Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas caíram novamente nesta segunda-feira devido às crescentes expectativas de que as taxas de juros dos EUA terão que subir mais e por mais tempo do que se pensava anteriormente — tivemos a pior semana para os ativos americanos em dois meses. Os mercados europeus, por outro lado, estão em alta nesta manhã, tentando se recuperar da volatilidade recente.
No âmbito internacional, embora a inflação tenha caído por vários meses, os dados mostram que o mercado de trabalho permaneceu muito apertado em janeiro, indicando que a maior economia do mundo ainda está robusta — na semana passada, vários membros do Fed insistiram que ainda havia muito trabalho a fazer. Para os próximos dias, vale ficar de olho nos dados de inflação dos EUA, na terça-feira.
A ver…
· 00:38 — Robertão
No Brasil, todos querem assistir à entrevista de Roberto Campos Neto no Roda Viva desta segunda-feira, na TV Cultura, às 22 horas. Com o espaço, o presidente do Banco Central deve endereçar as críticas que estão sendo feitas sobre sua gestão e condução da política monetária brasileira. Ao que tudo indica, a autoridade já estaria disposta a alterar as metas de inflação, discussão válida, como já falamos, mas que vem sendo endereçada da maneira equivocada pelo governo e sua base.
O clima deve esquentar ainda mais com o encontro do Conselho Monetário Nacional (CMN), na quinta-feira, em que a meta de inflação será formalmente discutida. Se a comunicação for corrigida, contudo, o mercado deverá ficar mais calmo. Também será uma boa chance para as sinalizações iniciais das diretorias que vão ser substituídas nas próximas semanas. Se houver convergência de nomes entre o BC e o poder executivo, podemos estar no caminho de uma trégua.
· 01:25 —OVNIs abatidos e preocupação com a inflação
Nos EUA, enquanto o governo abate os OVNIs suspeitos de serem espiões chineses (como o balão), os investidores estão se preparando para a divulgação do índice de preços ao consumidor, talvez o dado mais relevante da semana na agenda internacional. Espera-se que a leitura da inflação na comparação anual caia para 6,2%, de 6,5% em dezembro — os preços dos alimentos devem subir a partir de dezembro, enquanto alguns esfriamentos com passagens aéreas e hospedagem são esperados.
As leituras da inflação serão acompanhadas por uma lista de palestrantes do Federal Reserve, o que aumentará a discussão sobre o ritmo dos aumentos das taxas de juros. Já há quem sustente a tese central de que a inflação não retornará a 2% sem algum abrandamento material nas condições do mercado de trabalho. Eventuais surpresas no índice de inflação terão efeito direto nos ativos financeiros americanos e globais.
· 02:07 — O crescimento europeu
Depois de o Reino Unido evitar uma recessão técnica na semana passada por muito pouco, tendo registrado zero crescimento no último trimestre do ano, a semana guarda relação com a divulgação dos dados de atividades da Zona do Euro. O PIB do quarto trimestre da região será divulgado nos próximos dias, podendo indicar qual a resiliência da atividade econômica europeia para a continuidade do aperto monetário.
Fora isso, ainda temos a publicação das previsões econômicas pela Comissão Europeia. Apesar de não ser tão relevante para os preços, pode servir como sinalização sobre o que as lideranças estão pensando sobre os próximos passos da economia, principalmente depois que a Rússia cortou produção de petróleo, podendo voltar a pressionar os preços — vale olhar os relatórios da Opep+ e da AIE.
· 03:01 — E a reabertura chinesa?
Os indicadores econômicos da China há muito tempo têm sido encarados com ceticismo e, apesar de uma grande reforma no aparato de coleta de dados do país, os últimos números de crescimento do país estão dando força a algumas dessas dúvidas. Para ilustrar, oficialmente, a China disse que registrou um crescimento de 3% em 2022. Foi o segundo menor ritmo em dados desde a década de 1970, mas ainda acabou sendo melhor do que os números subjacentes sugeririam.
Por exemplo, considere que a demanda de petróleo da China contraiu 3% no ano passado, de acordo com a Agência Internacional de Energia, marcando o primeiro declínio anual do país desde 1990. Além disso, o carvão, a outra principal fonte de energia do país, viu o consumo aumentar apenas 0,4% em relação a 2022. Esses dois números por si só fazem o crescimento econômico de 3% parecer um pouco distante da realidade.
Uma maneira alternativa de se encarar isso, no entanto, é que, assumindo que a economia estava realmente mais fraca do que o oficialmente reconhecido, podemos nos preparar para uma expansão mais rápida e maior do que o esperado em 2023. Se assim for, isso pode se traduzir em um ano muito melhor para os ativos financeiros, uma vez que os números corporativos devem surpreender para cima.
· 04:10 — A crise previdenciária
No mundo inteiro, as finanças públicas estão ficando rendidas à medida que as promessas de aposentadoria feitas às gerações anteriores colidem com a realidade de uma população que está envelhecendo. Para se ter uma ideia, o mercado estima que os custos das pensões nas economias desenvolvidas devem aumentar, deixando pouco espaço para outras prioridades de gastos — em 1980, as pensões consumiam cerca de 5,5% do PIB e, em 2040, podem chegar a 10%, de acordo com a OCDE.
O acordo quase universal dos economistas é que todos precisaremos trabalhar por mais tempo, economizar mais e receber menos, em linha com a reforma que o Brasil fez em 2019. No entanto, quase metade dos países da OCDE não aprovou legislação para aumentar a idade normal de aposentadoria, enquanto alguns estão suavizando as reformas planejadas em meio à reação pública. As contas não fecham e os próximos anos deve ser de estresse fiscal relacionado com a previdência.
Um abraço,
Matheus Spiess