Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam sem uma única direção nesta quarta-feira (8), acompanhando as movimentações positivas de Wall Street durante o pregão de ontem, quando os investidores reagiram aos comentários do presidente do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, no Clube Econômico de Washington.
A autoridade monetária disse esperar que 2023 seja um ano de quedas significativas na inflação, também alertando que as taxas de juros podem subir mais do que os mercados esperam se os dados econômicos não cooperarem. Os mercados europeus repercutem bem nesta manhã, enquanto os futuros americanos devolvem um pouco.
A ver…
· 00:29 — Não quis nem saber
No Brasil, o mercado voltou a acompanhar os ataques de Lula e sua base ao Banco Central, cobrando explicações da autoridade monetária sobre as taxas de juros elevadas, apesar de todos já sabermos o motivo e o BC ter explicado cada detalhe na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem — o documento foi até mais longo do que o usual, para deixar tudo bem esclarecido.
A ata, inclusive, foi elogiada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que teve seu pacote recente citado como um vetor positivo no contexto fiscal brasileiro. Não foi o suficiente para acalmar o Lula, que parece descontrolado e não quis nem saber. As declarações de Gleisi e Boulos incomodam, sim, mas pouco importam, uma vez que são personalidades pouco relevantes. Quem importa mesmo é o Lula.
Em algum momento, o mercado vai cansar de tanto desaforo e começará a descontar os ruídos de maneira mais evidente, jogando os juros e o câmbio para o infinito. Se isso acontecer, aí sim o governo terá problemas para pilotar a economia. Até lá, ficamos atentos para as mudanças do governo no Banco Central — a primeira será Bruno Serra, diretor de Política Monetária, no dia 28 de fevereiro.
· 01:31 — Entre resultados e falas sobre política monetária
Nos EUA, estamos no auge da temporada de resultados, mesmo que o mercado só tenha se importado com questões de cunho macroeconômico. Ontem, por exemplo, todos estavam acompanhando a conversa transmitida após o almoço entre o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e o cofundador do Carlyle Group, David Rubenstein, no Clube Econômico de Washington.
O aumento da taxa de juros de 25 pontos-base na última quarta-feira foi seguido pelo relatório de emprego mais forte do que o esperado na sexta-feira. Os mercados previam que o banco central interromperia os aumentos das taxas ou até cortaria em breve, algo que sempre duvidei, mas o número de empregos estourados levou alguns a especular que Powell poderia adotar um tom mais agressivo ontem do que em sua coletiva de imprensa na semana passada. Não foi o caso.
Powell reiterou que, embora o processo desinflacionário tenha começado, mais aumentos contínuos das taxas de juros serão apropriados. O banco central continuará focado nos dados mensais e tomará decisões uma reunião por vez. Sabemos disso; afinal, o relatório de empregos mostra por que pensamos que este será um processo de redução da inflação que levará um período significativo.
Um mercado de trabalho apertado nos EUA dá ao Fed mais espaço para aumentar as taxas de juros e mantê-las mais altas por mais tempo, enquanto as autoridades esperam que o aperto acumulado do ano passado reduza a inflação. Ou seja, a inflação ainda não foi vencida, o Fed ainda não terminou o aperto e as autoridades estão observando de perto os dados para determinar o momento do pivô.
· 02:50 — Digerindo o Estado da União e mais falas de membros do Fed
Ainda nos EUA, o mercado deverá digerir o discurso do Estado da União de Joe Biden. Dada a divisão no Congresso, o presidente americano se limitou predominantemente aos assuntos de mais curto prazo, sem detalhar futuras propostas econômicas para o longo prazo — chamou a atenção o destaque dado à elevação de impostos para reduzir o déficit, uma tentativa para endereçar a demanda por controle orçamentário para que a Câmara aprove o aumento do teto da dívida neste semestre.
Pouco destaque foi dado aos assuntos mais relevantes de longo prazo, mas houve algumas menções, como o caso das relações com a China, em um momento conturbado, e da reorganização das cadeias de suprimentos, que poderá dar início a uma nova era de investimentos no Ocidente, com mudanças estruturais relevantes. Fora isso, também acompanhando seis membros do Fed que falam hoje e podem, eventualmente, complementar a fala de Powell registrada ontem.
· 03:35 — Imigrantes no Japão
Após anos de crescimento lento no número de trabalhadores estrangeiros admitidos no Japão, o país aumentou seus esforços para atraí-los nos últimos dois anos, fazendo com que número de estrangeiros trabalhando em solo japonês atingisse um novo recorde de quase 1,7 milhão — como a população japonesa está envelhecendo rapidamente, o governo japonês sente a necessidade de trazer talentos do exterior. É um processo que veremos em outros países nos próximos anos por conta das questões demográficas abaladas em diferentes regiões (falta trabalhador).
À luz de tudo isso, parece que o país realmente leva a sério um futuro mais multicultural. Ainda assim, essa nova visão da sociedade japonesa pode ser difícil de vender, uma vez que as medidas adotadas geraram alguma controvérsia e até levaram a confusão durante os debates parlamentares. Políticos de direita criticaram a reforma dizendo que ela traria o crime e destruiria a homogênea sociedade japonesa. Os ruídos são relevantes e podem criar imbróglios políticos relevantes para o governo japonês, que vive momentos de instabilidade desde a saída de Shinzo Abe (já falecido).
· 04:27 — E uma Terceira Guerra Mundial?
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou nesta semana em um discurso proferido perante a Assembleia Geral da ONU que o mundo corre o risco de estar caminhando para uma guerra mais ampla na Ucrânia devido ao risco cada vez maior de escalada. Em outras palavras, o secretário quis chamar a atenção para o fato de que as perspectivas de paz continuam diminuindo.
Sua perspectiva negativa sobre a crise deriva do alerta ucraniano de que a maior ofensiva do Kremlin desde as primeiras semanas da guerra está se aproximando. Os russos atiraram em cerca de duas dúzias de cidades e vilas ao redor de Bakhmut, a cidade em ruínas que se tornou o ponto focal da campanha de Moscou para tomar todo o leste, área conhecida como Donbass.
No mês passado, os líderes ucranianos começaram a alertar seus apoiadores ocidentais de que Putin ordenou que centenas de milhares de soldados se reunissem ao longo da fronteira para uma nova ofensiva importante; mas tal escalada potencial não se materializou até agora. Se o presidente ucraniano Zelensky estiver certo, se a Ucrânia cair, seria o início da 3ª Guerra Mundial. A chance é pequena, mas merece ser mapeada.
Um abraço,
Matheus Spiess