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O que esperar dos dividendos da Petrobras (PETR4) em 2023?

Queda nos dividendos da Petrobras é esperada, mas analistas ainda veem proventos da companhia em 2023 com bons olhos; entenda

Por Juan Rey

10 jan 2023, 17:41 - atualizado em 11 jan 2023, 10:01

Petrobras PETR4 dividendos
Imagem: Flickr

Uma das principais preocupações dos investidores desde a eleição de Lula são os dividendos da Petrobras (PETR4). Afinal, o que será deles?

É importante frisar que a queda no pagamento de proventos pela petroleira em 2023 já era esperada, independente de quem fosse o presidente eleito, principalmente por dois fatores:

  • Queda no preço do petróleo em 2023;
  • represamento de dividendos durante a pandemia.

Por conta da guerra na Ucrânia, o preço do petróleo ficou acima de US$ 100 durante boa parte de 2022. Para efeito de comparação, no dia 8 de março, semanas após o início do confronto na Europa, a commodity atingiu o pico no ano: US$ 127,98. 

O valor é bem superior aos US$ 79,65 que o Petróleo Brent apresentou no fechamento de mercado da última segunda-feira (9), segundo dados da Investing.com.

A queda da commodity ao longo de 2023 já era esperada, e, claro, desacelera a receita da Petrobras e consequentemente afeta os dividendos.

O outro fator que indicava a queda dos proventos em 2023 foi o represamento feito pela estatal durante a pandemia. Por conta das incertezas, a Petrobras segurou o pagamento de dividendos, que foram distribuídos ao longo do ano passado.

Não por acaso, impulsionada por estes dois fatores, a Petrobras ocupou o topo da lista de pagadora de proventos no mundo em 2022. 

Distribuição de dividendos deve cair, mas analistas veem ‘exagero’ do mercado

Ainda assim, os analistas da série Vacas Leiteiras, da Empiricus, veem um certo exagero do mercado com relação aos dividendos de PETR4.

“Como num passe de mágica, todos os modelos de valuation sobre a Petrobras passaram a considerar uma redução drástica no payout da companhia para 25%, o mínimo exigido por lei”, questionaram em relatório recente. 

Para eles, não resta dúvida que os proventos irão diminuir em relação aos últimos anos. O próprio CEO da estatal, Jean Paul Prates, já disse ser um absurdo a estatal pagar muito mais dividendos do que os pares internacionais.

“Além disso, o novo governo tem insistido que a Petrobras passará a investir mais em energia renovável, refinarias, além de frear o plano de venda de ativos pouco rentáveis”, escreveram os analistas.

Todos esses são indícios de que o payout da companhia – que distribuiu, em média, quase 80% do lucro líquido nos últimos anos – deverá diminuir. 

Mas o que “surpreende” os analistas é o fato de o mercado “achar que o governo realmente conseguirá reinvestir 75% do lucro líquido”.

Veja o exercício dos analistas acerca dos dividendos de PETR4 para 2023

Já considerando a queda do petróleo de acordo com a curva de contratos futuros, os analistas projetaram uma geração de lucro em torno de R$ 100 bilhões por ano nos próximos dois anos (contra R$ 183 bilhões em 2022).

Com isso, discorrem os analistas, o Fluxo de Caixa Operacional Médio ficaria na casa dos R$ 160 bilhões (contra R$ 214 bilhões em 2022). 

Como no Plano Estratégico 2023-2027 a companhia prevê investimentos na ordem de R$ 85 bilhões nos próximos dois anos, o Fluxo de Caixa Livre restante de R$ 75 bilhões poderia ser reinvestido ou distribuído aos acionistas.

Considerando o lucro em torno de R$ 100 bilhões e a redução drástica do payout para 25%, R$ 25 bilhões seriam distribuídos em forma de dividendos, e sobrariam ainda R$ 50 bilhões para o governo investir onde quiser.

Considerando que o governo tem intenção de investir “pesado” em geração renovável, os analistas fizeram o seguinte exercício:

  • As 11 maiores geradoras de energia do Brasil nos últimos 12 meses (excluindo a própria Petrobras) investiram cerca de R$ 15 bilhões. Quisesse a Petrobras investir o mesmo montante, ainda sobrariam R$ 35 milhões.
  • A Petrobras decide recomprar as refinarias vendidas recentemente: Reman (R$ 1,4 bilhão) e RLAM (R$ 10 bilhões).

Ainda que a estatal optasse por toda essa gastança, sobrariam R$ 23 bilhões para turbinar os dividendos totais distribuídos para R$ 48 bilhões, um payout de 48% e um dividend yield de 14% nos preços atuais. 

Pela forte geração de caixa, PETR4 deve seguir como boa opção para quem busca dividendos

Os analistas reforçam que não estão considerando o congelamento de preços – já rechaçado pelo CEO da Petrobras, Jean Paul Prates. Tal ato afetaria o lucro, a geração de caixa e a capacidade de distribuição de dividendos. 

“O exercício nos ajuda a ter uma melhor percepção do tamanho da geração de caixa da Petrobras e a criatividade que o governo precisará ter para investir todo esse dinheiro e sumir com nossos dividendos”, finalizam.

É justamente por conta dessa capacidade de gerar caixa que a Petrobras (PETR4) segue no rebanho da série Vacas Leiteiras, que contempla as melhores pagadoras de dividendos da B3. 

Vale frisar que os analistas estão falando estritamente sobre o portfólio de dividendos. No caso das carteiras que buscam valorização das ações para ganho de capital, a recomendação da Empiricus Research é de venda dos papéis da estatal.

Nesta matéria você pode conferir os motivos que levaram PETR4 a despencar e os motivos do temor do mercado financeiro com relação à rentabilidade da ação em 2023. 

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br