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Mercado em 5 minutos

Pode protestar na China?

“Lá fora, as ações estão tendo um início de semana difícil. Os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta segunda-feira (28) […]”

Por Matheus Spiess

28 nov 2022, 09:04 - atualizado em 28 nov 2022, 09:04

protesto
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. 

Lá fora, as ações estão tendo um início de semana difícil. Os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta segunda-feira (28), seguindo as movimentações mistas de Wall Street na última sexta-feira e com os investidores reagindo à crescente agitação na China em meio aos protestos contrários à política de zero-COVID em várias cidades chinesas (na proporção atual, não há precedentes) — os protestos exacerbam o sentimento de que o gigante asiático passa por uma fase bem turbulenta. 

Os mercados europeus e o preço do barril de petróleo também caem nesta manhã, acompanhando cautelosamente o movimento na Ásia e na expectativa para a grande quantidade de dados econômicos nos EUA, a maior e mais importante economia do mundo — por lá, futuros americanos não têm manhã diferente e caem igualmente aos demais mercados. O Brasil deve ver o contexto internacional como impeditivo para um bom dia, até mesmo porque o ambiente doméstico não ajuda no humor local.  

A ver… 

· 00:46 — O que custa indicar um nome razoável? 

Por aqui, depois da recuperação de sua cirurgia, o presidente-eleito Lula chegou em Brasília para assumir as negociações da PEC da Transição, que deve ser apresentada formalmente amanhã. Ainda hoje, Lula deve conversar com os presidentes das casas legislativas e os líderes partidários. Conforme Alckmin antecipou no final da semana passada, o anúncio de quem ocupará a Fazenda deverá ser feito em breve. 

O problema é que o nome tem se distanciado de uma ideia mais pragmática, menos ideológica e mais ortodoxa. Para piorar, Pérsio Arida parece ter descartado ocupar, pelo menos neste primeiro momento, a pasta do Planejamento, conforme aquela possível dobradinha com Haddad na Fazenda sugeria — aliás, o nome do ex-prefeito de São Paulo foi testado na sexta-feira em almoço da Febrabran (ele não se saiu bem).  

A falta de perspectiva e o pouco tempo inviabilizam uma aprovação robusta de uma PEC de Transição, o que propicia o surgimento de PECs alternativas, como é o caso da mais recente proposta de Tasso Jereissati, com um gasto esperado de R$ 80 bilhões (se for por aí, será mais tranquilo). O problema é que já passou da hora de dar sinalizações mais claras e as falas sobre responsabilidade fiscal de Alckmin, ainda que positivas, não são mais o suficiente para tranquilizar o mercado, bastante ansioso. 

· 01:50 — Uma semana de muitas emoções 

Depois da redução de liquidez por conta do feriado do Dia de Ações de Graças e da Black Friday, os investidores americanos voltam para o trabalho com calendário econômico pesado que inclui atualizações sobre a confiança do consumidor em 29 de novembro, a segunda estimativa do PIB do terceiro trimestre em 30 de novembro, um relatório sobre gastos com construção em 1º de dezembro e o tão esperado relatório de emprego em 2 de dezembro — temos também o Livro Bege do Fed na quarta-feira. 

Sobre os dados de emprego, o mercado espera um acréscimo de 200 mil na folha de pagamento em novembro e que a taxa de desemprego se mantenha estável em 3,7%. O relatório de empregos será crucial para definir as expectativas de aumento de taxa e as previsões de taxa terminal logo antes da próxima reunião do Fed. 

A linha geral de pensamento é que, se o relatório de emprego for mais forte do que o previsto, o mercado pode cair devido às preocupações de que o Federal Reserve será mais agressivo com os aumentos das taxas, enquanto uma apresentação fraca pode aumentar as esperanças de que o ciclo da taxa de juros seja mais favorável. 

· 02:45 — Black Friday e Cyber Monday 

Os últimos dias marcaram o início não oficial da temporada de compras natalinas, com os investidores avaliando a Black Friday para determinar o humor atual do consumidor dos EUA. Com um cenário inflacionário ofuscando a bonança de compras, os consumidores estão procurando pechinchas para aproveitar o preço.  

As tendências de compras de fim de ano também estão dando sinais mistos este ano, com 166,3 milhões de pessoas (quase 8 milhões a mais do que no ano passado) que devem sair às compras. Estima-se que os consumidores estejam desembolsando em média pouco mais de US$ 830 em presentes e itens de férias, abaixo dos cerca de US$ 1.000 vistos no ano passado (menos poder de compra por causa da inflação).  

As frustrações, claro, devem afetar o mercado, em especial se as vendas no e-commerce forem fracas demais, como se espera. Além da Black Friday, contamos também com sua irmã, Cyber ​​Monday (hoje) — espera-se que quase 64 milhões de consumidores encham seus carrinhos virtuais nesta segunda-feira — a receita com vendas deve alcançar US$ 11,2 bilhões (+5,1% em relação a 2021). 

· 03:54 — As falas das autoridades monetárias 

Em semana na qual avaliamos a inflação da Zona do Euro, que deve permanecer em dois dígitos, contamos também com algumas falas de autoridades monetárias. Por exemplo, a presidente do BCE, Christine Lagarde, fala com o mercado. Além dela, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, também virá ao mercado na sexta-feira. A fala dos dois será relevante para avaliarmos a opinião do mercado sobre a Inflação. 

Nos EUA também temos sentido o impacto de algumas falas de membros do Fed. O presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, fala hoje no Economics Club e pode trazer certa volatilidade para um mercado já em queda. Além dele, o presidente do Fed, Jerome Powell, vem ao mercado na quarta-feira. Qualquer novidade sobre os próximos passos da política monetária será acompanhada de perto. 

· 04:23 — Os estranhos protestos na China 

As ações asiáticas caíram após um fim de semana de protestos na China contra as políticas de zero-Covid. Como não poderia deixar de ser, os mercados não gostam da incerteza que os protestos apresentam. Agora, também há dúvidas sobre a direção futura das políticas de controle da pandemia e se danos econômicos serão causados. 

Ontem, os protestos se espalharam por todo o país, quando os cidadãos foram às ruas e às universidades, descarregando sua raiva e frustração nas autoridades locais e no Partido Comunista. Manifestações pedindo a queda de Xi Jinping e a saída do PCC foram registradas em vários pontos. Nesta proporção, o evento chama muita a atenção. Até agora, houve forte presença policial para conter as manifestações. 

Aliás, até a maior fábrica de iPhone do mundo em Zhengzhou, na China, registrou protestos, quando parte dos 200 mil funcionários entraram em confronto com o pessoal de segurança. O incidente destacou tanto os riscos econômicos das políticas de Covid-19 da China quanto a dependência da Apple do país. 

Hoje, o melhor cenário é mais flexibilização e reabertura, mas a velocidade com que as coisas se deterioraram no fim de semana sugere que o governo precisa agir rápido. O risco de a situação piorar a partir daqui e da volatilidade de curto prazo permanece alto. 

  

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.