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Mercado em 5 minutos

Mercado em 5 minutos: Um passo de cada vez

Início da reunião do COPOM, PEC da Transição, bear market rally e mais: tudo o que você precisa saber sobre o mercado nesta terça-feira (6)

Por Matheus Spiess

06 dez 2022, 09:03 - atualizado em 06 dez 2022, 09:03

mercado em 5 minutos - passo
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em baixa nesta terça-feira (6), seguindo as movimentações negativas de Wall Street durante o pregão de ontem (5), já que os investidores voltaram a ficar preocupados com os próximos passos de política monetária eventualmente ainda bem agressivos do Fed, principalmente depois que os dados mostraram uma aceleração inesperada na atividade do setor de serviços dos EUA no mês de novembro (a ideia vinha ganhando força desde sexta-feira passada). 

Enquanto isso, os futuros americanos até conseguem se recuperar, pelo menos por enquanto nesta manhã, e mercados europeus não possuem uma só direção (o tom é predominantemente negativo). Mesmo com a inflação dando sinais de arrefecimento, a manutenção da atividade em patamares elevados acaba funcionando na dinâmica de que “uma boa notícia acaba virando uma má notícia”. O Brasil acompanha a tendência internacional, principalmente depois das novas notícias negativas no âmbito fiscal.  

A ver… 

· 00:42 — Um mercado atento à Copa do Mundo 

Depois de um dia com menor liquidez por conta do jogo da seleção, os investidores voltam nesta terça-feira (alguns de ressaca) para acompanhar o início da reunião do COPOM, que será concluída amanhã e deverá manter inalterada a taxa Selic em 13,75% ao ano), e os trabalhos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que deve aprovar hoje a PEC da Transição.  

O mau humor local derivou muito do fato de que proposta apresentada, ainda que tenha reduzido o prazo do texto por dois anos, manteve o gasto fora do teto de R$ 175 bilhões, além dos R$ 23 bilhões de receitas extraordinárias. Ou seja, mesmo que o texto passe por ajustes, a ideia entra na CCJ de modo desagradável, muito porque boa parte dos agentes já acreditava em uma desidratação para algo como R$ 150 bilhões. 

Além da votação na comissão, o texto já pode seguir para a votação em plenário do Senado já amanhã, onde Lula acredita ter os votos necessários para aprovar a proposta — sua moeda de troca vem sendo seus ministérios, que podem chegar a 35, sendo que algo como 20 deles deve ficar com aliados (como União Brasil, PSD e MDB). Enquanto houver ruído fiscal sobre a curva, os ativos locais vão sofrer. 

· 01:45 — Parece que vivemos mais um bear market rally 

Ontem, nos EUA, os rendimentos dos títulos voltaram a subir, muito por conta de um relatório sugerindo que os funcionários do Federal Reserve poderiam sinalizar um pico mais alto nas taxas de juros no próximo ano. Ou seja, mesmo quando o banco central parece determinado a desacelerar o ritmo dos aumentos em sua reunião da próxima semana, os mercados internacionais foram lembrados que o ciclo de aperto continuará e a taxa de juros permanecerá em patamares elevados por mais tempo. 

Os futuros estão fixados em um aumento de 50 pontos-base na próxima quarta-feira, para uma faixa de 4,25% a 4,50%, após quatro altas consecutivas de 75 pontos — a desaceleração foi praticamente confirmada pelo presidente Jerome Powell em seus comentários na última quarta-feira. Ou seja, mais importante do que a decisão em si é o relatório com o Resumo das Projeções Econômicas, ou o chamado “gráfico de pontos”. Os futuros apontam para uma taxa terminal superior a 5% no ano que vem. 

· 02:33 — A reabertura chinesa sob os holofotes 

O que deu resiliência aos mercados asiáticos foi a flexibilização adicional das restrições derivadas da política de “zero-COVID” na China. Agora, os requisitos de teste para locais públicos foram facilitados e há relatos de que as pessoas detidas por quarentena possam ficar em casa. Se as medidas mais flexíveis reduzirem o medo dos consumidores em relação às políticas, a demanda chinesa pode voltar com força. 

Os mercados asiáticos vêm refletindo bem o movimento. O índice de Hong Kong, por exemplo, me manteve próximo da estabilidade hoje, tendo subido cerca de 15% na semana passada com a flexibilização da China. Ou seja, por lá o clima continua amplamente positivo. Contudo, é sempre bom lembrar que os chineses não verão o fim completo da política de COVID-zero por vários meses. 

· 03:12 — O preço do brasil 

Na semana passada, os preços do petróleo caíram brevemente abaixo do nível em que começaram o ano. Lembre-se que os preços da energia estavam subindo no início do ano, quando a economia global emergiu da pandemia de Covid-19 (as cadeias de abastecimento não estavam funcionando bem após dois anos de lockdown) e a Rússia invadiu a Ucrânia (medo de que fornecimento de um dos maiores produtores do mundo pudesse ser cortado). Agora, porém, a história é diferente. 

As taxas de juros mais altas em todo o mundo são um veneno para o crescimento e manterão as necessidades globais de energia contidas por um tempo ainda. Em outras palavras, os recuos recentes, como o de ontem, são frutos de uma precificação de recessão que vai acontecer muito em breve. Ou seja, depois de toda a preocupação com uma crise de energia no início deste ano, os preços mais baixos podem parecer um alívio. Ainda assim, entendo que haja espaço para que os preços se mantenham elevados no longo prazo devido às restrições de oferta para os próximos anos. 

· 04:05 — A universalização da democracia 

No Ocidente, há uma leitura de que a universalização da democracia, apesar de positiva para as sociedades, aumentou a classe política dos países, elevando a necessidade de se viver de promessa. O problema é que promessas geram despesas.  

Em um primeiro momento, mais e mais impostos foram criados ao longo do século XX. Depois, quando só os impostos não bastavam, as economias começaram a se endividar. Agora as dívidas são enormes e deflacionárias. 

E hoje, qual é a solução? Provavelmente, a saída vai se dar em parte tomando dinheiro de quem tem e passando para quem não tem. Na última década isso foi feito parcialmente com juros negativos, o que não existe mais. 

Ou seja, não só via transferências, mas também com o empobrecimento relativo de quem se beneficiou com a desigualdade. Em outras palavras, impostos inflacionários também devem entrar na conta. Portanto, a nova era que entramos será de mais inflação. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.