Bom dia, pessoal. Se um brasileiro infeliz com a vitória do PT em 2002 tivesse entrado em uma máquina do tempo e viajado para o futuro, digamos que para 20 anos depois, de modo a fugir do governo do PT, esse mesmo alguém estaria muito frustrado agora. Conforme era esperado, Lula ganhou a eleição para a presidência do Brasil mais uma vez, se tornando a primeira pessoa na história a vencer três corridas do tipo. Ao longo do dia, os ativos brasileiros devem repercutir a vitória do petista, que muito provavelmente não será acompanhada por uma lua de mel. Lá fora, os mercados asiáticos conseguiram sustentar um tom predominantemente positivo nesta segunda-feira (31), acompanhando as movimentações de Wall Street na sexta-feira (28), com os investidores permanecendo otimistas com o entendimento de que o Fed diminuirá o ritmo dos aumentos das taxas de juros nos próximos meses. A Europa e os futuros americanos, por outro lado, não conseguem manter o bom humor, apresentando um desempenho um pouco incerto nesta manhã. O Brasil, como falamos, deverá se descolar de qualquer realidade internacional. A ver… |
00:53 — Possivelmente teremos 4 anos de disputa e tensão política |
Lá fora, as ADRs brasileiras caem em NY nesta manhã, em especial as estatais, como a Petrobras, sinalizando uma segunda-feira muito difícil pela frente. Como era esperado, Lula venceu a eleição e agora tem quatro anos muito difíceis pela frente, devendo governar um país dividido e sem muito espaço para radicalização, uma vez que o Congresso é predominantemente de centro e de direita. Neste contexto, a promessa de uma frente ampla deverá ser mantida se Lula quiser entregar alguma coisa. Apesar de parecer com o passado, o futuro brasileiro promete ser diferente. É natural que os mercados não estejam acostumados a lidar bem com eleições apertadas, principalmente porque falamos da eleição mais apertada da histórica da Nova República (50,9% versus 49,1%). A situação atual, porém, é de que a rejeição a Bolsonaro conseguiu ser maior do que a de Lula e a do PT, que diluiu a presença do partido conciliando outras figuras como Geraldo Alckmin, Marina Silva, Simone Tebet e os economistas do Plano Real. Nos próximos dias, o mercado acompanhará maior materialidade do futuro governo, com nomes para ministérios e projetos. Uma coisa interessante é que, como muito bem lembrou Oliver Stuenkel, esta eleição marcou a 15ª vitória consecutiva da oposição na América Latina — basicamente, nos últimos anos, nenhum líder democrático na região conseguiu se reeleger ou escolher seu sucessor. Ao que tudo indica, me parece ser um tipo de herança da época pandêmica que vivemos. Resta entender agora se o movimento é mais um choque de curto prazo, o que parece ser mais provável, do que algo estrutural. A vitória da oposição, no entanto, não trouxe nenhuma tranquilidade adicional, fique registrado. Serão longos quatro anos de desafios para o Brasil. |
01:45 — Preparativos para a reunião do Fed |
Nos EUA, os investidores estão antecipando a reunião do Federal Reserve de quarta-feira (2). É claro que se espera que o Fed aumente as taxas novamente em 75 pontos-base. A dúvida fica para a próxima reunião, de dezembro, na qual começou a se entender como provável uma desaceleração para uma alta de “apenas” 50 pontos-base — um relatório do Departamento de Comércio dos EUA mostrou que o crescimento dos preços ao consumidor acelerou menos do que o esperado em setembro poderia encorajar o Fed a diminuir o ritmo de seus aumentos de juros. O mercado parece ainda muito ansioso, sem entender que os aumentos dos juros vão continuar e o patamar será elevado por bastante tempo. Fora a questão monetária, ainda teremos mais resultados corporativos. Cerca de 160 empresas do S&P 500 devem apresentar relatórios nesta semana. Destaque para empresas como Airbnb, Advanced Micro Devices, BP, Marathon Petroleum, Pfizer, Uber Technologies, Booking, CVS Health, eBay, Moderna, PayPal e Starbucks. Dados de emprego também são esperados para a sexta-feira e podem nortear a direção do mercado em relação à política monetária. |
02:53 — Sobre as questões europeias |
Nesta manhã, os investidores puderam se debruçar sobre a inflação da Zona do Euro, que acelerou mais do que o esperado para 10,7% na comparação mensal. O chamou mais a atenção foi o fato de o núcleo, que exclui os itens mais voláteis, ter apresentado também uma aceleração para além do esperado, o que deverá forçar o BCE a continuar a aumentar os juros por período indeterminado, ainda que isso machuque as economias e as perspectivas fiscais (serviço da dívida). Por enquanto, não há uma única direção entre os mercados europeus, mas o tom negativo é predominante. No Reino Unido, os investidores digerem os dados de crédito ao consumidor e pedidos de hipoteca, que vieram mistos — vale destacar que os dados são anteriores à reação ao desastre fiscal da primeira-ministra Truss, já não mais presente no cargo, o que os torna menos relevantes. Até o final do ano, a alternativa fiscal de Sunak será acompanhada de perto pelo mercado. |
03:51 — A rota mexicana |
Vocês achavam que a China iria esperar o final da Guerra Comercial com os EUA (que ainda está acontecendo, vale dizer) para continuar a tentar expandir suas fronteiras? Acharam errado. Alternativamente, os chineses estão investindo em outras regiões. No México, por exemplo, há bilhões de dólares de investimento em grande escala sendo feitos para evitar tarifas e encurtar as cadeias de suprimentos que foram tensionadas durante a pandemia. Um exemplo é o Parque Industrial Hofusan, que abriga 11 fábricas e armazéns em uma propriedade de centenas de hectares na fronteira com os EUA. Há três anos, havia apenas um prédio no local. Hoje, mais de 10 empresas chinesas têm fábricas lá e mais três estão sendo construídas, gerando emprego para dezenas de milhares de pessoas. O exemplo é mexicano, mas a China tem tentado isso em outras regiões latino-americanas ao longo dos últimos anos, devendo se aprofundar nesta década. O Brasil, como não poderia deixar de ser, é um candidato fortíssimo a receber tais investimentos. |
04:44 — A tensão iraniana continua |
Protestos violentos continuam tomando conta do Irã. As manifestações que começaram com a morte de uma jovem de 22 anos, que foi detida pela polícia de moralidade do Irã, agora se tornaram a maior repreensão ao governo em anos. Estudantes se juntaram aos protestos, cantando “morte ao ditador” (referindo-se ao líder supremo aiatolá Ali Khamenei) e manifestantes antigovernamentais aparentemente invadiram uma transmissão de TV estatal no sábado. Um grupo de direitos humanos disse que centenas de pessoas foram mortas nas três semanas de protestos. A região é delicada para a estabilidade do Oriente Médio, região rica em petróleo. Um aprofundamento da situação pode ser prejudicial. |