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Mercado em 5 minutos

É que um carinho, às vezes, cai bem

Mercados globais têm movimentações negativas depois da sinalização de que os aumentos agressivos das taxas de juros pelo mundo levarão a economia a uma recessão

Por Matheus Spiess

16 dez 2022, 09:36 - atualizado em 16 dez 2022, 09:36

Carinho cai bem - Mercado em 5 minutos
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram a semana predominantemente em baixa nesta sexta-feira (16), acompanhando as movimentações negativas dos mercados globais durante ontem, com os investidores permanecendo cautelosos, já que os aumentos agressivos das taxas de juros pelos bancos centrais globais levarão a economia a uma recessão — avisamos que o otimismo internacional recente era fruto de ansiedade e afobação.

Há também relatos de que as mudanças do governo chinês em sua política de zero-Covid resultaram em infecções generalizadas em Pequim, mas os números de casos não estão sendo relatados oficialmente. Naturalmente, teme-se que, consequentemente, as autoridades possam reverter os afrouxamentos, prejudicando a economia. Os mercados europeus e os futuros americanos amanhecem em queda.

A ver…

· 00:33 — Adiamento

Internacionalmente, algumas ADRs brasileiras acompanham o humor estrangeiros e caem nesta manhã no pré-market de NY, também digerindo a incerteza política local. Nem as commodities conseguem se salvar, com queda por conta do temor relacionado com a desaceleração da atividade econômica. O problema é que o ambiente local não é mais tranquilo, com um impasse político relevante colocando incerteza sobre a PEC, que acabou ficando travada na Câmara e sendo adiada para terça-feira que vem (o Orçamento para 2023 deverá ser votado na quarta-feira).

Se esperava resolver tudo isso até dia 15 de dezembro, de modo a garantir o pagamento do Auxílio Brasil em R$ 600 para o mês de janeiro e de não ter paralisação de serviços e obras. A ideia era que semana que vem servisse apenas para a formalização final do Orçamento, mas as expectativas foram frustradas. O recesso legislativo começa depois do dia 22, então semana que vem é a última janela possível para a aprovação, que não é tão certa, principalmente por conta dos atritos provocados pela votação do STF sobre a constitucionalidade do Orçamento Secreto. Muito ruído pela frente.

Na Suprema Corte, o placar está, por enquanto, 5 a 4 contra as emendas do relator. Faltam os votos de Gilmar Mendes e Lewandowski, que poderiam inverter o cenário e tornar constitucional o movimento do Congresso. A sessão, porém, só voltará na segunda-feira, às 10 horas, um dia antes da análise da PEC pela Câmara. O mercado tem reagido a cada notícia nova de Brasília, transformando o nosso dia a dia em uma verdadeira loucura volátil. Lula voltou para Brasília para negociar mais ministérios e demais postos para aprovar a proposta. Ainda tem água para rolar.

· 01:56 — Para onde foram os otimistas americanos?

Ontem, nos EUA, o S&P 500 teve sua pior queda desde o início de novembro, em meio a preocupações sobre uma recessão iminente e por quanto tempo o Federal Reserve manterá as taxas de juros elevadas para combater a inflação. Outra preocupação importante para o mercado é a taxa terminal — ou seja, onde a taxa de juros eventualmente termina no final de seu regime de aperto de taxa (atualmente, estamos na faixa entre 4,25% e 4,5% ao ano).

O Fed sinalizou uma taxa terminal entre 5,0% e 5,25% em 2023, mas mercados de trabalho fortes e inflação elevada de serviços preocupam o Fed com a persistência da inflação. Em outras palavras, a taxa pode ir além desse patamar e, depois de alcançá-lo, ficar por lá algum tempo, até que as expectativas fiquem ancoradas novamente. Até que o mercado consiga avaliar isso corretamente, continuaremos passando por muita volatilidade e sofrendo com bear market rallies (pequenas altas em mercados de baixa).

· 02:44 — Não é só nos EUA

O Federal Reserve, dos EUA, o Banco da Inglaterra, do Reino Unido, e o Banco Central Europeu, da Zona do Euro, aumentaram suas taxas de juros em 50 pontos-base nesta semana, indicando adicionalmente mais aperto monetário nos próximos meses para conter a inflação. Destaque para o BCE, que esteve nos últimos 10 anos com uma postura consideravelmente relaxada e que agora tem falado grosso com o mercado, reforçando sua postura hawkish (contracionista) — por lá, os juros subiram para 2% e ainda devem alcançar 3% em 2023.

Surpreende o comentário duro de Christine Lagarde, presidente da autoridade monetária, que teve contornos bem sérios sobre a inflação, apesar do recuo recente no nível dos indicadores de preços. Por outro lado, o Banco da Inglaterra, que começou a subir os juros antes, começou a aplicar um tom mais comedido (quem sobe antes, terminar de subir primeiro, como é o caso brasileiro). O problema é que, enquanto a postura contracionista continuar, os mercados europeus continuarão sofrendo.

· 03:32 — Mais oferta de petróleo

O preço do barril de petróleo cai nesta manhã. Não é só o receio com a demanda, por conta da atividade global, que deve desacelerar (entrar em recessão em alguns casos), mas também por conta da oferta. Nos EUA, o oleoduto Keystone (capacidade de capacidade de 610 mil barris por dia) voltou a funcionar parcialmente depois de ficar fechado por mais de uma semana devido a um vazamento no dia 7.

Nem toda a operação voltou ao normal, mas um trecho que se estende de Hardisty, em Alberta (Canadá), a Wood River e Patoka, em Illinois (EUA), já está operacional, enquanto o segmento afetado pelo vazamento permanece isolado. De qualquer forma, se antes a falta de oferta havia pressionado na margem os preços para cima, a retomada da atividade do oleoduto deveria pressionar os preços para baixo. 

· 04:14 — E essa tal fusão nuclear?

Nos EUA, o Departamento de Energia anunciou nesta semana que cientistas de um laboratório da Califórnia foram capazes de criar pela primeira vez uma reação de fusão nuclear com ganho líquido de energia. O avanço é significativo. A esperança é que a fusão nuclear, que não produz carbono ou resíduos radioativos, possa ser aproveitada para fornecer energia limpa ilimitada para o mundo e substituir os combustíveis fósseis — para ilustrar, a fusão nuclear libera 4 milhões de vezes mais energia do que a queima de petróleo, carvão ou gás. 

Por décadas, tudo isso foi apenas teórico. A dificuldade até então era promover uma fusão com ganhos líquidos de energia. Foi o que conseguiram: geraram 50% a mais de energia do que o necessário para sua criação. Agora, com a prova de que é possível criar uma reação de fusão nuclear que realmente produz mais energia do que o necessário, podemos começar a tornar essa esperança de energia limpa sustentável uma realidade (poderia liberar energia livre de carbono “virtualmente ilimitada”). Muito tempo e muito dinheiro foram necessários para atingir esse marco. Contudo, precisaremos de mais dinheiro gasto no futuro.

O motivo?

Levará décadas até que iniciativas comercialmente viáveis funcionem fora do laboratório, até mesmo porque ainda precisamos descobrir como transformar a energia criada na reação em eletricidade para os usos do dia a dia. Pelo menos os investidores estão a caminho de investir mais de US$ 1 bilhão em tecnologia de fusão este ano. Sim, é apenas uma fração dos US$ 1,4 trilhão investidos este ano em energia limpa, mas já é alguma coisa (o mercado geral de fusão pode valer US$ 40 trilhões no futuro). Foi um pequeno passo, mas um marco importante para as próximas décadas.

Um abraço,

Matheus Spiess

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.