Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações globais tentam nesta manhã se recuperar de duas semanas de perdas provocadas pela preocupação de que o aperto contínuo da política monetária do Fed dos EUA e de outros bancos centrais desencadearia uma recessão econômica. Os mercados europeus e os futuros americanos estão em alta.
Os mercados asiáticos, contudo, fecharam nesta segunda-feira em baixa, ainda repercutindo o humor negativo da semana passada, em especial da última sexta-feira. Por outro lado, a Conferência Econômica da China sugeriu mais estímulo econômico em 2023, o que seria importante para minimizar os efeitos de uma possível recessão.
O Brasil ainda repercute o noticiário político na última semana de trabalhos no Congresso antes do recesso legislativo. No âmbito internacional, ainda podemos acompanhar o sentimento de aversão ao risco dos mercados globais com uma grande leva de indicadores econômicos nos EUA.
A ver…
· 00:42 — Fora do teto de gastos
Por aqui, os próximos dias serão importantes para definirmos os rumos políticos do país, com a reta final dos trabalhos no legislativo. Começamos com a última chance para que o governo eleito aprove a sua PEC da Transição, na terça-feira, seguida pela votação da formalização do Orçamento de 2023, na quarta-feira. Notadamente, também temos o encerramento da votação no STF hoje sobre a constitucionalidade das emendas de relator — se proibidas, um grande mal-estar será criado entre os parlamentares, que já não estão tão felizes com as últimas movimentações.
Lula tem negociado cargos em seu governo (serão 37 ministérios) com Lira e seus aliados — quem dormiu sonhando com Simone Tebet, Marina Silva e Pérsio Arida, vai acordar bem abraçado com o PT e com o Centrão. Com essa quantidade de ministros, talvez você, leitor, também faça parte do governo e ainda não sabe. Ao mesmo tempo, uma decisão de Gilmar Mendes no final de semana para tirar o Bolsa Família do teto de gastos também gera atrito, tirando parte do poder de barganha do grupo de Lira (o ministro do STF considerou legal o pagamento por meio de crédito extraordinário).
Do ponto de vista econômico, a situação é bem ruim. Teremos dados de inflação prévia oficial de dezembro, o IPCA-15, que será um dos destaques dos próximos dias, mas o problema mesmo fica para as perspectivas fiscais. Como muito bem colocou o economista-chefe do BTG, Mansueto Almeida, as incertezas em torno das regras fiscais, que devem ser alteradas no começo do ano que vem, com um novo arcabouço ainda desconhecido, trazem o risco da Selic ficar estacionada no patamar atual por mais tempo, ou ter uma redução mais lenta. A consequência potencial? Dólar alto e Bolsa para baixo.
· 01:59 — Olhando para frente
Na semana passada, nos EUA, os índices caíram pelo terceiro dia consecutivo, após grandes movimentos positivos na segunda e terça-feira. O grande vetor de receio? O Federal Reserve elevou as taxas pela sétima vez consecutiva na quarta-feira, e o presidente do Fed, Jerome Powell, continuou com seus comentários contracionistas sobre a necessidade de combater a inflação. Esse se tornou o ponto central da semana e ainda promete ficar na cabeça dos investidores globais ao longo dos próximos meses.
Agora, as ações americanas têm apenas mais duas semanas para recuperar algum terreno em 2022. Parece improvável. Olhando para frente, 2023 ainda pode ser complicado, com um mercado de ações ainda difícil diante da antecipação a uma recessão. Talvez a recuperação venha apenas em 2024, com perspectivas um pouco melhores. Por enquanto, porém, uma economia fragilizada e um Fed ainda agressivo impedem o nascimento de um final de ano um pouco mais positivo.
· 02:51 — Cancelando o rali de Natal no mundo inteiro
Não foram só os EUA que trouxeram pessimismo para o mercado. De fato, Jerome Powell trouxe o oposto de bom humor na última decisão de taxa do ano, com projeções mostrando taxas de juros consideravelmente mais altas no próximo ano e permanecendo lá. O problema é que outras regiões do mundo não estão ajudando.
A Europa, por exemplo, seguiu o exemplo americano e condenou a possibilidade de um rali de final de ano. A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, foi surpreendentemente agressiva na semana passada, argumentando que a próxima crise econômica será leve e que o BCE não tem planos de mudar de rumo tão cedo.
O mesmo aconteceu no Reino Unido, com um ainda duro, mesmo que relativamente um pouco mais comedido. O sentimento tem piorado e deixando pouco espaço para aquele tradicional otimismo de final de ano, muito por conta da incerteza sobre o ano que vem. Resta saber se haverá algum fôlego marginal nos próximos dias.
· 03:39 — Os problemas europeus
Três coisas chamam a atenção na Europa. Começamos com as pesquisas de opinião sobre o sentimento empresarial no Reino Unido e na Alemanha, que servem um pouco como termômetro das relações econômicas entre os europeus. Qualquer notícia nova positiva poderia servir de suporte para as ações. O problema é que o segundo ponto de relevância é relacionado com geopolítica: os líderes europeus estão reunidos mais uma vez para discutir sobre o teto do preço do gás para a União Europeia.
A proposta mais recente é para um teto de preço mais baixo, mas que não seria imposto se a oferta fosse ameaçada ou as políticas de redução de demanda fossem prejudicadas. Ou seja, as discussões parecem não levar a lugar algum e a situação social fica cada vez mais grave. O que nos traz à última ponderação: os ruídos entre os trabalhadores estão começando a incomodar o mercado. No Reino Unido, por exemplo, os trabalhadores estão se preparando para as maiores greves do país em pelo menos uma década. O ambiente não é trivial na Europa.
· 04:32 — A vitória argentina: ao menos uma felicidade para “los hermanos”
Apesar dos turbilhões de problemas econômicos e políticos do país, os argentinos conseguiram ao menos uma felicidade neste final de ano ao conquistarem o seu terceiro título mundial no domingo. Pode ser positivo? Historicamente, poderíamos falar que sim. Os dados sugerem que o país que vence a Copa do Mundo normalmente experimenta um aumento extra de 0,25% no crescimento econômico nos dois trimestres após o torneio — esse estímulo pode ser atribuído principalmente a um aumento nas exportações à medida que o país eleva sua marca no cenário global (pessoas comprando mais vinhos argentinos do que franceses, por exemplo).
Naturalmente, porém, uma vitória na Copa do Mundo fará pouco para curar os desafios econômicos e políticos de longa data da Argentina, podendo pelo menos servir como um impulso moral para um dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil. Os problemas continuam: i) quase 40% dos argentinos vivem abaixo da linha da pobreza; e ii) a inflação anual deve chegar a mais de 100% em dezembro. Outros pontos negativos incluem secas que estão prejudicando as colheitas, dívidas insustentáveis e polarização política. Com tantas adversidades, “los hermanos” podem ao menos comemorar algumas coisas. 2022 foi deles, quem sabe 2026 será nosso.
Um abraço,
Matheus Spiess
- Receba as melhores ofertas de renda fixa direto no seu WhatsApp, sem pagar nada a mais por isso. Clique aqui para se cadastrar.