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Mercado em 5 minutos

Expectativa sobre as taxas de juros pelo mundo, temporada de balanços do 4T22 e evento da Febraban são pautas do mercado nesta terça

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para o pregão desta terça-feira (31)

Por Matheus Spiess

31 jan 2023, 08:50 - atualizado em 31 jan 2023, 08:50

dados com imagem de porcentagem grafada IPCA - mercado
Imagem: Shutterstock

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta terça-feira, seguindo os sinais negativos de Wall Street durante o pregão de ontem, já que os investidores estão cautelosos antes das decisões sobre taxas de juros do Fed dos EUA, do Banco da Inglaterra e do Banco Central Europeu nesta semana — espera-se que o Fed diminua o ritmo de aumentos das taxas de juros para 25 pontos-base, enquanto os demais devem subir 50 pontos-base cada, com atenção especial aos comunicados que acompanham as decisões em busca de pistas sobre os próximos aumentos de juros. 

Com dados econômicos chineses frustrando as expectativas, o humor negativo foi transmitido para outros mercados. Os ativos europeus e os futuros americanos abrem o dia em queda, com o sentimento dos investidores nitidamente tendendo para uma ansiedade na véspera de tantos eventos — além das reuniões de política monetária, temos ainda dados de crescimento do PIB da Zona do Euro e inflação na Alemanha. No Brasil, também discutiremos sobre os próximos passos da taxa de juros, com o fator político afetando o mercado na semana de retomada dos trabalhos no Congresso. 

A ver… 

· 00:55 — Para onde estamos indo? 

Por aqui, aguardamos novidades vindas do evento na Febraban hoje, que contará com a participação de Fernando Haddad, Simone Tebet e Aloizio Mercadante. Enquanto a temporada de resultados segue firme, os investidores tentam mensurar os próximos passos do BC, que deverá manter a taxa de juros em 13,75% ao ano, mas elevar o tom em se tratando das perspectivas futuros, uma vez que há muita incerteza fiscal no ar, deteriorando em demasia as expectativas de inflação. Não apenas de política monetária se vive o mercado. Tem política normal também. 

Dessa forma, amanhã teremos as eleições das presidências das casas legislativas, podendo moldar os próximos dois anos de governo Lula. Começamos com o tamanho da vitória de Arthur Lira, que se for muito ampla pode desnutrir adicionalmente o Executivo (o que pode ser visto como positivo se encararmos o Congresso como um vetor de restrição aos gastos do PT). O segundo ponto de atenção é a potencial vitória de Rodrigo Pacheco, no Senado, que se for muito magra pode atrapalhar ainda mais eventuais mudanças constitucionais (dois anos de letargia). 

· 01:48 — Emoções americanas 

O mercado americano enveredou por uma realização generalizada ontem, não restando lugar onde se esconder. Os investidores parecem ansiosos diante da temporada de resultados, das decisões de política monetária e de alguns dados econômicos importantes. Tanto é verdade que o próprio Dow Jones Industrial Average quebrou uma sequência de seis dias de vitórias. 

Mais de um terço do S&P 500 já divulgou os resultados do quarto trimestre neste mês, com os lucros do índice mostrando 3% de queda até agora contra o mesmo período do ano anterior — se excluirmos o setor de energia, a queda é de 7% na comparação anual. Resta ver os demais resultados (temos cerca de 100 só nesta semana), com nomes hoje como Advanced Micro Devices, Caterpillar, Electronic Arts, Exxon Mobil, General Motors, Marathon Petroleum, McDonald’s, Mondelez International e Pfizer. 

Em meio a esse grande número de resultados, o Comitê Federal de Mercado Aberto emitirá sua primeira decisão de política monetária de 2023 na tarde desta quarta-feira, começando sua reunião hoje, assim como no Brasil. Espera-se que o banco central aumente a taxa dos fundos federais em 25 pontos-base, para uma meta de 4,50% a 4,75%. Como sempre, a coletiva de imprensa após a reunião com o presidente Jerome Powell será um evento obrigatório para investidores — a conversa então se voltará rapidamente para o próximo movimento do Fed. 

· 02:55 — Entre franceses e ingleses 

Em dia que o mercado digere o PIB da Zona do Euro e a inflação alemã, os investidores já lidam com o PIB francês do quarto trimestre, que veio ligeiramente mais forte do que o esperado, crescendo 0,1% (sim, parece pouco, mas as expectativas apontavam para uma contração, então 10 pontos já é alguma coisa), em linha com o registrado na região no mesmo período.  Vemos que os consumidores estão reduzindo a atividade econômica à medida que o crescimento negativo dos salários reais começa a sobrecarregar a disposição ou a capacidade de alavancar os balanços das famílias. 

Enquanto isso, no Reino Unido, os dados de crédito ao consumidor chamam a atenção, uma vez que os consumidores britânicos diminuíram a alavancagem de seus balanços mais cedo do que os consumidores de outras economias, podendo servir de exemplo para o que vai acontecer em algumas outras localidades ao redor do globo, apesar dos ingleses estarem passando por um dos piores períodos econômicos da história recente. Espera-se que os dados apresentem uma maior moderação do crescimento do crédito, em linha com a desaceleração promovida pelo aperto monetário. 

· 03:50 — Revisando projeções 

O FMI elevou a previsão do PIB do Brasil este ano de 1,0% para 1,2%, enquanto piorou sua estimativa para 2024, de 1,9% para 1,5%. Já para os EUA, a estimativa para o PIB de 2023 melhorou de 1,0% para 1,4%, revisando o de 2024 para baixo, de 1,2% para 1,0%. Mas o que chamou a atenção mesmo foi a atividade chinesa. 

Depois de reportar dados melhores do que o esperado de crescimento durante a terça-feira, com o índice oficial dos gerentes de compras, que mede a atividade manufatureira, subindo para 50,1 pontos, a China também viu expectativas para seu crescimento mudarem segundo a ótica do FMI, que elevou sua perspectiva de crescimento global. 

A demanda surpreendentemente resiliente nos Estados Unidos e na Europa ajuda, claro, mas a redução nos custos de energia e a reabertura da economia da China depois que Pequim abandonou suas rígidas restrições contra a Covid-19 parecem falar mais alto. Assim, o FMI melhorou a aposta para o PIB chinês deste ano de 4,4% a 5,2%, mantendo 4,5% para o ano que vem. Bom para commodities e para o Brasil. 

· 04:45 — Os semicondutores 

Uma guerra pelo silício está se formando entre as duas maiores economias do mundo, enquanto os EUA procuram isolar a China de uma das tecnologias mais importantes do futuro. No ano passado, foi aprovado o Chips Act, que permitiu ao governo federal despejar bilhões de dólares no setor de semicondutores para liderar o mundo em futuras indústrias e proteger a segurança nacional. 

O governo Biden acompanhou as medidas com sérios controles de exportação para impedir que empresas americanas e qualquer empresa global que use tecnologia americana vendam designs de chips, software e equipamentos para Pequim, também proibindo cidadãos americanos de trabalhar com empresas chinesas de chips para retardar seus avanços tecnológicos. 

As maiores preocupações aqui são com aqueles chips usados em tecnologias militares sensíveis. Os circuitos integrados mais avançados permitem que as nações fiquem muito à frente de seus rivais em termos de sistemas de armas e coleta de informações e, de forma mais ampla, são uma declaração de poder geopolítico. Até agora, os EUA terceirizaram a fabricação de seus chips mais avançados para Taiwan, que se tornou cada vez mais ameaçado por seu poderoso vizinho, a China. 

Agora, os americanos estão tentando proteger o restante da cadeia de fornecimento de chips avançados, forjando alianças que reduzirão a capacidade da China de produzir seu próprio silício doméstico. A próxima década será alicerçada com base nos pilares estratégicos e tecnológicos que estão sendo forjados neste momento.    

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.