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O perigo das boas intenções

“Se de um lado apenas o setor privado cria valor, de outro nunca podemos subestimar a capacidade destrutiva dos nossos políticos […]”.

Por Caio Mesquita

26 nov 2022, 07:18 - atualizado em 28 nov 2022, 07:25

O perigo das boas intenções
Imagem: Freepik

Se de um lado apenas o setor privado cria valor, de outro nunca podemos subestimar a capacidade destrutiva dos nossos políticos.

Invariavelmente, maus governos começam com boas intenções, mas a implementação sempre é desastrosa.

Três semanas depois da eleição do novo presidente, e a pouco mais de um mês de sua posse, já sofremos de forma tangível as consequências do novo governo.

Dada a capacidade imediata do mercado em antecipar cenários futuros, a perspectiva de políticas econômicas inconsequentes já está incorporada nos preços dos ativos.

Com Bolsa caindo e dólar subindo, Lula fez troça chamando o mercado e, indiretamente você e eu, de “nervosinhos”.

Realmente fica difícil ficar calmo quando vemos nosso patrimônio desvalorizando a cada pronunciamento dos representantes da chapa eleita.

Infelizmente, a falsa dicotomia entre responsabilidade fiscal e responsabilidade social, espertamente manipulada pelo novo presidente, encontra ressonância em parte importante da sociedade.

A imagem de tubarões do mercado financeiro beneficiando-se da fome dos pobres é de fácil consumo.

Seguindo uma simplificada lógica marxista, ricos são ricos pois exploram os pobres.

Assim, se os ricos do mercado financeiro reclamam, os pobres devem comemorar.
Fingindo que não há consequências para o cidadão comum, estão dizendo que o mercado especula ao elevar a cotação do dólar e desvalorizar a Bolsa e que, portanto, não haveria maiores consequências fora da bolha da Faria Lima.

Realmente, explicar que a baixa das cotações das ações interfere na capacidade de financiamento das empresas com consequências ao desenvolvimento econômico exige um entendimento de economia mais avançado.

A alta do dólar, porém, tem impacto direto no custo de vida de toda a população e não somente dos que viajam ou consomem produtos de luxo.

Como aprendi com o Jojo Wachsman, CEO da Empiricus Gestão, no limite tudo que compramos é em dólar já que as commodities que servem de insumo aos produtos do nosso dia a dia, inclusive os produtos agrícolas, têm seu preço referenciado em dólar.

Assim, o nervosismo do mercado quando reage às bravatas populistas de Lula, comprando dólar e empurrando para cima as cotações, tem sim impacto negativo na vida do cidadão comum, especialmente os mais pobres.

Ademais, Lula esqueceu de tratar do comportamento nervoso de um outro mercado, tão importante quanto Bolsa e dólar, mas com impactos ainda mais profundos e diretos, o mercado de juros.

Desde quando o presidente eleito começou a desdenhar a estabilidade fiscal, investidores passaram a embutir novos aumentos na taxa Selic, já prevendo a necessidade do Banco Central de ter que usar apertos monetários para combater a frouxidão fiscal.

Hoje o mercado já prevê uma taxa básica de juros chegando a 15% a.a. em meados de 2023, ou seja, um aumento de 125 pontos base acima da atual.

Juros mais altos representam uma transferência imediata de valor dos devedores aos credores.

No seu afã de resgatar a chamada dívida social, a chapa eleita joga claramente na direção contrária, já que o crédito mais caro tem impacto imediato no poder aquisitivo dos pobres, normalmente dependentes de financiamento.

A intenção de ajudar os que menos têm é não só legítima como necessária. Invariavelmente, contudo, atalhos trazem resultados desastrosos como visto nas aventuras populistas de esquerda em nossos vizinhos latino americanos.

Se o governo eleito optar por essa via, seremos testemunhas, mais uma vez, da capacidade destrutiva dos nossos políticos.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus