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Investimentos

Netflix (NFLX34): resultados do 4T22 agradam mercado e ações sobem; análise

Além do resultado, Netflix pegou o mercado de surpresa ao divulgar a saída de Reed Hastings da função de Co-CEO

Por Richard Carboni Camargo

20 jan 2023, 09:29 - atualizado em 20 jan 2023, 09:29

Netflix (NFLX34)
Imagem: Divulgação

A Netflix (NFLX34) divulgou na noite de quinta-feira (19) seus resultados do 4T22, que foram muito bem recebidos pelo mercado. Logo após os números se tornarem públicos, a ação subiu cerca de 7% no pregão noturno.

O difícil, neste primeiro momento, é compreender se as ações responderam bem por causa dos números, ou por causa de uma novidade que pegou todo o mercado de surpresa.

Na carta aos acionistas, a empresa comunicou que Reed Hastings — o fundador e figura chave na transformação da Netflix de uma empresa de delivery de DVDs, no maior serviço de streaming do mundo —, deixará de ser Co-CEO.

Ele será substituído por Greg Peters, atual COO da companhia, que passará a exercer junto com Ted Sarandos a função de Co-CEO.

De agora em diante, Reed atuará apenas como Chairman, ou seja, presidente do Conselho da Netflix.

O seu afastamento vem num momento interessante, na esteira da implementação do modelo de anúncios e a mudança no perfil estratégico da empresa, que focará cada vez mais em rentabilidade e menos em crescimento.

Essa mudança, ao menos inicialmente, nos parece reforçar o compromisso da Netflix em perseguir a rentabilidade com mais ênfase nos próximos anos.

Resultados da Netflix no 4T22 vieram em linha com a expectativa

Em relação aos números, podemos dizer que o 4T22 trouxe resultados bastante em linha com o esperado pelos analistas.

A receita foi de US$ 7,85 bilhões (+1,9% na comparação anual e em linha com o consenso) e a quantidade de usuários ativos, que somou 231 milhões, representou um crescimento de 4% na comparação anual.

Em termos de adições líquidas, os 7,6 milhões de novos usuários que se juntaram ao streaming no 4T22 representam o melhor trimestre de adições em 2022. 

Neste patamar, a Netflix está de volta a um ritmo de crescimento comparável com a sua média dos últimos anos.

Como a mídia já notificou à exaustão, a empresa passou a oferecer um novo pacote com anúncios, em 12 países diferentes, ao longo do último trimestre. 

No release, a companhia não deu nenhum detalhamento quantitativo sobre a performance inicial dessa oferta de anúncios, limitando-se a dizer que este é apenas o começo.

Em dezembro, especulou-se bastante na mídia internacional que os resultados da Netflix com anúncios estavam abaixo do esperado e que a empresa cogitava até mesmo ressarcir parcialmente certos anunciantes.

Veremos na teleconferência de resultados se a empresa vai tocar no assunto ou não.

Em termos de rentabilidade, a Netflix apresentou uma margem operacional de 7% e geração de caixa livre positiva, de US$ 322 milhões.

O quarto trimestre é sazonalmente o mais fraco da empresa em termos de rentabilidade.

Para o próximo trimestre, a Netflix espera que sua receita seja de US$ 8,1 bilhões, o que representa um crescimento de apenas 3,9% na comparação anual.

Um dos grandes desafios da Netflix, historicamente, foi o de conseguir transformar seu resultado operacional em geração de caixa livre. 

Em 2022, dos US$ 32 bilhões em receitas, apenas US$ 1,6 bilhão transformou-se em geração de caixa.

Até este momento, a empresa nunca conseguiu desvincular seu crescimento dos investimentos necessários para a produção de novos conteúdos.

Para 2023, a companhia diz esperar uma geração de caixa livre de US$ 3 bilhões.

NTFLX34 não é atrativa nos preços atuais

No fechamento de hoje, a Netflix valia US$ 140 bilhões. Mesmo sabendo que o mercado precifica a capacidade futura de resultados das companhias, um múltiplo 46x o fluxo de caixa dos próximos 12 meses, com crescimento de receitas em um dígito baixo, não nos parece nada atrativo.

Nas nossas carteiras internacionais da Empiricus, não temos uma exposição à Netflix. Preferimos ficar de fora aos preços atuais. 

Economista formado pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), é analista de ações certificado pelo CNPI, especialista no setor de tecnologia, com foco em ações internacionais. Está na Empiricus há 5 anos, onde é responsável por relatórios nacionais e internacionais, como o MoneyBets Revolution, um portfólio de teses especulativas em segmentos como healthtech, energia sustentável, software e games. Antes da Empiricus, trabalhou por 5 anos no setor de tecnologia.