacional. Entre os dados econômicos locais, destaque para o IBC-Br de agosto a ser divulgada hoje pelo BC, dado que serve de “prévia” (uma proxy) do PIB e que deverá mostrar recuo de algo como 0,70% no mês (na comparação anual ainda deverá ter crescimento de mais de 5%).

Entre os dados corporativos, vale prestar atenção na divulgação hoje de noite do relatório de vendas e produção do terceiro trimestre da Vale, companhia relevante do ponto de vista sistêmico por conta de sua participação no Ibovespa. Na esfera política, faltam pouco mais de 10 dias para o segundo turno, momento em que o cenário de disputa acirrada entre Lula e Bolsonaro deverá se consolidar (o mercado não tem refletido negativamente eventuais desdobramentos políticos). 
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01:24 — Uma aquecida na temporada de resultados

Nos EUA, os investidores se debruçam sobre a temporada de resultados, que ganha tração nesta semana com nomes de peso como Bank of America, Charles Schwab, Netflix, Johnson & Johnson, Goldman Sachs BM, Tesla, Procter & Gamble, entre outros — mais de 60 empresas do S&P 500 devem divulgar seus resultados.

Na semana passada, alguns bancos abriram a temporada reportando números acima do esperado, como foi o caso do JPMorgan e do Citigroup. Ainda assim, não foi o suficiente para evitar que o humor negativo proveniente do sentimento do consumidor afetasse as ações — ainda que o dado em si tenha subido para o seu nível mais alto desde abril, as expectativas para a inflação de um ano subiram para 5,1%, o primeiro aumento desde março, o que reforça a necessidade de mais juros por parte do Fed.

A partir de agora, o mercado espera um crescimento de 1,6% nos lucros do terceiro trimestre, a desaceleração mais relevante em dois anos. A boa notícia para as ações, então, é que a barra está baixa. A má notícia, por outro lado, é que as empresas têm muitos ventos contrários, em especial o de recessão, que não foi devidamente para os preços. Fora as questões corporativas, vale ficar de olho no Livro Bege do Fed, a ser divulgado na quarta-feira, importante para a coletânea de dados que poderá eventualmente reforçar a necessidade de mais juros nos EUA.

02:34 — Complicações britânicas

Hoje, na Europa, os mercados conseguem sustentar certo otimismo na expectativa de novos desdobramentos políticos britânicos. Na sexta-feira passada, a primeira-ministra britânica, Liz Truss, demitiu um aliado político de longa data, Kwasi Kwarteng, e voltou atrás em outra de suas propostas tributárias (mini orçamento) na tentativa de acalmar os mercados disfuncionais — com o movimento, Kwarteng se tornou o segundo ministro das Finanças mais breve desde 1945.

Ainda assim, Truss segue em um terreno político bastante instável, com o mercado ainda preocupado com a posição financeira do governo do Reino Unido — ainda que sobreviva no cargo, sua credibilidade pode ter sido permanentemente prejudicada. O problema é que o caos do mercado também está afetando os britânicos comuns (inflação e custos das hipotecas muito elevados). Os próximos passos serão definitivos para garantir a estabilidade de uma das mais importantes economias do mundo.

03:16 — O resto do continente europeus também enfrenta dificuldades

Apesar de conseguir sustentar uma alta nesta manhã, as preocupações com a economia europeias só se acumulam. A principal delas se relaciona com a questão energética, derivada da recuperação pós-pandêmica e, principalmente, da guerra na Ucrânia. O tema reverbera sobre as implicações inflacionárias disso e do consequente aumento dos juros, em resposta à inflação. 

Com isso, a proposta em pauta agora é a do teto “dinâmico” para os preços do gás, que será debatido no Conselho Europeu nesta semana. Nota-se uma dificuldade para que os países europeus entrem em um acordo sobre os preços da energia, muito por conta dos desdobramentos de longo prazo das medidas. Independentemente de qualquer coisa, é provável que a crise atual dure por mais um longo período.

04:08 — Mais Xi

 Na China, o Congresso do Partido Comunista, iniciado no final de semana, deverá encaminhar o atual presidente Xi Jinping para seu terceiro mandato, algo que não acontece desde Mao Zedong. O evento já contou com um discurso de duas horas do presidente Xi, em que as políticas de “Zero-Covid” foram elogiadas, sugerindo que continuarão durante o inverno (problemático para as perspectivas de atividade). 

As palavras indicaram que o setor imobiliário da China será altamente regulamentado e que as incorporadoras privadas que enfrentam problemas podem ser “assumidas”. Outro ponto de atenção foi a questão de Taiwan: Xi Jinping disse que a China se reserva o direito de tomar “todas as medidas necessárias” contra “interferência de forças externas” na questão de Taiwan. Problemático para a relação com os EUA, já bastante abalada e escalando consideravelmente rápido.

Para os próximos dias, além da conclusão do Congresso, vale a pena acompanhar a bateria de dados econômicos do país, que devem incluir o número para o PIB, para a produção industrial e para as vendas no varejo. Eventuais surpresas devem afetar os mercados, em especial o de commodities, com o qual nós, brasileiros, somos mais sensíveis.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.