Investimentos

Banco do Brasil (BBAS3) performa melhor que os pares privados no 4T22, mas gestão no Governo Lula traz receio; análise

Companhia entrega lucro líquido de R$ 8,6 bilhões no 4T22, mas mudanças a serem implementadas pela nova gestão deixam com o ‘pé atrás’

Por Larissa Quaresma, CFA

14 fev 2023, 11:31 - atualizado em 14 fev 2023, 11:31

BBAS3 Banco do Brasil
Imagem: Divulgação

O Banco do Brasil (BBAS3) divulgou ontem (14), depois do fechamento do mercado, seus números do 4T22, que superaram as expectativas, embora tenham sido ajudados por alguns fatores não recorrentes.

A companhia, mesmo provisionando 50% da sua exposição à Americanas como perda de crédito, entregou um lucro líquido de R$ 8,6 bilhões, com retorno sobre patrimônio líquido (ROE) de 23%.

Para 2023, o BB desenhou um cenário de manutenção da alta rentabilidade. Apesar da boa performance e de ser o bancão mais barato da bolsa, seguimos com receio sobre as mudanças a serem implementadas pela nova gestão, que tem um foco maior na questão social.

Carteira de crédito supera R$ 1 trilhão

A carteira de crédito ampliada cresceu 4% trimestralmente, superando a marca de R$ 1 trilhão. O destaque, mais uma vez, foi a carteira agro, que cresceu 8%, para R$ 310 bilhões.

Como consequência, a margem financeira bruta (receita de juros menos custo de captação) somou R$ 21,5 bilhões, crescimento trimestral de 10%. O reapreçamento das operações de crédito, assim como do crescimento da carteira, foram os principais causadores desse desempenho.

Vale notar, contudo, que essa linha também foi ajudada pelo resultado da tesouraria do Banco Patagônia, sediado na Argentina e controlado pelo BB: o banco argentino contribuiu com R$ 2,7 bilhões (+28% t/t) para a tesouraria da companhia, que foi de R$ 10,9 bilhões no consolidado.

Caso Americanas contribui para aumento de 44% da inadimplência no 4T22

Do lado da inadimplência, a Americanas causou um aumento trimestral de 44% na provisão para perdas de crédito, que somou R$ 6,5 bilhões.

O BB provisionou 50% da sua exposição à varejista, de R$ 1,6 bilhões no total, o que gerou um impacto de R$ 788 milhões nesa despesa.

Mas, mesmo sem Americanas, a linha ainda teria crescido 27%, já que o índice de empréstimos atrasados há mais de 90 dias foi de 2,5% (+0,2p.p. no trimestre). Essa deterioração se deve ao segmento de pessoa física, no qual o Banco do Brasil optou por migrar para linhas de crédito de maior risco.

A receita de serviços, por sua vez, teve uma queda de 1% na comparação trimestral, mesmo em um trimestre tradicionalmente forte pelo recolhimento das taxas de administração dos fundos. A queda foi gerada pelas receitas de administração de fundos (-7%), conta corrente (-2%) e cartões de crédito e débito (-4%). 

As despesas administrativas, por sua vez, tiveram um crescimento trimestral de 6%, fruto do dissídio coletivo de 8% implementado em setembro.

Finalmente, o lucro líquido consolidado fechou o trimestre em R$ 8,6 bilhões (+7% t/t), com ROE de 23%. Entretanto, não fosse a linha “outros componentes do resultado”, positiva em R$ 1,1 bilhão, estimamos que o lucro líquido teria sido de R$ 7,7 bilhões (-6% t/t), com ROE de 21%.

Mesmo assim, um resultado sólido e melhor que o dos pares privados e ainda dentro do guidance de 2022.

BBAS3: por conta da nova gestão, recomendação é neutra

Para 2023, o BB projetou um crescimento de 13% no lucro líquido, o que vemos como positivo, mas temos dificuldade de acreditar diante da mudança de gestão.

É sabido que os executivos nomeados pelo governo, embora com histórico profissional respeitado, implementarão uma agenda mais voltada para o social, o que pode machucar os lucros no médio prazo.

Por isso, temos uma visão neutra para Banco do Brasil (BBAS3), sabendo que, para aqueles focados em dividendos, a ação ainda pode ser uma boa pedida no curto prazo

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.