Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta quarta-feira, apesar dos sinais negativos de Wall Street durante o pregão de ontem, com os investidores avaliando cautelosamente os dados econômicos recentes de todo o mundo e especulando sobre a postura do Banco do Japão, que deve se afastar nos próximos meses de sua política monetária ultrafrouxa, verificada na última década.
Os mercados europeus e os futuros americanos até tentam enveredar por um tom mais positivo em sua maioria, mas não há unilateralidade do movimento, pelo menos por enquanto. Os investidores globais estão atentos à agenda carregada com inflação da Zona do Euro, índice de preços ao produtor americano, Livro Bege do Fed e relatório sobre o mercado de petróleo da Agência Internacional de Energia.
A ver…
· 00:38 — Mais uma vez estamos discutindo salário-mínimo
Por aqui, no Brasil, os investidores ainda se preocupam com os desdobramentos do caso Americanas e a possibilidade de um aumento real do salário-mínimo acima do já contratado. Ontem, tivemos um dia de alívio que pode voltar a acontecer, a depender do resultado da reunião entre Lula e as lideranças das centrais sindicais, que pedem por mais aumento real do salário-mínimo, o que impactaria as contas públicas.
Ao que tudo indica, o salário mínimo deve permanecer em R$ 1.302, pelo menos por enquanto. Haddad está em Davos e precisa voltar para se identificar espaço no Orçamento com sua equipe para que qualquer movimento seja realizado. Eventualmente, o valor de R$ 1.320 pode até ser oficializado, o que inviabilizaria zerar o déficit já em 2023, deixando a tarefa para o ano que vem.
· 01:17 — A agenda americana
Nos EUA, a agenda é carregada, mesmo com a temporada de resultados não tendo o dia mais pesado nesta terça-feira — cerca de 27 empresas do S&P 500 devem reportar seus resultados nesta semana, com 87 resultados na próxima semana (contamos hoje com nomes como Charles Schwab, Alcoa e Prologis, mas nada muito além disso).
Já no aspecto econômico, temos o índice de preços ao produtor para dezembro, que deve subir 6,8% na comparação anual, enquanto o núcleo, que exclui os itens mais voláteis, deve subir 5,4% no ano. O número, caso confirmado, seria uma moderação em relação ao mês de novembro, abrindo espaço para um Fed menos agressivo.
Além do dado de preços, temos também fala de autoridades monetárias, com dois Fed boys falando e podendo trazer novidades, e as vendas no varejo, que devem cair 0,6% na comparação mensal — excluindo automóveis, as vendas devem cair 0,4% em comparação com uma queda de 0,2% anteriormente.
· 02:03 — O Livro Bege
Ainda nos EUA, o Federal Reserve divulga hoje o livro bege pela primeira das oito vezes neste ano. O relatório resume as condições econômicas atuais por meio de evidências coletadas pelos 12 bancos regionais do Federal Reserve.
Se as expectativas estiverem certas, devemos caminhar para uma probabilidade de recessão nos próximos 12 meses de 61%, ante 63% em outubro. Ao mesmo tempo, o PIB americano deve crescer a uma taxa anual de 0,1% no primeiro trimestre, podendo contrair 0,4% no segundo.
Os dados de trabalho e de comércio também devem ser foco, mas o mercado tem errado tanto nas projeções sobre eles depois da pandemia, que eventuais surpresas começam a perder relevância (se você já sabe que será surpreendido, não é uma surpresa, afinal). Os desdobramentos sobre os resultados corporativos, no entanto, devem ser avaliados com lupa, uma vez que tudo se trata dos lucros das empresas.
· 03:05 — Um novo mundo
Além do Fórum Econômico Mundial, em Davos, tivemos nos últimos dias a reunião da Associação Econômica Americana, em Nova Orleans, que contou com a participação de algumas das mentes econômicas mais brilhantes do mundo.
Em linha com a temática de Davos, a conferência se atentou para os problemas à frente, à medida que a economia global entra em uma nova era de taxas de juros mais altas, conflitos geopolíticos e incerteza crescentes.
Observamos hoje uma transição do mundo para longe das baixas taxas de juros e do rápido crescimento chinês, ainda que a reabertura da China sirva para ajudar o crescimento global em 2023. Adicionalmente, a rivalidade entre os EUA e a China está se intensificando e as explosões de dívida são mais a norma.
Ao mesmo tempo, o Banco Mundial está preocupado que choques adversos adicionais possam levar a economia global à recessão este ano, acrescentando que os pequenos estados são especialmente vulneráveis. Uma nova era está começando e, provavelmente, os próximos 10 anos serão muito diferentes dos últimos 10 anos.
· 04:01 — Manteve sua postura
No Japão, o iene caiu bastante durante o pregão de quarta-feira: cerca de 2%, enquanto as ações japonesas dispararam mais de 2,4%. O motivo? A autoridade monetária do Japão (Bank of Japan, ou BoJ) não sinalizou, conforme o esperado (havia uma chance de 25% de que o banco central aumente seus principais juros em 10 pontos-base), uma postura menos dovish (não aumentou a taxa e nem alterou o controle da curva de juros).
Em dezembro, o BoJ surpreendeu o mercado de títulos ao aumentar o limite dos rendimentos dos títulos do governo de 10 anos. O iene subiu cerca de 15% em relação ao dólar americano nos últimos três meses, com o último grande banco central mais flexível sinalizando que pode finalmente apertar a política monetária. Ainda há espaço para valorização adicional do iene, seguindo a mesma tese de janela de tempo para o aperto monetário nos próximos meses.
Um abraço,
Matheus Spiess
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