Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos lutaram para subir nesta quinta-feira (19), depois que dados fracos do consumidor nos Estados Unidos alimentaram as preocupações com a recessão e levaram os investidores a ativos seguros, como títulos, enquanto o iene subia com os mercados duvidando dos compromissos de política monetária do Banco do Japão. De certa forma, as ações por lá acompanharam os sinais amplamente negativos de Wall Street durante o pregão de ontem.
Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em baixa, mantendo as preocupações renovadas sobre as perspectivas para as taxas de juros e temores de recessão, já que dados decepcionantes dos EUA mostraram uma queda mais do que esperada nas vendas no varejo e na produção industrial. Adicionalmente, houve também fala dura de autoridade monetária, sugerindo juros acima de 5%. A temporada de resultados segue lá fora, enquanto por aqui nos preocupamos com o fiscal.
A ver…
· 00:45 — Perdeu a oportunidades de ficar quieto
No Brasil, os investidores estarão hoje monitorando alguns dados de inflação, como a prévia do IGP-M, e de emprego, com a Pnad Contínua sendo o grande destaque do dia (taxa de desemprego pode caminhar para 8,1% depois de 8,3% verificado anteriormente). Os últimos dois dias foram positivos para as ações locais, que se recuperam das quedas verificadas desde o estouro do escândalo Americanas e dos ruídos envolvendo o salário-mínimo — as commodities ajudam bastante, com a alta dos preços em nível internacional repercutindo bem a reabertura da China.
O problema é que continuam as preocupações com a questão Americanas, que enfrenta agora um clima bem tenso com os bancos, e com o salário-mínimo. Ontem (18), durante o evento com as lideranças das centrais sindicais, Lula perdeu a oportunidade de ficar quieto, algo que ele raramente consegue fazer, e despejou retórica eleitoral demagógica, falando sobre aumentar o salário mínimo (se acontecer, deverá ficar para maio em diante) e revisar a tabela do IR (algo que não acontece no Brasil desde a década de 1990). Na sequência, em entrevista com a Globo News, o presidente estava indo bem até criticar a independência do BC. Os ruídos podem repercutir mais hoje, infelizmente. Só porque as coisas iam bem nos últimos dois pregões, só porque estávamos felizes com nosso Corcel 73.
· 01:44 — Recessão ou não recessão, eis a questão
Nos EUA, as ações usaram a quarta-feira (18) para corrigir parte dos ganhos que haviam flertado neste início de 2023. O movimento promete ser mantido nesta quinta-feira (19), em um típico dia de aversão ao risco (os investidores buscam a segurança da renda fixa e fogem das ações).
As preocupações com a economia podem ter sido as culpadas; afinal, os dados mostraram que as vendas no varejo de dezembro caíram mais do que o esperado, ao passo que o crescimento do índice de preços ao produtor desacelerou de novembro a dezembro. No fundo, o mercado segue ansioso e confuso.
A outra possibilidade é que os investidores estejam aliviando as posições em algumas ações que tiveram um bom desempenho de mercado no ano passado (em excesso). É um ponto difícil para os que buscam segurança, caso os fundamentos das ações consideradas menos arrojadas não se mantenham conforme o esperado em uma recessão potencial de 2023.
· 02:32 — A temporada de resultados
Hoje, os investidores se preparam para receber os resultados de grandes nomes do mercado nos EUA, como P&G e Netflix. A temporada começou e já tivemos algumas frustrações, mesmo sabendo que, de maneira geral, as coisas estejam bem longe de uma catástrofe. O mercado espera que as empresas do S&P 500 relatem seu primeiro declínio de ganhos ano a ano desde 2020.
Os investidores estão procurando sinais de resiliência nos lucros corporativos, mas prevê-se que o lucro por ação caia 2,2% em relação ao ano anterior. A receita, no entanto, deve aumentar 4,1% no quarto trimestre em relação ao mesmo período de 2021, em um sinal de que as margens de lucro corporativo atingiram o pico neste ciclo.
Espera-se que os setores de energia e industrial sejam discrepantes, gerando crescimento de lucro de 65% e 43%, respectivamente, em relação ao ano anterior. Em contraste, os ganhos com materiais estão previstos para cair 22%; serviços de comunicação devem cair 21%; e consumo discricionário recuar 15%, com gastos potencialmente mais fracos em 2023. Por fim, espera-se que o setor de tecnologia, que responde por quase um quarto do lucro do S&P, mostre uma queda de 9% nos lucros.
· 03:31 — Imbróglios europeus
Os dados de ontem da Zona do Euro e do Reino Unido mostraram algumas das peculiaridades da inflação atual, com preços crescentes para viagens de lazer, bares e restaurantes — os consumidores ainda estão consumindo esses bens. Em outras palavras, a quebra estrutural causada pela pandemia no comportamento do consumidor ainda é subestimada. Coisas que costumavam ser cíclicas e sensíveis ao preço são menos agora. Isso não impede a queda da inflação, mas altera a dinâmica de preços relativos.
O dia é importante em Davos sobre o tema, uma vez que a presidente do BCE, Christine Lagarde, falará no Fórum Econômico Mundial. É improvável que mudar o local torne as observações mais profundas ou relevantes para o mercado, mas qualquer comentário sobre a condução da política econômica europeia pode ser o suficiente para que haja volatilidade adicional no mercado, assim como foi no caso americanas ontem, quando alguns membros do Fed sinalizaram continuidade do aumento dos juros.
· 04:19 — Uma recessão mais branda seria possível?
Após um 2022 difícil para os investidores, pode haver raios de luz surgindo no horizonte neste início do novo ano. O CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, esclareceu recentemente que talvez não devesse ter dito no ano passado que um “furacão econômico” estava chegando. Há nuvens com certeza, mas ele não quis prever um colapso generalizado. Ou seja, amenizou o discurso. Além dele, o economista vencedor do Prêmio Nobel, Paul Krugman, disse que talvez suas preocupações com as perspectivas também estivessem exageradas. Hoje, segundo ele, um pouso suave é mais provável do que parecia apenas alguns meses atrás.
Ao mesmo tempo, fora dos Estados Unidos, as coisas não parecem tão ruins quanto poderiam estar. A reabertura da China após três anos de rígidos bloqueios contra a Covid-19 será instável, mas a maioria dos especialistas a vê como um resultado líquido positivo para a segunda maior economia do mundo. Enquanto isso, na Europa, o fornecimento de gás está se mantendo em grande parte devido a um inverno mais ameno. Claro, ainda devemos ter um ano difícil e com recessão. Mas pelo menos o pior cenário, de catástrofe, parece cada vez mais distante.
Um abraço,
Matheus Spiess