Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos subiram nesta terça-feira (13), ainda que os investidores internacionais estejam nervosos esperando os principais dados de inflação dos EUA e a decisão de política monetária do Federal Reserve, a ser divulgada amanhã. Para melhorar o humor, as novas promessas da China de relaxar ainda mais sua política de “zero-Covid” ofereceu suporte aos ativos.
Os mercados europeus começam o dia em alta, acompanhando o desempenho de ontem nos EUA e a boa manhã dos futuros americanos. Se a inflação vier abaixo do esperado, o bom sentimento dos investidores pode ser aprofundado. No Brasil, os atritos políticos continuam afetando os mercados, com tensão envolvendo a PEC da Transição, os nomes da equipe econômica e as manifestações bolsonaristas.
A ver…
· 00:36 — Virou bagunça
Por aqui, o mercado repercute hoje as manifestações de alas bolsonaristas mais radicalizadas, que reagiram com atos de vandalismo à diplomação de ontem de Lula e à prisão de alguns nomes do movimento. Ainda que possa reacender o risco do “Terceiro Turno”, o que mais impactou o mercado local ontem e deverá continuar impactando é a possibilidade de alguns nomes mais ideologizados do PT para cargos importantes (Mercadante no BNDES ou na Petrobras seria péssimo), bem como a especulação de mudança na Lei das Estatais. Atear fogo em ônibus e “terraplanismo” econômico: dois tipos diferentes de vandalismo.
A equipe de transição negou os rumores sobre a mudança na Lei das Estatais, o que acalmou um pouco os mercados na reta final do pregão, mas foi insuficiente para reverter o estresse — Haddad deve conceder entrevista hoje para negar mais uma vez a intenção de mudar a Lei das Estatais, aproveitando o momento para anunciar alguns nomes do segundo escalão, o que é altamente esperado (o futuro ministro também tem hoje reunião com Paulo Guedes e Roberto Campos Neto). Ainda no ambiente político, devemos ter hoje a PEC da Transição na pauta da Câmara, devendo ser votada até quinta-feira, na reta final do prazo (as negociações seguem aquecidas).
Fora da agenda política, contamos com dados de serviços de outubro e com a ata do Copom da semana passada, que manteve a taxa de juros inalterada e mostrou preocupação com o panorama fiscal de maneira responsável. As novidades no documento de hoje devem sinalizar mais cautela com os próximos passos do governo eleito para a âncora fiscal. Como muito bem colocou Tony Volpon, ex-diretor do BC: “O mercado tem que tomar um calmante e aceitar que é um governo de esquerda e vai ter mais gasto e investimento público.” De fato, temos visto um ruído exacerbado sobre os ativos, os quais não necessariamente serão justificáveis (podem ser, mas não necessariamente). Agora, só nos resta a serenidade para avaliar os diferentes cenários.
· 01:56 — E essa inflação ao consumidor?
Nos EUA, voltamos a ver um rali dos ativos de risco enquanto os investidores aguardam pelo índice de preços ao consumidor de hoje de manhã, o último grande relatório de inflação antes da próxima decisão do Federal Reserve sobre a taxa de juros, que ocorre na quarta-feira após uma reunião de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto. A visão otimista é que os investidores podem finalmente estar em paz com taxas mais altas e inflação persistente, embora mais baixa.
De fato, tivemos muitas más notícias este ano. No fundo, tem sido uma transição para o Novo Normal. Hoje, os preços aos consumidores devem mostrar aumento de 7,3% na comparação anual, após um salto de 7,7% em outubro. O núcleo, que exclui os preços voláteis, deve subir 6,1%, ante 6,3% em outubro. A inflação americana tornou- se um fenômeno bastante complexo e dividido em três momentos: inflação de bens duráveis; ii) inflação de serviços; e iii) inflação de commodities.
A primeira atingiu o pico em fevereiro, aos 18,7% na comparação anual, e já recuou para 4,7% em outubro. A segunda e terceira onda é a que estão recuando agora. Note que, mesmo que os preços recuem ao longo dos próximos meses, eles ainda vão levar tempo para relaxar de volta para a meta de 2% do Fed. Ou seja, ainda que haja desaceleração do aperto monetário, ainda teremos juros altos por mais tempo.
· 02:59 — Dados germânicos
Na Europa, os investidores estão acompanhando os dados de inflação e de atividade alemã. A começar com o índice de preços, o mês de novembro registrou deflação de 0,5% na comparação mensal, levando o índice anual de 10,4% para 10%, o que é um fenômeno positivo para quem está preocupado com os preços europeus. Por outro lado, o inverno poderá ter um efeito nocivo sobre a inflação nos próximos meses.
Sobre a atividade, ficamos também com a tradicional pesquisa de sentimento econômico alemão ZEW, que mostrou patamar negativo, mas acabou saindo melhor do que o esperado, em um nível não tão baixo quanto no mês anterior, o que é um bom sinal para o mercado. Outro bom sinal foi o aumento inesperado no emprego no Reino Unido. As notícias acalmam os investidores que tem uma boa manhã na Europa.
· 03:36 — Um sol quadrado
No final da noite, foi noticiado que Sam Bankman-Fried (SBF), fundador e ex-CEO da exchange de criptomoedas FTX, que declarou falência recentemente, foi preso nas Bahamas a pedido de autoridades dos EUA, que citaram uma acusação do Distrito Sul de Nova York. SBF deveria testemunhar amanhã de manhã perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA, mas essa audiência agora parece muito duvidosa. A prisão de Fried já era esperada, mas talvez não tão cedo.
Hoje, o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA se reúne para uma audiência inicial investigando o colapso da FTX. Até agora, o fundador da FTX agora preso não conseguiu explicar o que aconteceu com os bilhões de dólares que os clientes da FTX enviaram para as contas bancárias de sua empresa comercial, a Alameda Research. Mais ruídos no mercado de criptos, que tem sido muito afetado em 2022 com a alta dos juros nos EUA. Ainda há muita água para rolar.
· 04:18 — Questões energéticas
Em resposta ao limite de US$ 60 por barril de petróleo imposto pelo G7 ao produto russo, o Kremlin pode cortar sua produção de petróleo. O movimento, ainda que não aconteça de imediato, pode ter impactos no preço da commodity, uma vez que afeta a oferta global dela. Nas últimas semanas, o petróleo caiu bastante com os investidores se antecipando a uma recessão. De fato, o problema da demanda promete falar mais alto no curto prazo, mas a médio e longo prazo, o problema estrutural da oferta deveria permitir que o petróleo continuasse negociando em patamares elevados.
Enquanto isso, uma expectativa de oferta adicional vem sendo silenciada. O Alto Representante da União Europeia, Josep Borrell, anunciou que o bloco definiu adotar novas sanções contra o Irã, uma vez que o acordo nuclear parece ter chegado a mais um impasse. A questão é problemática e promete ficar no ar por mais um tempo, evitando que a expectativa por mais petróleo iraniano se concretize. Ainda pior é o clima geopolítico que isso cria, em um mundo já bastante fustigado por ruídos entre nações. Mais volatilidade nos mercados globais deve ser esperada.
Um abraço,
Matheus Spiess
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