Fazia um bom tempo que não falávamos de empresas.
Passamos os últimos doze meses debatendo política e rombos fiscais, tanto no pré quanto no pós eleições.
Para o investidor de Bolsa, isso costuma ser um mau sinal – assim como, para o torcedor, é um mau sinal quando o juiz, o bandeirinha ou o cartola roubam o protagonismo que cabe aos jogadores e, eventualmente, ao técnico.
Mas veja só que azar: justo quando estávamos prontos para voltar a falar de empresas, fomos obrigados a falar da empresa errada, pelo motivo errado.
Poderíamos começar o ano abrindo a pauta sobre mais uma rodada de resultados resilientes de Itaú, Banco do Brasil e BTG, imprimindo RSPLs consistentemente acima de 20%, faça chuva ou faça sol.
Poderíamos nos impressionar (mais uma vez) com a capacidade infinita de Arezzo e Weg superarem consenso, ou com os múltiplos relativamente baratos (para um high quality) de Equatorial e Localiza.
Com alguma sorte, poderíamos até mesmo congratular Jean Paul Prates por deixar a Petro gerar caixa em paz, para o bem de todos e felicidade geral da nação…
Todavia, acabamos calados pela recuperação judicial da Americanas, permeada por graves indícios de fraude, que seguem sob investigação.
Ou seja, vamos passar um bom tempo ainda dominados por esse assunto incômodo, que não só destrói a marca da empresa e mancha a sonhática reputação do 3G (reversão à média?), como também atrapalha a própria imagem do mercado de capitais.
Porque não foram só os detentores de AMER3 que perderam dinheiro.
Ocorreu, na verdade, uma socialização das perdas, respingando – em maior ou menor grau – sobre acionistas e cotistas a graus de separação do epicentro do problema.
A percepção sistêmica de risco aumentou, e não vai se normalizar tão cedo.
Felizmente, a máxima talebiana da antifragilidade nos faz lembrar que as dores sistêmicas são sempre curadas, em detrimento das falências intrínsecas.
A cada ano, vários restaurantes quebram, alguns sobrevivem e – como resultado geral – estamos comendo e bebendo muito melhor do que 30 anos atrás.