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Mercado em 5 minutos

Brilho eterno de uma mente sem Orçamento Secreto

Mercados globais voltam a ter movimentações negativas. No Brasil, votação da PEC da Transição é destaque: o que você precisa saber sobre o mercado nesta terça-feira (20)

Por Matheus Spiess

20 dez 2022, 09:10 - atualizado em 20 dez 2022, 09:11

Mercado em 5 minutos - PEC
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta terça-feira, seguindo as movimentações negativas de Wall Street durante o pregão de ontem, já que os investidores continuam preocupados com abordagens agressivas de política monetária dos bancos centrais em todo o mundo, que podem levar a economia global à recessão no ano que vem. Ao mesmo tempo, a moeda japonesa disparou com a mudança de funcionamento do controle sobre a curva de juros por parte da autoridade monetária. 

Os mercados europeus também começam o dia em queda, mesmo depois dos preços ao produtor alemão de novembro caírem mais do que o esperado (a inflação global pode até cair mais rápido do que o esperado nesta segunda etapa de ciclo, mas a situação é ruim se observada do ponto de vista da atividade econômica). Os futuros americanos também caem nesta manhã, com os dados do mercado imobiliário mostrando queda de preços das casas (a crise já é percebida em alguns setores). 

A ver… 

· 00:43 — É hora de votar uma certa PEC 

No Brasil, diante da ausência de dados econômicos e corporativos, os investidores locais devem se debruçar hoje sobre a votação da PEC da Transição, que ganhou contornos cada vez mais incertos depois das decisões do STF — i) no domingo, Gilmar Mendes tirou do Teto de Gastos o pagamento do Bolsa Família, dispensando a necessidade da PEC para o cumprimento de uma das promessas de Lula; e ii) na sequência, ontem, o colegiado de ministros encerrou a votação que tornou o Orçamento Secreto inconstitucional. Os dois movimentos poderiam ser interpretados como vitórias de Lula, ainda que realizados pelo Poder Judiciário. Lira ficou com seu poder desnutrido e poderia retaliar, alterando a PEC ou criando um ambiente de fracasso para ela. 

Ao longo do dia, apesar de criar um clima ruim entre os poderes e gerar ruídos institucionais, o saldo foi positivo para o fiscal de curto prazo, que poderá ficar sem uma PEC muito exacerbada já na largada. A discussão, porém, ainda está em aberto. O governo eleito manteve o interesse em negociar a aprovação da PEC dando posições ao centrão no governo (a opção é pela governabilidade). Hoje o dia vai variar muito em função do que acontecer em Brasília com a votação da PEC e com o anúncio de mais nomes da equipe de Haddad, que vai apresentar os secretários do Tesouro, da Receita e de Política Econômica da Fazenda — se nomes bons como Felipe Salto e Marcos Cruz estiverem no meio, o mercado pode receber bem o movimento.  

· 01:48 — Dias de luta e dias de… mais luta 

Nos EUA, não houve um grande catalisador principal, mas as ações caíram mais uma vez — os três principais índices tiveram a quarta sessão consecutiva de queda. O momento não é bom na véspera do que deveria ser o início do rali de Natal. Historicamente, entre os ativos americanos, o período que começa em 23 de dezembro (os cinco dias de negociação do ano que está acabando e os dois primeiros do ano seguinte) é marcado por um ganho médio de 1,4% desde 1950 para o S&P 500, tendo registrado uma alta em quase 80% das vezes. Algo a se pensar. 

Paralelamente, como vimos ontem, os aumentos das taxas de juros por parte do Fed já estão claramente causando impacto no mercado imobiliário, com os preços das casas caindo, já dando sinais de que uma recessão está por vir. O custo mais alto dos empréstimos pode destruir a demanda do setor. Contudo, o Fed quer ver essa queda de demanda relacionada às taxas de juros irem além da habitação. Em algum momento isso irá acontecer, e é por isso que as preocupações sobre uma recessão são generalizadas. Até lá, a autoridade deverá manter seu tom agressivo sobre sua postura monetária. 

· 02:40 — Olhando para o futuro dos semicondutores 

A Taiwan Semiconductor Manufacturing fez história com um dos maiores investimentos estrangeiros nos Estados Unidos. A empresa anunciou recentemente planos para construir sua segunda fábrica de semicondutores (chips) no Arizona, aumentando seu investimento no estado para US$ 40 bilhões. O evento contou inclusive com a presença do presidente Biden, além de CEOs que serão beneficiados com o aumento da produção de chips, como Tim Cook, da Apple, e Jensen Huang, da Nvidia. 

Vale lembrar que a TSMC divulgou anteriormente um plano de investimento de US$ 12 bilhões para construir sua primeira fábrica no Arizona, programada para fabricar chips de 5 nanômetros (e posteriormente alterados para 4 nanômetros) com produção em massa prevista para 2024. Agora, a construção no segundo local será para a fabricação de chips de 3 nanômetros (o menor disponível hoje), com a produção programada para começar em 2026. Quanto menor, melhor. Assim que as fábricas entrarem em operação, espera-se que forneçam chips suficientes para atender à demanda anual dos EUA de 600 mil semicondutores (wafer) por ano. 

Os semicondutores são a base de todo o aparato tecnológico da eletrônica pessoal, bem como dão base para o futuro da computação quântica e da Inteligência Artificial. Se os EUA não precisarem de ninguém para produzirem os semicondutores que demandam, o início do processo de regionalização do mundo pode ser mais rápido do que se esperava. A aprovação do CHIPS and Science Act no início de agosto ajudou a garantir que empresas como a TSMC expandissem sua presença nos EUA. Mais sinalizações assim são esperadas para os próximos anos. 

· 03:49 — Uma decisão inusitada 

Em decisão anunciada nesta terça-feira, o Banco Central do Japão (BoJ, ou Bank of Japan) mudou a sua tradicional política de controle da curva de juros — aumentou o limite superior para sua meta de títulos do governo de 10 anos do intervalo de -0,25% a +0,25% para -0,50% a +0,50%. Em outras palavras, a taxa que a autoridade monetária almeja é mais alta hoje do que ontem. 

O impacto econômico (real) será até que suave, ao menos no curto prazo, mas os desdobramentos financeiros podem ser consideráveis. Com isso, mesmo tendo mantido a taxa de depósitos em si negativa, em 0,10% ao ano, o iene ganhou impulso e se fortaleceu, recuperando os patamares verificados entre junho e julho. A era do almoço grátis e da exacerbação da liquidez realmente parece ter terminado. 

· 04:24 — A oportunidade dos mercados emergentes 

Para nações em desenvolvimento que já caíram em dificuldades de endividamento, como Sri Lanka, Paquistão e várias economias africanas, as taxas de juros mais elevadas ao redor do mundo todo podem se tornar uma grande dor de cabeça. 

Por outro lado, se de fato a inflação começar a esfriar de maneira mais contundente, reduzindo os yields das curvas do país central, há espaço para um aprimoramento de cenário marginal — a queda das taxas de longo prazo criará pelo menos algum ambiente para desacelerar os aumentos de juros ou encerrar o ciclo de aperto monetário. 

Ao mesmo tempo, a reabertura da China significa que os gastos do consumidor devem aumentar 7% no próximo ano, de apenas 0,2% este ano. Esse tipo de caso base reforça as expectativas de que os países emergentes devem superar com folga os desenvolvidos no próximo ano, em uma reversão ao modelo dos últimos 10 anos. 

Em outras palavras, os países em desenvolvimento foram mais atingidos pela pandemia e os problemas da cadeia de suprimentos global exacerbados pela invasão russa da Ucrânia. No próximo ano, eles provavelmente terão maior resiliência. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.