Bom dia, pessoal.
Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia sem uma única direção nesta terça-feira (22) depois que os mercados globais tiveram um difícil começo de semana diante dos controles chineses contrários à pandemia, que alimentaram as preocupações com uma desaceleração econômica.
Hoje, por outro lado, vemos uma tentativa de recuperação nos mercados europeus e nos futuros americanos, pelo menos nesta manhã, mesmo depois de membros do Fed assustarem os investidores na semana passada dizendo que as taxas de juros podem ter que subir mais do que o esperado para impedir o aumento da inflação.
Enquanto isso, formam-se expectativas para mais falas de autoridades monetárias americanas e para a apresentação do relatório de perspectivas da OCDE. No Brasil, conseguimos nos descolar do sentimento global, dessa vez para melhor. A tensão política ainda é a essência de toda a volatilidade local, sem espaço para melhorar.
A ver…
00:43 — Ainda respirando
Por aqui, os ativos mostraram que ainda estão respirando, sendo que a alta desta manhã lá fora, inclusive do petróleo, poderia nos ajudar a manter esse fôlego, a depender das novidades locais. Na agenda local, o dia é interessante porque conta com a divulgação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas do Ministério da Economia, o que tende a chamar a atenção por conta do contexto.
O mercado só tem repercutido o risco fiscal, tentando precificar a PEC da Transição, cada vez mais difícil de ser aprovada, até mesmo porque o texto continua a ser negociado, sem muita margem, e tem que ser votado até dia 15 de dezembro. A falta de avanço preocupa a equipe de transição, que tem feito pouco para dar as sinalizações de tranquilidade necessárias ao mercado.
A expectativa é de que a proposta original seja desnutrida para algo como R$ 130 bilhões por apenas um ano (ainda difícil de ser aprovada), de modo a dar tempo para o novo governo organizar uma nova regra fiscal com seu time (desconhecido) — o time completo só deve ser definido em meados de dezembro, mas isso não impede de alguns nomes chaves serem antecipados para tranquilizar o humor, o que seria possível e positivo.
01:44 — Mais agressividade
Os membros do Fed voltaram a dar sinais de um ritmo mais lento de aumentos contínuos das taxas. O excesso de falas e de comentários contraditórios entre si prejudica a percepção do mercado. Hoje, destaque para a fala da presidente do Fed regional de Cleveland, Loretta Mester, que faz discurso de abertura de evento da própria região sobre salários e inflação, um dos pontos de atenção para 2023.
Notadamente, essas preocupações inflacionárias deveriam mais do que compensar os novos comentários dovish (flexíveis) das autoridades do Fed — a taxa de juros americana deveria caminhar pelo menos para a faixa entre 4,75% e 5%, ainda abaixo das expectativas de pico entre alguns estrategistas (plausivelmente, ela caminhará para cima de 5%, o que tende a ser um território bem contracionista).
02:22 — Mais Covid na China
A China voltou a relatar casos crescentes de Covid, com um quinto da economia sob algum tipo de restrição (a metrópole de Guangzhou decretou lockdown em uma região com mais de 3,7 milhões de pessoas). Como não poderia deixar de ser, o medo do vírus após o aumento do número de casos está pesando sobre os consumidores chineses e é justamente o medo do vírus que causa o dano econômico (o resto do mundo está evitando esse medo com a segurança de uma vacinação eficaz).
A diferente abordagem dos governos ocidentais, de transformar o vírus em uma endemia, acaba sendo fundamental para diferenciar a reação de novos casos que acontecem por aqui, como é o exemplo atual do Brasil, que voltou a relatar um número relevante de casos. Tentando ficar mais alinhado com o resto da realidade global, o Partido Comunista da China prometeu reduzir o impacto econômico de sua estratégia “zero-Covid”, que visa isolar todos os casos. É bastante desafiador.
03:10 — Um relatório global
Hoje, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicará seu relatório de perspectivas econômicas. O fórum político com sede em Paris foi especialmente pessimista sobre as perspectivas na Europa em setembro e é difícil ver como a situação poderia ter melhorado em um período tão curto.
Sim, o relatório atrai a atenção da mídia, mas as opiniões já foram precificadas nos mercados financeiros há algum tempo, devendo ser difícil interpretar eventual novidade. Entendo ser relevante a percepção sobre pico de inflação e qualquer comentário sobre a continuidade da crise energética, temas de impacto global na atualidade.
04:01 — A volatilidade no mundo das criptomoedas
Desde o caso da FTX, que comentamos aqui, o mundo cripto tem passado por um aperto considerável, com mais nomes vindo a público declarar falência ou dificuldade de solvência, ainda repercutindo os efeitos do colapso de algumas semanas atrás. Contudo, vale destacar que o fenômeno de correção, apesar de parecer distante, começa a ter um efeito riqueza inverso relevante.
As pessoas que perdem riqueza tendem a economizar mais e gastar menos como resultado. No entanto, é provável que o efeito riqueza se aplique apenas a pessoas que trataram as criptomoedas como se fossem um investimento, diferente de alas mais especulativas e distante de grupos entusiastas — estima-se que 70% a 80% dos compradores de Bitcoin perderam dinheiro em suas especulações.
O mesmo estudo, realizado pelo Banco de Compensações Internacionais, sugere que 40% dos investidores de criptos são homens com menos de 35 anos, proporção um pouco distante da parcela de consumidores com mais recursos (mais velhos). Dessa maneira, a volatilidade do mundo cripto, ainda que tenha efeito no sentimento do investidor, acaba sendo limitado.
Um abraço,
Matheus Spiess