Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta sexta-feira (4), apesar das movimentações negativas de Wall Street durante ontem, impulsionadas pela forte alta das ações em Hong Kong e na China. Essa alta asiática ocorreu mesmo com os investidores continuando a digerir o quarto aumento consecutivo da taxa de juros de 75 pontos-base pelos EUA e os comentários agressivos do presidente do Fed, Jerome Powell, que sinalizaram mais aumentos dos juros nos próximos meses — também repercutiu a esperança de que a China em breve começará a reverter sua estratégia de zero Covid. Os mercados europeus e os futuros americanos amanhecem para cima, caminhando para o que poderá se consolidar como um bom dia. Contudo, há vetores de estresse no mercado, entre eles o payroll dos Estados Unidos, que se vier mais forte do que o esperado pode reforçar a ideia de continuidade de um aperto monetário agressivo por parte do Fed e de outros países centrais. O Brasil, que ainda digere o resultado eleitoral e tem conseguido se desvencilhar da realidade internacional, pode reservar o dia de hoje para repercutir a temporada de resultados. A ver… |
00:49 — Um belo resultado e um belo dividendo |
No Brasil, temos observado desde segunda-feira um fluxo de recursos estrangeiros mais forte do que esperávamos nesta reta final do ano — o gringo começa a se posicionar em ativos locais depois da vitória de Lula. A cautela ficou por conta do primeiro dia de trabalho da equipe de transição e do resultado da Petrobras, divulgado na noite de ontem. No final, por incrível que pareça, tudo correu bem. Os números da petroleira superaram as estimativas de mercado para o terceiro trimestre, entregando um lucro de R$ 46 bilhões. As ações subiram no after-market americano ontem, assim como fazem nesta manhã, no pre-market de NY. Adicionalmente, um grande dividendo de R$ 43 bilhões será distribuído, o que deverá contagiar positivamente o mercado local. A notícia é positiva, claro, mas não podemos nos esquecer do risco de interferência política na empresa (o resultado só falou sobre o passado, vale lembrar). A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticou o movimento dos dividendos. Provavelmente, os próximos anos podem ser de menor distribuição de dividendo por parte da estatal, que deverá voltar a focar mais nos investimentos — a crítica, porém, parece esquecer que a União receberá R$ 12,5 bilhões, enquanto o BNDES receberá outros R$ 3,45 bilhões. É sobre isso que parte do mercado tem se debruçado: a equipe de transição, os esforços fiscais futuros e os possíveis nomes da equipe econômica. Ontem, o coordenador da transição, Geraldo Alckmin, se reuniu com várias autoridades em Brasília, inclusive o presidente Bolsonaro. Os nomes oficiais de transição serão descobertos em breve, bem como os esforços fiscais definitivos na reta final do ano (PEC da Transição). |
01:50 — Ainda repercutindo o Fed |
As ações americanas seguiram estressadas ontem, diante do renovado sentimento de preocupação depois que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, indicou que era muito cedo para falar sobre uma pausa nos aumentos das taxas de juros. Para piorar, a temporada de resultados continua a apresentar lucros mistos, com alguns executivos alertando sobre a demanda do consumidor durante os feriados. À medida que o dia passava, mais empresas disseram que estavam recuando nos empregos, com a Lyft anunciando uma redução de mais de 10% na equipe e a Amazon anunciando um congelamento de contratações corporativas — em um só dia, além desses movimentos, Opendoor demitiu 18% dos funcionários, Stripe 14%, Chime 12% e Twitter 50% (Elon Musk está fazendo a limpa na empresa). De alguma forma, porém, o mercado de trabalho segue forte demais para o Federal Reserve. O que explica isso? Basicamente, os anúncios proeminentes sobre demissões no mercado de tecnologia ainda não correspondem aos dados econômicos gerais. De fato, o último relatório do governo sobre pedidos de seguro-desemprego foi melhor do que o esperado nesta manhã, com 217 mil trabalhadores entrando com pedidos de desemprego na semana passada, 5 mil a menos do que os economistas esperavam e em linha com a média semanal pré-pandemia. |
02:45 — E os dados de payroll? |
Por isso, todos estarão de olho no relatório de emprego de hoje, os famosos dados de payroll, que podem inverter essa tímida recuperação verificada nesta manhã. Espera-se que a economia americana tenha adicionado 200 mil folhas de pagamento não agrícolas em outubro, após um aumento de 263 mil em setembro. A taxa de desemprego deve subir de 3,5% para 3,6%, perto das mínimas de meio século. Se as expectativas forem confirmadas, os dados ainda mostram um mercado de trabalho robusto e apertado (aquecido). É provável que o mercado mais uma vez responda ao relatório de empregos com uma estrutura de má notícia é boa notícia, dada a abordagem “dependente de dados” do Fed às taxas. Ou seja, surpresas positivas podem fazer o mercado cair, enquanto as negativas podem fazê-lo subir. Complementarmente, talvez a narrativa mais importante dos dados do mercado de trabalho seja sua completa inconsistência com a narrativa dos dados do PIB. Aparentemente, os EUA criaram de 2,1 a 2,6 milhões de empregos na primeira metade do ano, quando o crescimento caiu, e depois 0,4 a 1,1 milhão de empregos no terceiro trimestre, quando o crescimento acelerou. Fruto dos novos tempos que vivemos. |
03:35 — O aperto monetário em outros países |
Ontem, o Banco da Inglaterra apresentou uma decisão de política monetária dividida. Houve muitas explicações sobre incerteza e risco, mas o banco deu um passo incomum ao comentar sobre as taxas de mercado, dizendo aos investidores para que caiam na real e sinalizando um ritmo mais lento de aperto (herança da maluquice recente de Liz Truss). A decisão, porém, foi em linha, com elevação de 75 pontos-base da taxa de juros, a maior alta em 33 anos. Outras localidades também estão elevando juros, como foi o caso da Autoridade Monetária de Hong Kong, que elevou na quinta-feira sua taxa básica em 75 pontos base para 4,25% e alertou que as famílias devem se preparar para um período de taxas comerciais mais altas e gerenciar cuidadosamente os riscos financeiros. Adicionalmente, o banco central filipino disse que aumentaria sua taxa básica de juros em 75 pontos base dos atuais 4,25% em sua reunião de 17 de novembro. Ou seja, todo o mundo está subindo os juros. Uma recessão parece inevitável. |
04:29 — O impasse dos grãos foi solucionado |
Ontem, comentamos do estresse gerado entre a Rússia e a Ucrânia com o abandono do corredor humanitário para o transporte de grãos pelo Mar Negro – Nos últimos dois meses, mais de 400 navios que partem da Ucrânia exportaram 9,9 milhões de toneladas métricas de milho, trigo, produtos de girassol, cevada, colza e soja sob a Iniciativa de Grãos do Mar Negro. Agora, porém, a Rússia parece ter concordado em retomar o acordo intermediado pela Turquia e pela ONU. Isso permitirá o embarque de milhões de toneladas de grãos ucranianos. Moscou agora diz que “garantias por escrito” de Kyiv garantem que não usará o corredor marítimo humanitário para fins militares, para que os carregamentos possam continuar desobstruídos. Houve algum debate sobre quanta influência Vladimir Putin realmente tem sobre o acordo, com os embarques de grãos continuando na segunda e terça-feira (e uma interrupção de um dia na quarta-feira). Alguns dizem que as partes envolvidas poderiam avançar apesar das objeções de Moscou, embora outros achem que seria difícil assinar contratos de transporte e seguro para subscrever as viagens (custo mais elevado por conta da rota e do seguro de viagem). Seja qual for o caso, Putin provavelmente tentará obter alavancagem adicional antes da data original de expiração do acordo, em 19 de novembro, e antes da próxima reunião do G20, em Bali. A guerra, apesar de não fazer mais manchetes como antes, continua afetando os mercados globais em diferentes frentes. |