Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia predominantemente em alta nesta quarta-feira, com os investidores procurando por pechinchas após as recentes correções por temores de recessão — nem a queda nas exportações sul-coreanas atrapalharam a festa. Entretanto, alguns investidores ainda estão relutantes em voltar aos mercados em meio à persistência das preocupações com relação aos aumentos agressivos nas taxas de juros, que continuarão no próximo ano.
Os mercados europeus também estão em alta, assim como os futuros americanos. A alta generalização no exterior também se espraia para o mercado de commodities, que acompanha o bom desempenho, pelo menos nesta manhã. O contexto, portanto, não é impeditivo para uma alta dos ativos brasileiros, que nos últimos dois dias conseguiram recuperar parte do espaço perdido entre novembro e dezembro — a diluição dos prêmios na curva de juros e o squeeze sobre os vendidos ajudaram.
A ver…
· 00:43 — Segundo Turno
No Brasil, os investidores voltam a se debruçar exclusivamente sobre o ambiente de Brasília, que nos últimos dias conseguiu promover um humor melhor entre os investidores — os movimentos do STF promoveram uma resposta dos parlamentares, que puniram Lula reduzindo a PEC. Naturalmente, a impressão é que a situação deixa um legado negativo para a institucionalidade entre poderes, mas, ao mesmo tempo consegue apagar no curto prazo parte do risco fiscal que penaliza os ativos locais.
O segundo turno na Câmara da PEC da Transição, agora válida por apenas um ano, ficou para hoje — o texto manteve os R$ 168 bilhões de gastos (R$ 145 bilhões fora do teto e R$ 23 bilhões arrecadados fora da regra, proveniente das receitas extraordinárias). O processo foi negociado pelo próprio Haddad, que deverá apresentar hoje os secretários do Tesouro Nacional e da Política Econômica da Fazenda, o que também poderá promover otimismo a depender dos nomes anunciados.
Se aprovada em segundo turno, o texto volta para o Senado e poderá ser votado ainda hoje. Com isso, o Congresso fechará o Orçamento para 2023 hoje, conforme o previsto, encerrando a saga da PEC da Transição e deixando aberto o mercado brasileiro para um agora possível “rali de final de ano”. O próximo tema que deverá impactar a curva de juros será a nova âncora fiscal, que foi prometida por Haddad para o começo do ano que vem. Mais volatilidade pode estar se aproximando em 2023.
· 01:55 — Quebrando a sequência de perdas
Nos EUA, os investidores também estão procurando por um tímido “rali de Natal”. O mercado americano quebrou a sequência de quatro dias de quedas seguidas, fechando ligeiramente em alta na terça-feira, mesmo com as preocupações sobre a demanda durante a temporada de festas. Os futuros denunciam a possibilidade de mais um dia de alta hoje, o que poderia espraiar para demais mercados em forma de otimismo.
Há uma avaliação de que a recente série de perdas nas ações foi exagerada para o curtíssimo prazo, ainda que haja espaço para correções adicionais ao longo dos próximos meses, ao passo em que o Fed continua apertando sua política monetária, a recessão se aproxima e os resultados corporativos começam a piorar. Para hoje, o índice de confiança do consumidor em dezembro pode ajudar a dar impulso adicional.
· 02:35 — A dor de cabeça britânica
Todos sabemos que os países centrais tiveram um 2022 em que tentaram imitar os países emergentes, em especial por meio de sintomas inflacionários. Poucos, porém, tiveram tanto sucesso quanto os britânicos, que por alguns momentos no ano realmente se pareceram com um de nós. Verificamos alta nos ativos nesta manhã, mas a situação não é tão confortável. A começar pelo endividamento do setor público do Reino Unido, que foi um pouco maior do que o esperado, tornando-se sensíveis politicamente — vimos o que o temor fiscal fez recentemente com os ativos ingleses.
Por outro lado, o índice de sentimento empresarial do Reino Unido mostrou força em dezembro, o que é uma novidade, depois de um choque de realidade ao longo dos últimos meses, principalmente durante a curta gestão de Liz Truss. Ainda assim, os consumidores do Reino Unido continuam assustados com a ameaça de aumentos nos preços da energia e não estão dispostos a cortar poupanças e contrair mais empréstimos. Em outras palavras, a recessão pode chegar primeiro no Reino Unido, ao menos antes do que em outros países europeus, também em situação delicada.
· 03:28 — Mais casos de Covid
Na China, o governo paralisou a testagem em massa de Covid, principalmente depois da onda de protestos no mês passado, que impulsionou medidas de relaxamento das restrições impostas até então. O problema é que a contaminação está crescendo bastante, com aumento de casos nas unidades de saúde e na demanda do serviço funerário. Sem os dados oficiais, porém, fica difícil interpretar a gravidade da situação.
Alguns relatos afirmam que o número de mortes disparou em várias cidades, como em Chongqing e em Cantão. Até o Departamento de Estado dos Estados Unidos indicou que o aumento de infectados pelo Covid na China deveria ser visto como uma preocupação internacional, com vários modelos prevendo uma onda que pode matar um milhão de chineses. O temor é que a situação proporcione restrições renovadas.
· 04:08 — Um teto de preços
Após meses de debate, a Europa finalmente concordou com um teto para os preços do gás natural. Até então, as autoridades europeias não haviam chegado a um consenso sobre se a controversa medida protegeria as famílias e empresas europeias de picos extremos de preços à medida que as temperaturas despencam, uma vez que mexer no mecanismo de preços de qualquer economia pode se provar um tiro pela culatra. No início desta semana, porém, elas chegaram a um acordo.
Com o movimento, os ministros de energia da União Europeia concordaram em acionar um limite para o preço dos futuros de gás natural do mês seguinte no Dutch Title Transfer Facility (TTF), o contrato de gás de referência do bloco, em € 180 (ou US$ 191) por megawatt-hora se exceder esse nível por mais superior a três dias úteis consecutivos. O limite também se aplicará às negociações de gás de três meses e do ano seguinte e permanecerá ativo por pelo menos 20 dias úteis depois de acionado.
Previsto para entrar em vigor a partir de 15 de fevereiro do próximo ano, o limite funciona como a mais recente medida de uma série de propostas acordadas pela União Europeia este ano para conter uma crise de energia desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que elevou os preços e alimentou a inflação mais alta em décadas — a situação ainda é crítica, mas mais estável, principalmente depois da grande estocagem promovida.
As preocupações permanecem, porém, com a medida podendo piorar possíveis choques de oferta. Será algo para avaliarmos ao longo dos próximos meses, em paralelos à elevação dos juros, à recessão e à guerra na Ucrânia. Os mercados europeus parecem pouco atrativos, apesar de já negociarem em níveis bem descontados — lembre-se que o que está barato pode ficar ainda mais barato.
Um abraço,
Matheus Spiess
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