Está faltando pouco para descobrirmos quem será o próximo presidente do Brasil. Com o equilíbrio entre dois candidatos com visões tão diferentes, é natural a dúvida sobre quais ativos da B3 investir depois do resultado.
Nesta semana, o mercado atribuiu maior probabilidade de vitória ao ex-presidente Lula. Por isso, empresas do setor educacional ficaram em alta, com os investidores se posicionando para um eventual programa como o FIES.
Para o fundador da Empiricus, Felipe Miranda, embora as empresas educacionais possam dar um salto significativo no caso de Lula sair vencedor, no longo prazo elas não são uma boa opção em nenhum dos dois cenários.
“É um setor complexo, com muita inadimplência e dependente de um subsídio que uma hora você tem, outra não. Não tem perpetuidade no subsídio da educacional”, explica.
As ações do setor, portanto, se comportam de maneira dependente de um investimento governamental que não se pode prever quando e se ocorrerá.
Estatais da B3 em um eventual governo Lula? Melhor evitar
O analista afirma também que não investiria em estatais em um eventual governo petista. Ainda que a escolha do Ministro da Economia possa agradar o mercado e as ações subirem no curto prazo, a visão econômica do ex-presidente não sustentaria as ações por muito tempo.
“No médio e longo prazo vejo uma deterioração dos resultados de estatal num governo Lula. Não acho que seja tão ruim de curto prazo porque as posições estão leves com o mercado esperando uma vitória do candidato”, analisa Felipe.
Por este motivo, o analista reduziu pela metade a exposição em Banco do Brasil (BBSA3) de sua carteira recomendada. Dentre as petroleiras, o analista tem maior posição nas ações da 3R Petroleum (RRRP3) que na estatal Petrobras (PETR4).
“Temos PETR4 porque é muito barata, paga muito dividendo e tem a chance do Bolsonaro ganhar. Mas acho que 3R é a mais barata do setor. 3R é um caso de múltiplo muito baixo com crescimento absurdo de produção esperada. 3R pode multiplicar por mais de duas vezes”, detalha.
Ação da B3 pode ser destaque nos dois cenários
O analista vê com bons olhos o investimento em habitações de baixa renda. O setor pode se dar bem tanto com Lula quanto com Bolsonaro. O petista é conhecido pelo programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, enquanto Bolsonaro implementou o programa Casa Verde e Amarela para substituir o anterior.
“O programa Casa Verde Amarela virou também um programa bolsonarista, abraçado por Paulo Guedes. É um subsídio que dá para perpetuar, porque é barato e eficiente. Diferente do FIES, por exemplo”.
Para o setor, Felipe Miranda indica as ações da Direcional (DIRR3), já que as concorrentes Tenda (TEND3) e MRV (MRVE3) não estão bem.
Bolsonaro é mais querido pelos investidores locais; Lula, pelos estrangeiros
No caso da virada de Jair Bolsonaro, o analista vê uma verdadeira disparada da Bolsa no curto prazo. As empresas estatais devem ir bem, enquanto as do setor educacional, mal.
Não é novidade que o candidato é o preferido da Faria Lima, que, em sua maioria, gosta do trabalho de Paulo Guedes. Por isso, uma vitória de Bolsonaro faria os ativos da B3, que já estão com valuations atrativos, dispararem graças aos investidores locais.
Por outro lado, diferente de grande parte do mercado financeiro brasileiro, os investidores estrangeiros não veem com maus olhos uma vitória de Lula. Caso o ex-presidente indique nomes de qualidade para gerir a economia e a transição do governo seja feita de forma democrática, o investimento estrangeiro deve entrar.
“A Faria Lima vê muito mal uma possível reeleição do Lula, mas o gringo não. Ao contrário, o gringo gosta do Lula. E tem uma questão mais importante, o gringo que está fora do Brasil é muito preocupado com a questão ESG (Governança ambiental, social e corporativa) do governo Bolsonaro”, analisa Felipe.
Um dos motivos que trariam o investidor estrangeiro, além da B3 barata, é o mal momento vivido pelas economias emergentes. A Rússia, em guerra, não é uma opção. A China, que tem enorme influência nos mercados emergentes, vive a crise dos semicondutores e constantemente ameaça invadir Taiwan. A Índia, por sua vez, não representa um investimento atrativo.
Fato é que o mercado precificou bem os dois cenários das eleições. A inflação brasileira, ao contrário do que ocorre no resto do mundo, começa a dar trégua, e a tendência é que a taxa de juros comece a cair no ano que vem. Isso, aliado a uma Bolsa repleta de valuations atrativos, indica um cenário favorável para o investidor em ativos do Brasil, independente do resultado das urnas.