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Mercado em 5 minutos

Pague seu imposto em dia: ajuste fiscal de Haddad no horizonte

Investidores acompanham indicações amplamente positivas dos mercados globais no pregão de ontem. No Brasil, ajuste fiscal de Haddad é destaque

Por Matheus Spiess

13 jan 2023, 09:04 - atualizado em 13 jan 2023, 09:04

Mercado: Marquinhos, aleatoriedade e efeito MoneyBall Haddad pode ser Palocci
Imagem: Febraban

Bom dia, pessoal. Lá fora, as principais bolsas de valores asiáticas fecharam em alta nesta sexta-feira, após o último relatório sobre o superávit comercial da China, que superou as expectativas. Os investidores também acompanharam as indicações amplamente positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, com dados mostrando uma queda na inflação dos preços ao consumidor nos EUA no mês de dezembro.

Foi a primeira vez que vimos um movimento como o registrado ontem nos preços em mais de dois anos e meio, elevando as expectativas de que o Fed vai desacelerar o ritmo de alta de juros nos próximos meses. Os mercados europeus dão sequência ao bom humor nesta manhã, apesar da resistência dos futuros americanos. Há tensão por conta do início da temporada de resultados. No Brasil, digerimos o ajuste fiscal de Haddad.

A ver…

· 00:40 — O mercado nem ligou para a possibilidade de déficit zero em 2023

Por aqui, contamos hoje com o dado do IBC-Br de novembro do ano passado, que pode confirmar uma desaceleração econômica. Apesar da proxy do PIB ser importante, sem dúvida, o que se discute mesmo é a difusão do problema das Lojas Americanas e os desdobramentos do plano fiscal do Haddad, que sequer empolgou os investidores ontem. Em relação ao primeiro ponto, vimos ontem a queda de 77% de Americanas, a maior desvalorização de uma ação do Ibovespa desde 1994. Há um temor de que as inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões, criadas ao longo da última década, possam ter efeito nos bancos, o que seria sistematicamente negativo.

Fora o problema corporativo gigantesco das Lojas Americanas, também debatemos a possibilidade de zerarmos o déficit ainda em 2023. Haddad apresentou na quinta-feira suas primeiras medidas, as quais preveem uma reversão do déficit de mais de R$ 231 bilhões neste ano para um superávit de R$ 11 bilhões. Claro, tal movimento tão agressivo seria no melhor dos mundos. Haddad entende que pode conseguir ao menos parte disso, levando o déficit neste ano para algo entre 0,5% e 1% do PIB. Ruim, sim, mas bem melhor do que esperávamos. O problema é que 80% do ajuste vem por conta de uma arrecadação maior. Pague seu imposto em dia, o governo vai precisar.

· 01:47 — Repercutindo a desaceleração da inflação americana.

Nos EUA, o índice de preços ao consumidor aumentou a uma taxa anual de 6,5% em dezembro, ante 7,1% em novembro. O núcleo, que exclui alimentos e energia, subiu a uma taxa anual de 5,7% (abaixo da taxa de 6% do mês anterior). Os números vieram em linha com o esperado, sem surpreender, confirmando a tese de desaceleração da inflação nos EUA. A questão agora é se os preços serão capazes de continuar caindo até a meta de 2% do Fed ou se a inflação se estabilizará em algum lugar acima de onde o banco central gostaria que estivesse, o que seria um problema.

As autoridades do Fed estão cautelosas em desistir de aumentar os juros sem evidências convincentes de que a inflação não está apenas desacelerando, mas voltando para a meta. Basicamente, portanto, o banco central ainda está a caminho de aumentar as taxas novamente em sua reunião de 31 de janeiro a 1 fevereiro. Ainda se espera que o Fed dos EUA aumente as taxas em pelo menos 25 pontos-base em sua próxima reunião. Isso não muda o fato de que ainda teremos mais altas depois de fevereiro e que os juros ficarão em patamares elevados por mais tempo.

· 02:47 — A temporada de resultados começa

Ainda em solo americano, a sexta-feira traz o início da temporada de resultados do quarto trimestre, com algumas grandes empresas dando início às festividades, incluindo JPMorgan Chase, Bank of America, UnitedHealth Group e Delta Air Lines. A grande maioria do S&P 500 reportará ao longo do próximo mês e meio.

Poucos estão esperando um bom quarto trimestre. No total, espera-se que as empresas do S&P 500 relatem seu primeiro trimestre negativo desde 2020. Prevê-se que o lucro por ação caia 2,2% na comparação anual, após crescimento de aproximadamente 4,4% no terceiro trimestre e 8,4% no segundo trimestre. As perspectivas de consenso para o quarto trimestre tornaram-se muito mais sombrias à medida que 2022 avançava, precificando uma recessão.

A estimativa atual do mercado levaria o lucro por ação do S&P 500 de 2022 a US$ 219,80, o que representaria um aumento de 5,6% no ano. É provável que acabe um pouco melhor do que isso, já que a maioria das empresas tende a superar as estimativas de consenso. A receita, no entanto, deve aumentar 4,1% na comparação anual no quarto trimestre, para US$ 3,7 trilhões, e 11,2% em todo o ano de 2022, para US$ 13,8 trilhões. O fato de que as vendas estão crescendo, mas os lucros estão caindo, é um sinal de que as margens de lucro atingiram o pico neste ciclo.

· 03:55 — A balança comercial chinesa

Durante a nossa madrugada, o mercado internacional repercutiu a divulgação da balança comercial chinesa, que mostrou que exportações e importações da China caíram forte em dezembro, mas bem menos do que o esperado, o que impulsionou os ativos asiáticos e as commodities, fator que poderá beneficiar o Brasil hoje, já que somos historicamente muito sensíveis ao desempenho das matérias-primas.

Vemos que a desaceleração da demanda global por bens e as políticas de zero-Covid cobram um preço elevado, mas não tanto quanto se projetava. Em dezembro, as exportações caíram 9,9% na comparação anual, enquanto as importações caíram 7,5%. Resta entender como a nova dinâmica das cadeias de suprimentos (mais curtas, mais diversificadas e mais resilientes) afetará a balança comercial chinesa.

· 04:30 — O bom desempenho do ouro

O ouro está passando por um momento em que os investidores apostam que a inflação continuará sua trajetória de queda e os aumentos agressivos das taxas do Federal Reserve logo terminarão. Desde a mínima de setembro, o ouro já sobe mais de 17% e agora já negocia acima de US$ 1.900 por onça.

Tradicionalmente, os investidores tendem a migrar para ativos que oferecem retornos regulares, como títulos do governo, quando as taxas de juros estão subindo. Tanto é verdade que os preços do ouro caíram no ano passado, ao passo em que o Fed começou a aumentar as taxas de juros em sua tentativa de domar a inflação.

Agora, porém, o mercado espera cada vez mais que o Fed recue nesses aumentos de juros à medida que os preços ao consumidor diminuem, aumentando a demanda por ouro. Poderá ser uma posição interessante para 2023, já que os yields e o dólar perdem força, enquanto as incertezas globais permanecem.

Um abraço,

Matheus Spiess

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.