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“Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia em alta nesta sexta-feira (18), apesar dos sinais negativos de Wall Street durante ontem […]”

Por Matheus Spiess

18 nov 2022, 08:27 - atualizado em 18 nov 2022, 08:27

Bom dia, pessoal.

Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia em alta nesta sexta-feira (18), apesar dos sinais negativos de Wall Street durante ontem, já que os investidores permanecem cautelosos em meio aos sinais mistos sobre as perspectivas para as taxas de juros globais após os recentes comentários hawkish (contracionista) de vários membros do Federal Reserve dos EUA — na quinta-feira, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, sugeriu que a elevação dos juros tiveram apenas efeitos limitados na inflação.

Enquanto isso, a inflação dos preços ao consumidor no Japão em outubro ficou em linha com a maioria das previsões dos economistas, mas alcançou seu maior patamar em 40 anos (3,6% em outubro na comparação anual). Na Europa, por sua vez, onde os mercados sobem nesta manhã, os investidores se atentam a mais dados fracos no Reino Unido, desta vez nas vendas no varejo — o novo plano fiscal com mais austeridade, por outro lado, tranquilizou os investidores.

A ver…

· 00:38 — A carta dos economistas e a justificada tensão fiscal

Mais um dia de muita volatilidade derivada das vibrações políticas em Brasília e da fala atrapalhada (e equivocada) de Lula na COP27. O mercado brasileiro chegou a cair bastante ontem, mas se recuperou parcialmente logo antes de fechar — se arrumarmos o trajeto agora, pode ter feito fundo (se não arrumarmos, deve ter mais para cair).

Uma sinalização de que as coisas começaram a mudar: Guido Mantega, em sua maior contribuição para economia brasileira, renunciou à posição voluntária na equipe de transição. Outro sinal foi a corrida dos bombeiros (Geraldo Alckmin e Wellington Dias) para apagar o fogo no final do dia (boas entrevistas sobre responsabilidade fiscal).

Sim, há muita ansiedade no ar.

Mesmo assim, se o governo eleito insistir em um discurso de irresponsabilidade fiscal, pode esperar por muita turbulência e ingovernabilidade. Começar um novo governo com um déficit primário de R$ 200 bilhões (2% do PIB) pode ter um efeito realmente nocivo para a economia brasileira a longo prazo, sendo difícil conseguir estabilizar a dívida em quatro anos. Uma carta aberta de Armínio Fraga, Pedro Malan e Edmar Bacha, que apoiaram Lula na campanha, também chama a atenção para os equívocos.

Lula pode até relativizar hoje as cobranças do mercado, mas não pode evitar que a tradução das incertezas atuais nos preços seja a disparada dos juros e a depreciação do câmbio (vai pagar mais juros para banqueiro, que tanto critica, e o pobre vai sentir mais

a inflação, tudo ao contrário do que prega). Mas parece que o próprio presidente já começa a perceber que não tem espaço para brincadeira (o petismo tem pouco espaço).

O Congresso deve enxugar a PEC para pelo menos algo como R$ 160 bilhões, a equipe econômica com alguns nomes responsáveis deve ser apresentada em breve e uma nova âncora fiscal está em jogo, além da reforma tributária. Em sendo o caso, há espaço para recuperação. Se não, o governo eleito se explode sem nem mesmo ter começado.

· 01:52 — Mudança de tom

Os futuros americanos sobem nesta manhã, se recuperando da queda de ontem, ainda que timidamente. Houve repercussão de uma fala de um membro votante do Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve que sugeriu que as taxas não estavam nem perto de serem altas o suficiente para conter a inflação.

A taxa máxima? Algo entre 5% e 7%. Claro que gerou ruído, uma vez que soou bem diferente do que o mercado, ansioso como já vínhamos falando, pensava — embora a taxa básica de juros tenha aumentado substancialmente este ano, talvez ela ainda não tenha atingido um nível que possa ser justificado como suficientemente restritivo

Naturalmente, uma taxa tão alta (7%) deveria ter sido um choque para o mercado, que está contando com a taxa dos Fed Funds atingindo um pico de cerca de 5%. De fato, entendo como pouco provável 7% de juro nos EUA, mas um pouco mais de 5% não é tão impossível assim, o que já provocaria mais correções no mercado.

Durante a maior parte de 2022, o Fed não foi capaz de apontar um progresso mensurável na contenção da inflação. Resta acompanhar os dados econômicos para saber como a atividade já está sendo impactada. Hoje, contamos com o principal índice econômico do Conference Board e as vendas de casas existentes em outubro.

· 02:45 — Cadeias de suprimentos mais relaxadas

Um dos símbolos mais icônicos da economia na era da Covid foi o acúmulo de navios porta-contêineres esperando para atracar nos portos. Em alguns casos durante o ano, as filas chegam a se estender por 109 navios de profundidade e quase 60 milhas da costa, como aconteceu em Los Angeles e Long Beach. Agora, porém, a situação do transporte está quase de volta ao normal.

Na semana passada, por exemplo, o número de navios esperando para deixar suas mercadorias era de apenas quatro nos portos citados acima. Além disso, o custo de enviar um contêiner de 40 pés de Xangai para Los Angeles caiu de seu pico de mais de US$ 12.000 para quase US$ 2.000, aproximando-se da média pré-Covid.

O fato de que as mercadorias estão novamente fluindo sem problemas pelos portos dos EUA é um sinal de esperança de que a inflação, que foi instigada em parte por problemas na cadeia de suprimentos, pode começar a esfriar. O lado negativo é que parte disso é explicada pela demanda por bens importados, que caiu, o que não é um bom sinal para a economia. Uma recessão se aproxima.

· 03:30 — As pessoas esqueceram a recessão?

Uma recessão leve pode não ser brincadeira e mesmo uma leve desaceleração nos EUA provavelmente terá um grande impacto em alguns aspectos. O fato de o presidente Joe Biden ter admitido recentemente a possibilidade de uma recessão muito leve mostrou as chances crescentes de que ela possa ocorrer (no final de julho, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, havia dito que os EUA estavam vendo uma desaceleração no crescimento, não um enfraquecimento generalizado).

A história sugere que qualquer recessão seria dolorosa para as famílias e politicamente perigosa. Nos EUA, por exemplo, nas doze recessões desde a Segunda Guerra Mundial, a economia contraiu 2,5% em média, enquanto o desemprego aumentou cerca de 3,8 pontos percentuais e os lucros corporativos caíram cerca de 15%. A duração média da contração foi de 10 meses. Qualquer recessão, portanto, provavelmente deixaria milhões de pessoas desempregadas.

· 04:04 — Boas notícias são más notícias?

Os investidores continuam avaliando os dados do mercado internacional para ver até onde os bancos centrais irão em sua batalha contra a inflação, em especial o americano. Quanto mais positivos forem os números econômicos, menos o Fed terá que se preocupar com o fato de seu ciclo de alta agressiva desencadear uma desaceleração; ou seja, mais liberdade ele terá para continuar subindo os juros. Ao mesmo tempo, dados fracos podem fazer o Fed reduzir o ritmo de aperto.

O Fed ficará surpreso com os danos ao crescimento causados por seu aperto. Quando o Fed observar essa dor, pode parar de aumentar as taxas. Será tarde demais para evitar uma contração na atividade econômica até então, mas a queda não será profunda o suficiente para reduzir a inflação para a meta de 2%. Em outras palavras, levar a inflação de volta às metas significa esmagar a demanda com uma recessão. Isso é uma má notícia para os ativos de risco no curto prazo.

Um abraço,

Matheus Spiess

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.