Bom dia, pessoal.
Lá fora, as ações estão tendo um início de semana difícil. Os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta segunda-feira (28), seguindo as movimentações mistas de Wall Street na última sexta-feira e com os investidores reagindo à crescente agitação na China em meio aos protestos contrários à política de zero-COVID em várias cidades chinesas (na proporção atual, não há precedentes) — os protestos exacerbam o sentimento de que o gigante asiático passa por uma fase bem turbulenta.
Os mercados europeus e o preço do barril de petróleo também caem nesta manhã, acompanhando cautelosamente o movimento na Ásia e na expectativa para a grande quantidade de dados econômicos nos EUA, a maior e mais importante economia do mundo — por lá, futuros americanos não têm manhã diferente e caem igualmente aos demais mercados. O Brasil deve ver o contexto internacional como impeditivo para um bom dia, até mesmo porque o ambiente doméstico não ajuda no humor local.
A ver…
· 00:46 — O que custa indicar um nome razoável?
Por aqui, depois da recuperação de sua cirurgia, o presidente-eleito Lula chegou em Brasília para assumir as negociações da PEC da Transição, que deve ser apresentada formalmente amanhã. Ainda hoje, Lula deve conversar com os presidentes das casas legislativas e os líderes partidários. Conforme Alckmin antecipou no final da semana passada, o anúncio de quem ocupará a Fazenda deverá ser feito em breve.
O problema é que o nome tem se distanciado de uma ideia mais pragmática, menos ideológica e mais ortodoxa. Para piorar, Pérsio Arida parece ter descartado ocupar, pelo menos neste primeiro momento, a pasta do Planejamento, conforme aquela possível dobradinha com Haddad na Fazenda sugeria — aliás, o nome do ex-prefeito de São Paulo foi testado na sexta-feira em almoço da Febrabran (ele não se saiu bem).
A falta de perspectiva e o pouco tempo inviabilizam uma aprovação robusta de uma PEC de Transição, o que propicia o surgimento de PECs alternativas, como é o caso da mais recente proposta de Tasso Jereissati, com um gasto esperado de R$ 80 bilhões (se for por aí, será mais tranquilo). O problema é que já passou da hora de dar sinalizações mais claras e as falas sobre responsabilidade fiscal de Alckmin, ainda que positivas, não são mais o suficiente para tranquilizar o mercado, bastante ansioso.
· 01:50 — Uma semana de muitas emoções
Depois da redução de liquidez por conta do feriado do Dia de Ações de Graças e da Black Friday, os investidores americanos voltam para o trabalho com calendário econômico pesado que inclui atualizações sobre a confiança do consumidor em 29 de novembro, a segunda estimativa do PIB do terceiro trimestre em 30 de novembro, um relatório sobre gastos com construção em 1º de dezembro e o tão esperado relatório de emprego em 2 de dezembro — temos também o Livro Bege do Fed na quarta-feira.
Sobre os dados de emprego, o mercado espera um acréscimo de 200 mil na folha de pagamento em novembro e que a taxa de desemprego se mantenha estável em 3,7%. O relatório de empregos será crucial para definir as expectativas de aumento de taxa e as previsões de taxa terminal logo antes da próxima reunião do Fed.
A linha geral de pensamento é que, se o relatório de emprego for mais forte do que o previsto, o mercado pode cair devido às preocupações de que o Federal Reserve será mais agressivo com os aumentos das taxas, enquanto uma apresentação fraca pode aumentar as esperanças de que o ciclo da taxa de juros seja mais favorável.
· 02:45 — Black Friday e Cyber Monday
Os últimos dias marcaram o início não oficial da temporada de compras natalinas, com os investidores avaliando a Black Friday para determinar o humor atual do consumidor dos EUA. Com um cenário inflacionário ofuscando a bonança de compras, os consumidores estão procurando pechinchas para aproveitar o preço.
As tendências de compras de fim de ano também estão dando sinais mistos este ano, com 166,3 milhões de pessoas (quase 8 milhões a mais do que no ano passado) que devem sair às compras. Estima-se que os consumidores estejam desembolsando em média pouco mais de US$ 830 em presentes e itens de férias, abaixo dos cerca de US$ 1.000 vistos no ano passado (menos poder de compra por causa da inflação).
As frustrações, claro, devem afetar o mercado, em especial se as vendas no e-commerce forem fracas demais, como se espera. Além da Black Friday, contamos também com sua irmã, Cyber Monday (hoje) — espera-se que quase 64 milhões de consumidores encham seus carrinhos virtuais nesta segunda-feira — a receita com vendas deve alcançar US$ 11,2 bilhões (+5,1% em relação a 2021).
· 03:54 — As falas das autoridades monetárias
Em semana na qual avaliamos a inflação da Zona do Euro, que deve permanecer em dois dígitos, contamos também com algumas falas de autoridades monetárias. Por exemplo, a presidente do BCE, Christine Lagarde, fala com o mercado. Além dela, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, também virá ao mercado na sexta-feira. A fala dos dois será relevante para avaliarmos a opinião do mercado sobre a Inflação.
Nos EUA também temos sentido o impacto de algumas falas de membros do Fed. O presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, fala hoje no Economics Club e pode trazer certa volatilidade para um mercado já em queda. Além dele, o presidente do Fed, Jerome Powell, vem ao mercado na quarta-feira. Qualquer novidade sobre os próximos passos da política monetária será acompanhada de perto.
· 04:23 — Os estranhos protestos na China
As ações asiáticas caíram após um fim de semana de protestos na China contra as políticas de zero-Covid. Como não poderia deixar de ser, os mercados não gostam da incerteza que os protestos apresentam. Agora, também há dúvidas sobre a direção futura das políticas de controle da pandemia e se danos econômicos serão causados.
Ontem, os protestos se espalharam por todo o país, quando os cidadãos foram às ruas e às universidades, descarregando sua raiva e frustração nas autoridades locais e no Partido Comunista. Manifestações pedindo a queda de Xi Jinping e a saída do PCC foram registradas em vários pontos. Nesta proporção, o evento chama muita a atenção. Até agora, houve forte presença policial para conter as manifestações.
Aliás, até a maior fábrica de iPhone do mundo em Zhengzhou, na China, registrou protestos, quando parte dos 200 mil funcionários entraram em confronto com o pessoal de segurança. O incidente destacou tanto os riscos econômicos das políticas de Covid-19 da China quanto a dependência da Apple do país.
Hoje, o melhor cenário é mais flexibilização e reabertura, mas a velocidade com que as coisas se deterioraram no fim de semana sugere que o governo precisa agir rápido. O risco de a situação piorar a partir daqui e da volatilidade de curto prazo permanece alto.
Um abraço,
Matheus Spiess