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Mercado em 5 minutos

Resultado ‘péssimo’ do Bradesco (BBDC4) deve pavimentar dia ruim para a Bolsa; veja os destaques desta sexta (10)

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para esta sexta-feira, 10 de fevereiro

Por Matheus Spiess

10 fev 2023, 09:01 - atualizado em 10 fev 2023, 09:01

Imagem representando uma corretora de valores, mostrando um investidor operando o mercado em frente uma tela com dados financeiros.

Bom dia, pessoal. 

Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam principalmente em queda nesta sexta-feira, acompanhando as movimentações negativas no mercado americano durante o pregão de ontem, com investidores digerindo a possibilidade de recessão global e a chance de juros mais elevados. Além disso, os dados de inflação de janeiro da China não foram especialmente empolgantes (conversaremos mais sobre a seguir) — eles indicaram que a demanda doméstica foi moderada. 

Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em queda. Há uma ansiedade no ar pelos dados de sentimento do consumidor americano, que serão divulgados hoje (traz consigo as expectativas inflacionárias, relevantes diante da proximidade com a inflação oficial na semana que vem). No Brasil, acompanhamos a avaliação do resultado do Bradesco, que foi péssimo (a ação caiu mais de 10% no pre-market americano por meio de suas ADRs negociadas em NY). Fora isso, contamos com volume de serviços na agenda, assim como dados regionais da produção industrial. 

A ver… 

· 00:47 — Conservando com Biden 

Por aqui, preparem-se para um dia ruim. O resultado do Bradesco foi péssimo, impactado pelo efeito de Americanas (e há quem acredite que não há repercussão no mercado financeiro, como Lula), e deverá reverberar por entre os investidores, uma vez que o setor de bancos é relevante no índice. Ainda assim, o que mais tem chamado a atenção é a dinâmica entre o Poder Executivo e o Banco Central. Ontem, não pegou bem a informação de que o BC estaria supostamente estudando elevar a meta de inflação — não há problema em se debater isso, desde que feito de maneira técnica e não política. Da forma que vem acontecendo, não é nada bom. 

A mudança deverá ser oficializada, se é que vai acontecer, no dia 16 de fevereiro, durante a próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Sabemos que a autonomia do BC não vai mudar (não existe clima político para isso), mas gera um efeito danoso os atritos recentes e o precedente que será aberto. Enquanto isso, Lula já está em solo americano para conversar com Biden nesta sexta-feira, devendo debater temas como meio ambiente, democracia e posicionamento do Brasil na nova dinâmica de regionalização. Fernando Haddad e Jacques Wagner acompanham o presidente, devendo pavimentar uma trégua entre Lula e o presidente do Bacen. 

· 01:51 — E o sentimento do consumidor 

Nos EUA, contamos hoje com a pesquisa de opinião de confiança do consumidor da Universidade de Michigan, que deverá apresentar uma leitura pessimista de 65 pontos, praticamente empatada com os números de janeiro. Paralelamente, o mercado deverá digerir as expectativas dos consumidores para a inflação, passando de 3,9% em janeiro para 4% agora, o nível mais baixo desde abril de 2021. Sabemos que as expectativas de inflação desempenham um papel importante na determinação da inflação real, por isso vale a pena prestar atenção.  

Os investidores, contudo, estão apresentando um comportamento bem volátil, tendo registrado ontem seu segundo dia consecutivo de perdas. O mercado está questionando, entre outras coisas, onde a taxa do Fed se estabelecerá — em 5% ou possivelmente mais, sendo que os mercados futuros estão mirando uma faixa de 4,5% a 4,75% ao ano, o que nos parece um equívoco. Para piorar, o CEO do J.P. Morgan, Jamie Dimon, uma das personalidades mais influentes do mundo, veio à público falar que é muito cedo para declarar vitória sobre a inflação. Deve pressionar os preços. 

· 02:43 — O PIB britânico 

Na Europa, os dados do PIB do quarto trimestre do Reino Unido mostraram crescimento trimestral de 0% na comparação com o trimestre anterior e 0,4% de expansão contra o mesmo período de 2021. Os ingleses passam por um dos momentos mais delicados da história recente, com aperto monetário, ressaca da alta de preços recentes, perda de um chefe-de-estado histórico e incerteza política, sem falar da volatilidade no mercado de títulos da dívida (vide Liz Truss), fatores que começam a fazer efeito sobre a atividade. 

Para o dia, os investidores ficam de olho em algumas falas de autoridades monetárias, entre ela a do economista-chefe do Banco da Inglaterra, talvez a mais relevante do dia, que poderá elaborar um pouco mais sobre a percepção do BoE sobre a desaceleração da atividade econômica e como isso afeta os próximos passos de política monetária. O nível de desaceleração britânica poderá servir de exemplo para onde estamos caminhando no resto do mundo desenvolvido, visto que eles subiram os juros antes. 

· 03:31 — Dados de inflação chinesa 

Na China, os preços ao produtor caíram um pouco mais do que o esperado (encolheu a uma taxa anualizada de 0,8% em janeiro, pior do que a leitura negativa de 0,7% de dezembro e abaixo das expectativas de uma queda de 0,5%), enquanto os preços ao consumidor foram impulsionados pelos preços dos alimentos, com os preços do setor de serviços ainda crescendo lentamente — ainda assim, a taxa anualizada do segundo foi de 2,1% em janeiro, mais do que o 1,8% registrado em dezembro, mas abaixo das expectativas de 2,2%. E o que pode explicar o movimento? 

Sabemos que o aumento dos casos de Covid-19 manteve os gastos limitados apesar da suspensão da maioria das restrições, enquanto o agravamento da inflação nas fábricas mostrou que o setor manufatureiro permaneceu sob pressão. Adicionalmente, esses gastos também foram impulsionados ligeiramente pelo feriado do Ano Novo Lunar, que durou uma semana. Ainda assim, a economia chinesa enfrenta um longo caminho para atingir os níveis de crescimento pré-pandêmicos, prejudicando as expectativas do mercado de uma rápida recuperação no gigante econômico. 

· 04:24 — Sobre a inversão da curva 

Em circunstâncias normais, os títulos com vencimentos mais longos têm rendimentos mais elevados do que aqueles com vencimento mais curto. Mas não ultimamente. Nos EUA a curva de juros invertida não é novidade. Porém, há algo a se observar. 

Historicamente, nos EUA, a previsibilidade da curva de juros é bastante alta em termos de uma recessão (acontece de seis a 12 meses após uma inversão na curva, sendo que temos a inversão por lá desde o início de julho do ano passado). 

Agora, o spread entre os juros dos títulos do Tesouro de dois e dez anos está se aproximando de um nível não visto desde 1981 — o yield de dois anos esteve em 4,507%, 82,5 pontos-base acima do vencimento do título de 10 anos na quinta-feira. 

Em 2 de outubro de 1981, o spread invertido entre esses dois títulos era de 96,8 pontos base. Embora a curva de rendimentos não tenha atingido essa marca, ela não está tão distante, indicando fortemente uma recessão 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.