Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta sexta-feira, acompanhando os sinais amplamente negativos de Wall Street durante o pregão de ontem, já que os investidores continuam preocupados com as perspectivas para as taxas de juros — mais aperto político por parte do Fed dos EUA após a recente divulgação de dados econômicos fortes, incluindo preços ao produtor maiores do que o esperado.
Os mercados europeus e os futuros americanos também caem nesta manhã, dando início ao que pode ser uma sexta-feira bastante turbulenta. Temos mais falas de autoridades monetárias para absorvermos lá fora, enquanto no Brasil avaliamos alguns resultados corporativos e a entrevista de Lula, divulgada na noite de quinta-feira. Pelos menos algumas commodities estão em alta, o que pode ajudar.
A ver…
· 00:37 — Pacato cidadão, ô pacato da civilização
Por aqui, devemos começar o dia absorvendo alguns resultados corporativos importantes divulgados ontem, como os números de Vale, que tem suas ADRs subindo nesta manhã no pre-market de NY, e de XP, que teve um quarto trimestre muito complicado. Considerando o contexto, ainda precisamos lembrar que estamos em uma sexta-feira de Carnaval e que, portanto, o mercado brasileiro só volta ao normal às 13 horas da Quarta-Feira de Cinzas (na véspera de feriados, os investidores costumam ajustar as posições para não dormirem comprados enquanto o mundo gira lá fora).
Paralelamente, como o Conselho Monetário Nacional (CMN) não serviu para muita coisa, os investidores repercutem a entrevista de Lula à CNN. Notamos um leve aprimoramento no tom do presidente. Contudo, a postura ainda é agressiva frente ao BC, o que é negativo para o país e deve gerar certa apreensão. A coisa boa: Lula parece ter realmente deixado a interlocução para Haddad, que tem parecido uma pessoa mais razoável e foi muito bem em sua participação no evento do BTG nesta semana. Provavelmente, qualquer revisão da meta de inflação ficará para depois.
· 01:31 — Os americanos também vão descansar um pouco
Nos EUA, a agenda desta sexta-feira é menos cheia, com investidores também se preparando para um feriado na segunda-feira. Ontem, vimos que as ações americanas voltaram a cair repercutindo negativamente os dados de preços ao produtor, que vieram mais fortes do que o esperado, e a fala de algumas autoridades monetárias, como a presidente do Fed regional de Cleveland, Loretta Mester, que disse querer aumentar as taxas de juros em 50 pontos-base. A verdade é que o mercado parece ainda não perceber que a taxa de juros nos EUA vai subir ainda mais, se mantendo elevada por mais tempo.
O Fed tem procurado um afrouxamento do mercado de trabalho para ajudar a combater a inflação, o que parece ser difícil de acontecer. Por exemplo, os dados trabalhistas divulgados na quinta-feira mostraram que o número de americanos que entraram com pedidos de desemprego pela primeira vez na semana passada foi de 194 mil, abaixo das estimativas dos economistas de 200.000. Em outras palavras, o mercado de trabalho nos EUA ainda entrega resultados surpreendentemente fortes. Complementarmente aos dados do produtor de ontem, contamos hoje com os preços de importação e exportação dos EUA.
· 02:28 — Questões europeias
O mercado europeu voltou hoje a discutir a separação entre o Reino Unido e a União Europeia. Nos próximos dias, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, deverá negociar com autoridades europeias novos termos sobre a Irlanda do Norte. Consequentemente, podemos ver sobre os ativos alguma especulação sobre as implicações de qualquer acordo para a estabilidade política do Reino Unido.
Entre os dados para o dia de hoje, contamos com as vendas no varejo do Reino Unido, que vieram mais fortes do que o esperado, e os preços ao consumidor na França. Falas de autoridades monetárias da Zona do Euro também estão agendadas. O dia começou com uma tendência negativa, entretanto, que parece ser difícil de ser revertida, com investidores antecipando a segunda-feira de menor liquidez.
· 03:06 — Pressões na OTAN
Enquanto vivemos nossas vidas por aqui, acabamos nos esquecendo que a guerra na Ucrânia segue acontecendo. Aliás, na semana que vem, completaremos um ano desde o início da agressão russa. Diante do contexto, há uma pressão para que os membros da OTAN aumentem seus gastos com defesa.
Em 2014, na época da invasão da Crimeia pela Rússia, os estados da OTAN se comprometeram a aumentar seus respectivos gastos com defesa para 2% do produto interno bruto. Ainda assim, embora muitos tenham aumentado seus gastos com equipamento militar e treinamento, a maioria dos países da OTAN ainda fica aquém da meta de 2%, incluindo Alemanha, França, Itália e Canadá.
Os EUA, por sua vez, lideram o grupo, gastando 3,47% do PIB em defesa. Entretanto, ao passo em que a guerra devasta a Europa novamente e as tensões com a China aumentam, devemos cada vez mais começar a ver a meta de 2% como um piso dos países e não o teto. A próxima década será consideravelmente mais bélica do que a última.
· 04:01 — E a Finlândia e a Suécia?
Sabemos que a Finlândia e a Suécia podem ingressar na OTAN em momentos diferentes, uma vez que as negociações com a Turquia sobre a adesão da Suécia ao grupo não estão indo bem, devendo ficar em segundo plano depois dos terremotos que devastaram o país. Como nenhum país nórdico pode se tornar um membro da aliança sem o apoio unânime de todos os membros existentes e o presidente turco, Erdogan, tem uma briga comprada com a Suécia, a adesão do país fica mais complicada.
Erdogan está furioso porque o governo da Suécia ofereceu asilo para dezenas de líderes curdos que seu governo considera terroristas. As coisas pioraram depois que um ativista de direita suéco queimou uma cópia do Corão, o livro sagrado do Islã, fora da embaixada turca em Estocolmo, um ato que, apesar de péssimo, é protegido como liberdade de expressão pela constituição sueca. Um vetor importante pode ser a eleição na Turquia neste ano, que poderá tirar Erdogan do poder, mudando o tom das negociações. Para a OTAN, a adesão da Finlândia é a prioridade mais urgente.
Um abraço,
Matheus Spiess