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Mercado em 5 minutos

Piorando o que já não estava muito bom

Dados da inflação norte-americana indicam desaceleração do aumento das taxas de juros; no Brasil, mercado não gostou nada do nome de Mercadante; veja tudo que você precisa saber sobre o mercado nesta quarta-feira (14)

Por Matheus Spiess

14 dez 2022, 09:27 - atualizado em 14 dez 2022, 09:27

Mercado em 5 minutos - inflação
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas subiram nesta quarta-feira, acompanhando os mercados ocidentais que foram muito bem ontem depois que os preços ao consumidor dos EUA subiram menos do que o esperado em novembro, alimentando esperanças de que a inflação tenha atingido o pico e o aumento das taxas de juros desacelerará.  

Na Europa, entretanto, o nervosismo sobre os próximos movimentos dos formuladores de políticas monetárias mantém o clima sob controle antes da conclusão da reunião do Federal Reserve, hoje mais tarde, sem falar das reuniões dos bancos centrais no Reino Unido e na Europa, na quinta-feira. Os futuros americanos mostram dificuldade. 

A ver… 

· 00:27 — O mercado não gostou nada do nome de Mercadante 

Como temíamos ontem, Lula oficializou o nome de Mercadante para a presidência do BNDES, em um discurso que acabou soando bastante agressivo e rancoroso para o mercado — a lembrança de sua prisão e a negativa firme às privatizações funcionaram quase como uma provocação aos investidores, que optaram por vender. Há um grande temor sobre as perspectivas fiscais do país, como a ata do Copom deixou claro. 

O nome de Gabriel Galípolo na secretaria-executiva da Fazenda não ajudou, enquanto o de Bernard Appy na secretaria especial para a reforma tributária foi visto como insuficiente. Sim, ainda temos muitos nomes para sabermos até o final do ano, mas os primeiros passos serviram como péssimas sinalizações (principalmente a alteração na calada da noite da Lei das Estatais, permitindo que Mercadante fosse nomeado). 

Se continuar nesse caminho, as coisas têm maiores chances de explodirem até mais rápido do que aconteceu com a Dilma, uma vez que o próximo Congresso é ainda mais conservador. A postura do governo eleito tem enterrado o bom desempenho relativo dos ativos brasileiro no ano. Outros pontos de atenção do dia devem ser a divulgação do IBC-Br e as negociações envolvendo a PEC da Transição. 

· 01:19 — Sinalizações mais positivas 

Ontem, nos EUA, o índice de preços ao consumidor dos EUA subiu 0,1% em novembro, com ajuste sazonal, de acordo com dados do Departamento do Trabalho, o que representa uma desaceleração ainda maior do que o esperado. Na comparação anual, os preços sobem 7,1% frente aos 7,7% registrados em outubro. Sim, a inflação anual ainda está consideravelmente alta, uma vez que a meta de inflação do Fed é de 2%. Ainda assim, a trajetória começa a ser mais positiva, pelo menos para o mercado. 

É importante observar, no entanto, que os resultados de ontem foram impulsionados por um declínio vertiginoso na inflação de bens de 5,1% para 3,7%, resultado de distorções pandêmicas anteriores e desafios da cadeia de suprimentos. Infelizmente, serviços e salários elevados tornarão mais difícil para o Fed construir seu pivô (mais uma vez o mercado parece estar agindo de maneira ansiosa demais) e hoje poderá ser um bom termômetro para isso. 

Afinal, teremos na tarde desta quarta-feira a última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto de 2022. Espera-se que o aperto monetário reduza seu ritmo para uma alta de 50 pontos base. Vale notar que, apesar da redução da alta, os juros ainda estão subindo e vão continuar assim pelo menos na primeira metade de 2023. Provavelmente, as taxas vão ficar em patamares elevados por mais tempo, provocando uma recessão, ainda que pequena. O mercado parece não perceber isso. 

· 02:21 — O relatório da Opep+ 

Ontem, o mercado pode avaliar um relatório positiva da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+), que sinalizou previsão de alta da demanda global por petróleo em 2022 se mantendo em 2,5 milhões de barris por dia, bem como se mantendo em 2023 em 2,2 milhões de barris por dia. A notícias vem impulsionando o mercado de petróleo, que já voltou para cima de US$ 80 por barril. 

Havia um temor de que os ruídos sobre uma recessão pudessem impactar muito negativamente a demanda por petróleo, mas o cartel acredita que não. Ao mesmo tempo, a oferta ainda parece restrita, com crescimento da oferta de petróleo em 2022 e 2023 em ritmo menos acelerado que o crescimento da demanda. Como temos falado, ainda que o curto prazo seja desafiador para o preço do barril, as questões de oferta devem manter a commodity negociando em patamares elevados nos próximos anos. 

· 03:05 — Mais flexibilizações na China 

A flexibilização da política de “zero-Covid” da China concedeu à economia e aos mercados chineses um impulso importante à medida que nos aproximamos de 2023. De acordo com algumas das novas regras introduzidas pelo governo chinês ao longo dos últimos dias, cidadãos com sintomas leves ou pouco sintomáticos já podem se isolar em casa, e o teste obrigatório não é mais exigido para quem viaja dentro do país. 

As medidas fazem parte da política mais branda de zero-Covid do país e marcam o maior relaxamento das regras pandêmicas da China até o momento, o que é importante para a atividade econômica não só do país, mas do mundo. Ou seja, embora o relaxamento das restrições da Covid na China possa não ser do dia para a noite, a reabertura da China deve ter um impacto positivo na economia doméstica. 

Quase todos os países experimentaram uma recuperação econômica quando saíram das políticas da Covid, como vimos no ano passado, e ele é esperado para a China. Dado o enorme tamanho econômico da China e seus fortes laços comerciais com o resto da Ásia, o impacto positivo também será sentido em outros países. Isso será particularmente útil quando a demanda global estiver enfraquecendo e os temores de uma recessão global estiverem se aproximando da realidade.  

· 04:01 — A possível década perdida britânica 

O primeiro-ministro Rishi Sunak enfrenta um importante desafio nos próximos meses. O Reino Unido enfrentará uma possível “década perdida” de crescimento se não forem tomadas medidas para lidar com a queda do investimento empresarial e a escassez de trabalhadores. 

Em uma previsão econômica sombria publicada recentemente, a Confederação da Indústria Britânica (CBI) apontou que três quartos das empresas estão lutando para encontrar os trabalhadores que precisam, defendendo mudanças na política do governo, incluindo um sistema de imigração mais flexível e incentivos fiscais para aumentar o investimento. 

Como vocês devem imaginar, acaba sendo um tema sensível para o Partido Conservador. A Grã-Bretanha está em estagflação, com inflação vertiginosa, crescimento prejudicada, queda na produtividade e no investimento empresarial. As empresas veem oportunidades de crescimento em potencial, mas a falta de otimismo diante dos ventos contrários está fazendo com que parem de investir em 2023. 

O Reino Unido é a única economia do G7 que ainda não se recuperou totalmente da pandemia. O aumento dos custos de energia e alimentos levou a inflação a uma alta de 41 anos em outubro. Agora, greves generalizadas se tornaram o novo normal nos últimos meses, à medida que os trabalhadores sentem o agravamento da crise do custo de vida. Nesta trajetória, veremos uma década perdida de crescimento. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.