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Mercado em 5 minutos

Mercado em 5 minutos: Reserva não tem esse nome à toa

IPCA de novembro, PEC da Transição e mais: tudo que você precisa saber sobre o mercado financeiro nesta segunda-feira (5)

Por Matheus Spiess

05 dez 2022, 08:57 - atualizado em 05 dez 2022, 08:57

Imagem com foco em uma calculadora que tem os seus teclados pressionados por um homem de camisa social de cor azul / mercado em 5 minutos
Reprodução: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia predominantemente em alta nesta segunda-feira (5), apesar dos sinais mistos de Wall Street verificados na sexta-feira, com os investidores ainda otimistas com a expectativa de que o Fed dos EUA diminuirá o ritmo de aumento das taxas de juros já neste dezembro, mesmo que os dados tenham mostrado um crescimento de empregos mais forte do que o esperado em novembro. Tal fato acalmou os temores de uma desaceleração econômica global. 

Enquanto isso, os mercados europeus amanhecem sem uma única direção, com digestão dos comentários na semana passada que sugeriram que Christine Lagarde, a presidente do BCE, não tinha certeza de que a inflação havia atingido o pico na Europa, ainda que os números mais recentes possam indicar um pico. Os futuros americanos também não vão bem, com muita ansiedade para os dados da semana, que podem nivelar as expectativas para a reunião do Fed na semana que vem. 

Outro ponto de atenção tem sido o mercado de commodities. Há um destaque para a digestão da reunião da OPEP+, que começou no final de semana e optou por não alterar neste momento a oferta de petróleo depois dos últimos atritos com os EUA. Há também certo ruído com relação ao impacto das sanções da União Europeia e do G7 sobre as compras das exportações de petróleo bruto da Rússia. Os contratos do barril sobem nesta manhã, o que pode ser um vetor positivo para o Brasil. 

A ver… 

· 00:58 — O jogo é jogado 

Por aqui, todos querem saber sobre o número da inflação oficial de novembro, o IPCA, a ser divulgado na sexta-feira. O dado vem depois da conclusão da reunião do Copom, na quarta-feira, que deverá manter a taxa de juros inalterada em 13,75% ao ano, apesar da curva indicar uma alta de 25 pontos-base, fruto do estresse fiscal recente. Será importante avaliarmos o comunicado que acompanha a decisão, com as percepções do BC sobre a inflação e as incertezas fiscais. 

Paralelamente, temos também uma grande semana na política; afinal, a PEC da Transição já pode ser votada amanhã na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Em sendo o caso, poderá ser votada em primeiro turno já na quarta-feira pelo plenário do Senado. Ainda faltará o segundo turno e o diálogo com a Câmara, sendo que o tempo é bem curto (apesar das atividades do Congresso continuarem até dia 22 de dezembro, o prazo limite para a PEC é dia 15 de dezembro). 

Pelo menos já temos um número para trabalharmos. Ao que tudo indica, o texto deverá ser fruto de uma versão híbrida entre a proposta do senador Tasso Jereissati e do PT, tendo um limite de R$ 150 bilhões (ainda em aberto) e um prazo de dois anos, o que é bom pois dá ao governo tempo para definir uma nova regra fiscal crível, o grande tema para os próximos anos. Ao mesmo tempo, a semana também reserva o julgamento das emendas de relator — se derrubadas, darão margem para as negociações de Lula. 

· 01:59 — Os dados de empregos 

Nos EUA, o mercado leu de maneira mista o relatório de emprego de sexta-feira. O material, no entanto, mostrou um mercado de trabalho ainda robusto (é possível questionar essa ideia, mas não é um caminho simples) — a economia americana criou 263 mil empregos em novembro, mostrando crescimento salarial de 0,6% no mês. 

Em outras palavras, o relatório de empregos mais forte do que o esperado de sexta-feira dá ao Federal Reserve mais motivos para continuar aumentando as taxas de juros e manter uma política monetária mais rígida por mais tempo, pelo menos até que o mercado de trabalho comece a enfraquecer, algo que o mercado não quer ouvir. 

De todo modo, uma desaceleração para uma alta de 50 pontos base na reunião entre 14 e 15 de dezembro continua muito provável. A semana atual, contudo, terá alguns dados importantes para nivelar as expectativas, como o índice de gerentes de compras de serviços e o índice de preços ao produtor de novembro. Muita coisa pode mudar. 

· 02:39 — No final, a greve dos ferroviários foi evitada 

Ainda nos EUA, na semana passada, o Senado americano aprovou um projeto de lei por uma margem de 80 a 15 que evitará uma temida greve dos ferroviários do país, apenas um dia depois de ter sido aprovado na Câmara. A medida foi na sequência para a mesa do presidente Biden, que havia pedido ao Congresso para agir rapidamente antes do prazo de greve de 9 de dezembro. 

Com o movimento, um novo contrato foi promulgado, oferecendo aos trabalhadores ferroviários um aumento de 24% nos salários de 2020 a 2024, pagamentos imediatos em média de US$ 11.000 após a ratificação, bem como um dia de folga adicional remunerado além do período de férias existente. Assim, um dos principais vetores logísticos dos EUA deixa de sofrer perigo imediato de paralisação. 

Para se ter ideia, segundo algumas estimativas, as ferrovias impactam cerca de um terço a cerca de 45% de todo o frete nos EUA, o que significa que uma greve poderia desencadear efeitos indiretos para muitos setores e se tornar outra ameaça inflacionária gigante, custando aos americanos cerca de US$ 2 bilhões em produção econômica por dia. A notícia é muito boa para a possibilidade de rali de final de ano. 

· 03:27 — Opep+ mais conservadora em seus movimentos e o preço-teto 

Neste domingo, a Opep+ manteve as metas de produção de petróleo, depois de o último corte de 2 milhões de barris por dia em outubro ter irritado bastante as autoridades americanas e elevado o risco de alguma represália. A decisão vem junto do início do preço-teto de US$ 60 para o petróleo russo por parte dos países do G7 e da proibição europeia ao transporte dessa commodity pelo mar. 

O movimento gera volatilidade no mercado de petróleo, que vê nesta manhã uma alta nos preços dos contratos. Vale dizer que, embora as nações ocidentais tenham concordado em se livrar do petróleo bruto importado da Rússia, os suprimentos de petróleo russo ainda estão fluindo para os mercados globais através da Ásia. Assim, as novas movimentações afetam ainda mais a oferta global de petróleo. 

A situação toda torna muito difícil para a Rússia vender petróleo a um preço mais alto, uma vez que as principais empresas de navegação e seguros do mundo estão sediadas nos países do G7. Ao mesmo tempo, a Rússia disse repetidamente que não venderá petróleo a países que implementam um limite de preço. Isso poderia causar estragos na oferta global e aumentar os preços. 

· 04:14 — Mais flexibilizações na China 

As últimas semanas reservaram uma continuidade da onda de flexibilização das restrições do Covid-19 na China após protestos em massa contra a política de zero-Covid. O movimento, claro, está ajudando o sentimento do mercado, mesmo em meio à quantidade enorme de dados a serem divulgados na China nos próximos dias. 

Agora, a novidade da vez foi a facilitação de alguns dos requisitos de teste nas principais cidades, fazendo com que os mercados de risco fiquem muito animados — tanto que tivemos alta nos mercados asiáticos, enquanto vemos quedas na Europa e nos EUA, pelo menos nesta manhã. A notícia é boa para as commodities e para o Brasil. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.