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Mercado em 5 minutos

Mercado em 5 minutos: Eu fico com a pureza da resposta das crianças

Resultado do COPOM, PEC da Transição no Senado e mais: tudo o que você precisa saber sobre o mercado nesta quarta-feira (7)

Por Matheus Spiess

07 dez 2022, 09:26 - atualizado em 07 dez 2022, 09:26

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o pregão em baixa nesta quarta-feira, acompanhando as movimentações negativas dos mercados globais durante ontem, com os investidores ainda preocupados com as perspectivas para as taxas de juros. Não pegou bem também os dados mais fracos do que o esperado para a balança comercial chinesa em novembro. Por outro lado, as novas medidas de flexibilização das restrições chinesas contra a pandemia são positivas, apesar de não terem sido o suficiente para inverter a tendência negativa impressa no dia. 

O pregão não possui uma única direção na Europa e nos futuros americanos, havendo uma nítida predominância de tons pessimistas. Não só o receio com a atividade do gigante asiático prejudica, mas com a dos próprios países ocidentais, depois que os executivos americanos apontaram para a possibilidade de recessão. Por outro lado, o resultado do PIB da Zona do Euro mais forte do que o esperado fortalece o entendimento de que as taxas de juros podem continuar a subir mais por lá. O Brasil até acompanha a dinâmica internacional, mas sob sua própria lógica, uma vez que as discussões fiscais ainda impactam a realidade do mercado. 

A ver… 

· 00:53 — Por favor, não citem novamente a MMT 

Por aqui, os investidores dividem sua atenção entre o resultado do Comitê de Política Monetária (COPOM), depois do fechamento do mercado, e as discussões fiscais no Congresso, depois que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a PEC da Transição com seus primeiros ajustes. Sobre a reunião do Banco Central, não deve haver alteração da Selic, que será mantida em 13,75% ao ano — o que importa hoje é o comentário da autoridade monetária sobre os próximos passos, devendo traçar um parecer duro sobre o futuro da economia brasileira, muito por conta do fiscal. 

Agora, em relação ao panorama político, temos a votação da PEC da Transição no plenário do Senado, depois que a CCJ aprovou o texto já parcialmente ajustado ontem, contemplando elevação do teto de gastos em R$ 145 bilhões, além dos R$ 23 bilhões em receitas extraordinárias, totalizando impacto de R$ 168 bilhões. O ponto interessante é que o governo eleito terá até agosto de 2023 para substituir a âncora fiscal, o que me soa bem, pois deverá ser uma das prioridades de Lula e Alckmin. Novos ajustes ainda devem ser feitos hoje, ao longo do dia, secando um pouco a proposta. 

Os pontos são positivos e ajudaram a curva de juros a devolver os prêmios no final do pregão, impulsionando as ações. Sim, não é o melhor desfecho possível, mas está longe de ser o pior. Um destaque negativo foi a referência à Teoria Monetária Moderna (MMT na sigla em inglês) no parecer da PEC — tanto a teoria em si como a referência foram equivocadas (a pessoa que escreveu provavelmente não conhece a MMT direito). Provavelmente, o trecho também será retirado. Adicionalmente, há hoje a votação no STF da constitucionalidade do orçamento secreto, que poderá dar cacife para Lula na Câmara dos Deputados, a depender do resultado. Importante acompanhar. 

· 02:23 — O medo de uma recessão 

Ontem, o S&P 500 caiu pela quarta sessão consecutiva depois que os principais executivos dos maiores bancos dos EUA alertaram que a inflação persistentemente alta pode desencadear uma recessão econômica no próximo ano. O comentário, na verdade, reflete a preocupação de que, para reduzir a inflação para perto de sua meta de 2%, o Fed precisará empurrar a economia para uma recessão prolongada. 

A reação recente do mercado às boas notícias econômicas foi interpretá-las como más notícias para ações e títulos de renda fixa, já que é menos provável que o Fed seja capaz de adotar uma postura mais acomodatícia no curto prazo. De fato, desde os comentários de Powell na semana passada, os investidores só receberam notícias de que, ainda que haja uma desaceleração no ritmo de aperto monetário, ele deverá continuar por algum tempo, mantendo a taxa de juros elevada em um prazo mais dilatado. 

Diante disso, será importante acompanharmos hoje os dados finais de produtividade e custo unitário de mão-de-obra dos EUA. Por enquanto, a expectativa é de menor crescimento do custo unitário do trabalho, o que ajudaria em tese a inflação, apesar de pouco da inflação atual estar relacionada com trabalho em si. Um número mais forte do que o esperado deve reforçar a ideia de uma economia ainda robusta, dando mais margem para o Fed continuar subindo os juros por mais tempo. 

· 03:29 — A tensão no mercado de petróleo 

As preocupações com a atividade global também estão pesando nos mercados de energia, com o petróleo bruto tendo caído mais de 4% ontem, para baixo de US$ 80 o barril — no caso do WTI, o referencial americano, a queda foi de 3,5% no dia, para US$ 74,25 o barril, seu menor preço desde 23 de dezembro de 2021 (neste contrato, o petróleo caiu 40% em relação à alta de março de 2022). É impactante. 

O mercado mais aquecido na primeira metade de 2022 está sofrendo com as perspectivas de demanda do petróleo fragilizadas, já que estamos em uma desaceleração basicamente em todas as principais economias. De fato, o curto prazo parece bastante desafiador para a commodity, mas a médio e longo prazo as questões estruturais de oferta ainda deveriam manter os preços elevados por mais tempo. 

· 04:10 — Até tu, Brutus? 

Para piorar o sentimento com a atividade econômica global, até a China decidiu colaborar. Os dados comerciais de novembro da China foram fracos. As exportações recuaram pelo segundo mês seguido, caindo impressionantes 8,7% em novembro (base anualizada), enquanto as importações caíram mais de 10% (os dois resultados foram bem piores do que o esperado pelo mercado).  

Os dados mais fracos esconderam a boa notícia de mais flexibilização às restrições contra a Covid-19, que é um fator relevante para fazer a economia chinesa girar nos próximos meses — recentemente, o medo do vírus e das restrições associadas limitou o consumo, prejudicando indicadores econômicos. Em havendo uma melhora da economia chinesa no primeiro semestre de 2023, podem voltar com o otimismo. 

· 04:45 — O mundo dá voltas 

A economia da China ultrapassou a Índia no início dos anos 1990, quando estava dando os primeiros passos de seu alto crescimento no modelo de Deng Xiaoping. Agora, enquanto a China enfrenta grandes problemas em sua economia, a Índia tem a chance de emergir como um novo dínamo para a atividade global. 

Para se ter uma ideia, o gigante do sul da Ásia está à beira de um crescimento sustentado do PIB de 7% no médio prazo — a Bloomberg Economics vê o crescimento potencial subindo para 7,6% até 2026 e atingindo um pico de cerca de 8,5% no início dos anos 2030, o que seria impressionante. 

Contudo, a Índia já apresentou crescimento decepcionante no passado. Dessa vez seria diferente? Talvez sim. Primeiro porque há evidências tangíveis de que Nova Délhi está investindo seu dinheiro onde está falando em termos de construção de infraestrutura para apoiar os fabricantes do país. 

Em segundo lugar, a distância crescente entre os EUA e a China deu à Índia uma oportunidade de ouro para aumentar o seu papel nas cadeias de abastecimento. O mesmo poderia acontecer com o Brasil nos próximos anos, se soubermos aproveitar a tendência.  

  

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.