Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam o dia sem uma única direção nesta quinta-feira (8), mas predominantemente em queda, apesar da robusta alta de mais de 3% em Hong Kong. Os investidores acompanharam as movimentações mistas de Wall Street durante o pregão de ontem, diante das preocupações sobre as perspectivas para as taxas de juros e uma recessão global — há incerteza por conta das perspectivas para a reunião de política monetária do Fed na próxima semana.
A manhã na Europa é um pouco mais positiva, mas ainda assim parece não haver unanimidade entre os mercados. Os futuros americanos, por outro lado, embarcam em uma alta, pelo menos por enquanto, depois de uma sequência de quedas que provou que vivíamos mais uma vez um “bear market rally” (rali de mercado de baixa). O Brasil tem vivido sua própria dinâmica, muito por conta das discussões fiscais, mas a manhã positiva para as commodities pode ter um efeito benéfico.
A ver…
· 00:47 — Tramitação foguete
O mercado já estava fechado ontem quando as duas notícias mais importantes do dia foram divulgadas. Em primeiro lugar, conforme era amplamente esperado, o Comitê de Política Monetária (COPOM) manteve inalterada em 13,75% ao ano a taxa básica de juros da economia nacional. O comunicado, mais importante agora do que a decisão em si, se mostrou responsável ao chamar a atenção para o panorama fiscal, mas sem causar um grande alarde — o risco fiscal existe e a PEC está longe de ser o melhor dos desfechos, mas considerando o exposto, ainda não vimos uma real materialização de um risco mais elevado (precisamos esperar o novo arcabouço fiscal, a ser decidido até agosto do ano que vem). A queda dos juros deve ficar para o segundo semestre de 2023.
Em segundo lugar, o Senado aprovou em dois turnos a PEC da Transição, mantendo o texto aprovado em comissão, rejeitando destaques que propunham desidratação adicional e encaminhando a proposta para a Câmara, que deverá votar a questão na semana que vem, na reta final do ano legislativo (os deputados têm até dia 15 para aprovar, então não poderá haver mudanças textuais na Câmara). A margem foi bem ampla no Senado, dando força política à pauta, apesar de a bagatela ser de R$ 168 milhões (R$ 145 bilhões para fora do teto e R$ 23 bilhões para fora da regra). Francamente, nesta altura do campeonato, a falta de desnutrição adicional pode até frustrar, mas todos já começam a comentar o que realmente importa: qual será a próxima âncora fiscal. O jogo ainda está em aberto para mais incerteza fiscal.
· 01:51 — Reversão de humor
Nos EUA, a queda recente das ações é fruto do humor sombrio entre os investidores, que chegaram a ensaiar em novembro um rali de mercado de baixa (como comentamos anteriormente, se tratava de um nítido movimento ansioso). As más notícias para a economia soam como más notícias para o mercado de ações: se a economia estiver muito fraca, os resultados corporativos vão sofrer. O problema é que as boas notícias não vêm animando as perspectivas futuras: se a economia estiver muito forte, isso significa mais inflação e mais aperto monetário por parte do Federal Reserve, prejudicando os valuations.
Boa parte dos investidores espera hoje uma recessão nos próximos 12 meses. Quando o sentimento é tão ruim, cria-se um ambiente difícil para a maioria dos ativos. Sim, o Fed ainda parece prestes a desacelerar o ritmo de aumento das taxas de juros em sua reunião marcada para a semana que vem, mas dados econômicos otimistas recentes levantaram preocupações sobre quanto mais o banco central aumentará as taxas em reuniões futuras (uma taxa de juros terminal acima de 5% é bem factível). O objetivo? O Fed precisará levar a economia a uma recessão prolongada para reduzir a inflação para perto de sua meta de 2%. Não há alternativa.
· 02:47 — Um pulinho na Europa
Assim como no Peru, a Alemanha também ensaiou um plano (absolutamente frustrado) de golpe de estado. Todos os envolvidos foram presos antes de qualquer tentativa. Foi muito diferente do que aconteceu com nosso vizinho (os peruanos já estão no sexto presidente desde 2018), claro, mas é nítida a situação de maior instabilidade política que as democracias ocidentais vivem, na Europa e na América. A situação não trouxe volatilidade para os mercados, que só se importam com a política monetária do BCE.
Por isso, será importante acompanharmos as duas falas da presidente do BCE, Christine Lagarde, marcadas para hoje, uma pela manhã e outra durante a tarde. Desde sua última fala, os investidores ficaram nervosos com as perspectivas inflacionárias na Zona do Euro; portanto, qualquer novidade pode ter um efeito direto nos mercados. Sabemos que os europeus ainda estão sofrendo com inúmeras crises e a inflação é apenas uma delas. Se trata de um dos mercados mais difíceis atualmente.
· 03:56 — Mais novidades chinesas
Mais uma vez, as autoridades de saúde chinesas deram um grande passo para aliviar as rígidas restrições do Covid-19 do país, dizendo que permitiriam que aqueles com casos assintomáticos ou leves ficassem em quarentena em casa. Desde o início da pandemia, as pessoas foram forçadas a ficar em quarentena em instalações centralizadas administradas pelo governo; ou seja, a mudança é relevante.
Como não poderia deixar de ser, as políticas de zero-Covid continuaram a atingir a demanda do consumidor e interromper a produção na segunda maior economia do mundo durante todo o ano, enquanto o resto do mundo superou a pandemia. Por isso, afrouxar as regras deve ajudar a impulsionar uma recuperação na economia chinesa, o que deveria ser bom para o crescimento econômico global.
Por outro lado, a China é um grande consumidor de energia e outras commodities, e um aumento na demanda pode elevar os preços. Isto é, uma abertura acelerada da economia da China não seria necessariamente boa para os ativos de risco no curto prazo se alimentar a inflação nos mercados desenvolvidos. Ainda assim, se o processo coincidir com a queda da inflação e o fraco crescimento global, talvez tenhamos uma solução mais equilibrada. A ver.
· 04:34 — A tão falada desglobalização
Desde a guerra comercial entre EUA e China, vemos cada vez mais sinais de desglobalização. Tivemos a pandemia e, na sequência, a invasão russa ao território ucraniano. O movimento se dá em paralelo a um processo de mudança na dinâmica econômica mundial, com os investidores se perguntando os próximos passos da China, que vive um momento político diferenciado.
Em outras palavras, vivemos hoje uma ruptura do que se deu nos últimos 30 a 40 anos. Hoje, vemos que a desglobalização vai forçar o mundo a passar por um período de alocação menos eficiente, com menos especialização e mais fricção. Os próximos 10 anos serão completamente diferentes dos últimos 10.
Neste caso, quem se posicionar agora nos nomes da próxima geração de investimento, pode se beneficiar enormemente. Se pudesse apostar, ficaria com energia limpa (transição energética) e países emergentes (fornecedores de matérias-primas para o redesenho das cadeias produtivas).
Um abraço,
Matheus Spiess
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