Mercado em 5 minutos

Tensão entre Lula e Banco Central e queda inesperada na taxa de desemprego dos EUA são pautas nesta segunda

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para esta segunda-feira (6)

Por Matheus Spiess

06 fev 2023, 08:54 - atualizado em 06 fev 2023, 08:54

Preço compra e venda
Fonte: Free Pik

Bom dia, pessoal. Lá fora, as bolsas asiáticas fecharam predominantemente em baixa nesta segunda-feira (6), seguindo os sinais amplamente negativos de Wall Street da última sexta-feira, já que a queda inesperada na taxa de desemprego nos EUA, a mais baixa desde maio de 1969, levou a novas preocupações de que o Fed dos EUA manterá as taxas de juros mais altas do que níveis atualmente esperados por muitos mais meses. 

Enquanto isso, ainda na Ásia, a moeda japonesa caiu para o menor nível em quase um mês contra o dólar, digerindo o novo nome que comandará o Banco Central do Japão (BoJ) a partir de abril, quando o mandato de Haruhiko Kuroda termina. O novo mandatário será Masayoshi Amemiya, atual vice-presidente da autoridade monetária. Ainda que seja mais “hawkish” que Kuroda, o nome é diferente do que se esperava, uma vez que participou da criação dos programas de relaxamento monetário. 

Os mercados europeus e os futuros americanos começam a semana em queda, com investidores repercutindo não só o relatório de emprego americano, mas também os supostos balões espiões encontrados nas Américas (um na América do Norte e outro na América do Sul) — há uma consequente elevação das tensões geopolíticas. As falas de autoridades monetárias devem roubar a cena dos próximos dias. No Brasil, ficamos com a tensão entre o poder Executivo e o Banco Central. 

A ver… 

· 00:54 — Lula está #chateado 

Por aqui, enquanto esperamos mais detalhes sobre a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na ata do encontro, a ser divulgada amanhã (7), os investidores locais ficam atentos ao confronto contratado pelo presidente Lula com Roberto Campos Neto (presidente do BC). Haveria um descontentamento por parte do governo com o tom duro aplicado pela autoridade monetária, deixando aberta a possibilidade de queda dos juros apenas em 2024.  

O problema é que Lula parece desconhecer o fato de que os atritos apenas pioram ainda mais as expectativas de inflação. Sem que haja uma devida ancoragem das expectativas, os juros não vão cair, o que prejudica a expansão do crédito e atividade econômica. O governo entende a segunda parte, mas não percebe que contribuiu negativamente para a dinâmica. Se houver uma nova âncora fiscal crível e respeito às metas de inflação, os juros podem cair com maior facilidade ainda em 2023. 

· 01:30 — Forte como um touro 

A economia dos EUA criou 517 mil empregos em janeiro, ultrapassando a marca tímida esperada de 190 mil postos de trabalho. A taxa de desemprego também caiu para 3,4%, seu nível mais baixo desde 1969 (esperava-se que a taxa de desemprego subisse para 3,6%). Os setores com maior geração de empregos foram lazer e hospitalidade (128 mil), serviços profissionais (82 mil) e governo (74 mil). 

O relatório chocou os investidores que esperavam sinais de desaceleração da economia. Em outras palavras, o processo de desinflação pode ter começado, mas um mercado de trabalho forte pode ser preocupante para as apostas de que a inflação continue caindo rapidamente. Assim, os investidores que esperavam que o Fed cortaria as taxas no final do ano foram surpreendidos — o relatório tornou improvável que a inflação esteja em níveis baixos o suficiente para justificar cortes nas taxas. 

· 02:04 — E o teto da dívida? 

Ainda nos EUA, houve otimismo adicional por parte dos investidores que acompanham o dia a dia em Washington quando o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, disse que teve uma discussão muito boa com o presidente Biden sobre os gastos do governo e o teto da dívida, um dos grandes temas internacionais deste primeiro semestre de 2023. 

Os democratas e os republicanos possuem perspectivas diferentes sobre a questão, mas os dois partidos não querem um calote da dívida. É possível, assim, que possam encontrar um terreno comum. Hoje, medidas extraordinárias já estão sendo empregadas pelo Tesouro, com a secretária Janet Yellen alertando para grandes consequências para a economia dos EUA se o limite da dívida não for resolvido. 

· 03:10 — Dados europeus 

Na Europa, as encomendas às fábricas alemãs de dezembro vieram acima do esperado — o desafio para a manufatura é que os consumidores estão correndo para consumir serviços e reduzir a compra de bens. Uma atividade robusta alivia o receio sobre a possibilidade de uma recessão mais profunda na Zona do Euro. 

Adicionalmente, os dados de vendas no varejo da Zona do Euro em dezembro sinalizaram uma queda de 2,7% na comparação mensal, levemente pior que as expectativas, que projetavam 2,5% de contração. A desaceleração já era esperada, então o tom mais negativo de hoje pouco tem a ver com o dado ruim. 

· 04:01 — Um certo bilionário indiano 

Um caso curioso vem chamando a atenção dos mercados internacionais. O bilionário indiano Gautam Adani, que já esteve entre os cinco homens mais ricos do mundo (já foi a segunda pessoa mais rica do mundo), foi alvo de um relatório de 100 páginas o acusando de fraude e manipulação de mercado. 

Adani, que cresceu na classe média, abandonou a faculdade para negociar diamantes e acabou abrindo seu próprio negócio vendendo outros produtos físicos. Durante os anos 90, suas ambições se expandiram junto com a economia indiana e agora ele dirige um conglomerado que abrange energia, infraestrutura de transporte, como portos e aeroportos, defesa e mídia. 

Desde a grave denúncia pelo conhecido “short seller” (especialista em vender ações) Hindenburg Research, no dia 24 de janeiro, seus negócios perderam um valor combinado de mais de US$ 100 bilhões, e seu próprio patrimônio despencou mais de US$ 50 bilhões. Dado o vasto império de negócios de Adani e seu relacionamento íntimo com a classe de liderança da Índia, essa crise ecoou nos mercados e na política. Podemos estar diante do maior golpe da história corporativa. 

Adani enfatizou que os fundamentos de sua empresa continuam muito fortes e seu balanço, saudável. Ainda assim, é possível que as acusações possam deixar uma mancha duradoura na reputação das maiores corporações da Índia e prejudicar a capacidade de crescimento das empresas indianas (choque de credibilidade). 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.