Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta terça-feira (1), apesar dos sinais negativos de Wall Street durante o pregão de ontem, em meio aos rendimentos de títulos globais mais altos, mesmo com os investidores sendo cautelosos enquanto aguardam a movimentação do Fed dos EUA na quarta-feira — o movimento na Ásia foi bom apesar das exportações sul-coreanas para outubro terem vindo mais fracas do que o esperado.
Os mercados europeus e os futuros americanos estão em alta nesta manhã, na véspera da reunião de política monetária americana que deverá elevar a taxa básica de juros em mais 75 pontos-base, seu quarto aumento consecutivo da taxa, para combater a inflação crescente. No Brasil, depois da volatilidade de ontem, há espaço para ajustes de posição hoje, muito por conta do feriado de amanhã (ninguém quer dormir comprado no meio de uma reunião do Fed).
A ver…
00:43 — Movimentação técnica no benefício da dúvida
O pregão de ontem foi uma sinalização interessante sobre alocação de recursos. Em meio ao processo de venda forte verificado sobre as estatais federais, parte dos recursos foram reposicionados em outros nomes do mercado brasileiro, que ainda está muito barato e relativamente atrativo. Com isso, o Ibovespa e outros índices locais finalizaram o dia em tom positivo. O fluxo estrangeiro, aliás, também pode ser um dos fatores que justificam o movimento, uma vez que o nome de Lula parece ser mais bem recebido pelo o investidor gringo, em um movimento, ainda que de curto prazo, de queda do dólar e alta das ações (empresas ligadas à economia doméstica).
É possível argumentar que parte do mercado esteja dando o benefício da dúvida ao futuro governo Lula, por mais incerto que isso seja agora. Uma eventual nomeação de equipe de transição mais ao centro e moderada poderia cair bem no mercado, bem como a indicação de um nome político ou associado ao Henrique Meirelles, de perfil fiscalista (sabemos que um dos calcanhares de Aquiles do país é o risco fiscal e a possibilidade, mesmo que diluída hoje, de dominância fiscal). Precisamos esperar as informações oficiais do governo, ainda que interlocutores afirmem que o nome já tenha sido escolhido.
Não cabe comentar, pelo menos por enquanto, as manifestações que bloqueiam algumas estradas pelo Brasil, as quais me parecem ser mais um ruído de curto prazo no aguardo da fala do presidente Bolsonaro, que ainda não se manifestou sobre as eleições. Se ele o fizer hoje, os atos devem perder força. De qualquer jeito, o ministro Alexandre de Moraes já determinou a imediata desobstrução de bloqueios. Caso haja uma piora do quadro, o mercado poderá até repercutir na margem, mas acredito que o foco seja o anúncio da equipe de transição. Há também espaço para ajustes de posição hoje, muito por conta do feriado de amanhã, que fecha o mercado local.
01:51 — A volatilidade na véspera da decisão do Fed
Lá fora, ontem, os índices de ações dos EUA caíram no encerramento do mês. De maneira geral, o mês de outubro foi bem forte para as ações americanas, depois de nove meses bastante sofridos. O Dow Jones subiu 14% no período, entregando seu melhor mês desde janeiro de 1976. Enquanto isso, os índices Nasdaq e S&P 500 apresentaram, respectivamente, altas de 4% e 8% no mês — note como as teses de tecnologia ainda são as mais sensíveis, principalmente depois da temporada recente de resultados das Big Techs, que foi ruim.
Agora, ainda que a temporada de resultados continue a acontecer, o destaque fica por conta do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve, nos EUA. A reunião, que começa hoje e termina amanhã, deverá aumentar a faixa da meta da taxa de fundos federais em 75 pontos-base, para 3,75% a 4,00%. O mais importante será o comunicado de Jerome Powell, presidente do Fed, que acompanha a decisão. Nele, o mercado poderá saber melhor os próximos passos da autoridade monetária, que deverá continuar subindo os juros nos próximos meses.
02:35 — E a situação britânica
Os ingleses também esperam decisão de política monetária nesta semana, mas na quinta-feira, quando o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) deverá aumentar as taxas em 75 pontos-base. Será o primeiro aumento dos juros desde a troca de primeiro-ministro e, portanto, o mercado estará curioso para verificar eventuais comentários da autoridade monetária sobre a política fiscal e a situação dos fundos de pensão, que se fragilizaram durante a crise de Truss.
Outro ponto de atenção será as pesquisas de opinião sobre os negócios britânicos, considerando que já se verificam problemas nos dados de sentimento econômico. Vale prestar atenção nos preços das casas no Reino Unido, que já começam a mostrar o efeito do desastre fiscal do mini-orçamento, já abandonado — quando as taxas das hipotecas forem reajustadas, os ingleses podem enfrentar grande dificuldade em termos de disponibilidade de renda.
03:09 — Regulação e impostos
O presidente dos EUA, Joe Biden, ameaçou um imposto sobre lucros inesperados para as empresas petrolíferas se elas não aumentarem a produção. No entanto, é improvável que o Congresso aprove tal imposto, principalmente em meio às eleições de meio de mandato (midterms). Ainda assim, a agenda chama a atenção, até mesmo porque não é a primeira vez que uma legislação sobre um setor específico é ventilada pela Casa Branca em 2022.
Recentemente, por exemplo, o Departamento do Trabalho dos EUA destacou que poderia conceder status de funcionário a milhões de contratados da “gig economy”, que se relaciona com empresas como Uber, Lyft e DoorDash. Por enquanto, tais trabalhadores são entendidos como trabalhadores temporários (motoristas de entrega, zeladores e auxiliares de atendimento domiciliar), mas a ideia seria que eles se tornassem funcionários (Lula prometeu algo parecido em campanha).
Mais de um terço dos trabalhadores dos EUA realizaram trabalho freelance no ano passado e os americanos de baixa renda dependem desproporcionalmente de trabalhos temporários, o que geraria menos proteções trabalhistas. Por outro lado, a classificação atual possibilita horários flexíveis e a independência. Parece soar mais como um discurso eleitoral perto das eleições do que qualquer outra coisa, mas é algo que chama a atenção e pode afetar a dinâmica no mercado de trabalho.
04:05 — Uma nova rota
Há alguns anos, praticamente ninguém queria tocar nos estoques de petróleo e gás. Um excesso de produção havia empurrado os preços para baixo e os combustíveis fósseis eram vistos rapidamente como uma economia a ser abandonada no futuro. Que diferença fez uma pandemia, uma guerra na Europa e alguma disciplina fiscal por parte das equipes de gestão das empresas petrolíferas…
A energia é, de longe, o setor com melhor desempenho em 2022. A transição para energias limpas continua em andamento, mas não vai acabar com os produtores de petróleo e gás ainda. Essa transição vai levar anos e as empresas tradicionais de energia vão participar. Em vez de serem destruídas pela transição energética, as grandes empresas de petróleo surgiram em uma posição notavelmente forte para lucrar com isso.
Um abraço.