Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos foram arrastados para baixo pela queda nas ações chinesas nesta sexta-feira, embora os investidores tenham se encorajado com o novo presidente do banco central do Japão, que descartou um fim antecipado da política monetária superflexível implementada há anos no país, fato que empurrou as taxas de juros dos títulos para baixo globalmente. Por conta do posicionamento mais acomodatício, os ativos japoneses conseguiram subir, enquanto o iene caiu.
Paralelamente, os mercados europeus abriram em alta, mantendo o tom de recuperação verificado desde ontem. Os futuros do S&P 500, no entanto, estão devolvendo parte dos ganhos de ontem, pelo menos nesta manhã. O grande destaque da agenda internacional é o PCE de janeiro, a medida favorita do Fed para avaliar a inflação americana. No Brasil, além de acompanharmos o contexto global, devemos nos debruçar sobre a prévia da nossa inflação oficial, a ser divulgada hoje.
A ver…
· 00:44 — A prévia da oficial
Por aqui, os investidores deixam de lado os imbróglios envolvendo o Poder Executivo e o Banco Central, preferindo avaliar a temporada de resultados corporativos (finalmente algum fundamento nas rodas de debates do mercado) e os impactos do mal da “vaca louca” em um animal no Pará — as estimativas sugerem que o Brasil deixa de faturar cerca de US$ 17 milhões por dia com o fechamento temporário do comércio de carne. Vale ressaltar que as medidas preventivas tomadas pelo próprio país foram elogiadas globalmente, com a possibilidade de retomada das exportações muito em breve.
Entretanto, a agenda mais importante é a econômica, com o IPCA-15 de fevereiro, a prévia da inflação oficial, a ser divulgada hoje durante a manhã. O índice deve acelerar para 0,72% na comparação mensal, depois de subir 0,55% em janeiro, repercutindo as pressões da gasolina, principalmente, e de outros itens, como mensalidades escolares com a volta às aulas. Um número acima do esperado pode contribuir para a continuidade da deterioração das expectativas de inflação que temos observado nas últimas semanas, o que mantém a taxa de juros elevada e prejudica os ativos de risco.
· 01:41 — O favorito do Fed
Ontem, nos EUA, as ações americanas interromperam a sequência de quatro perdas consecutivas do S&P 500. De maneira geral, os investidores ainda estão estudando predominantemente os dados macroeconômicos. Por isso, toda a atenção estava voltada para o produto interno bruto, que mostrou que a economia cresceu a uma taxa anual de 2,7% no quarto trimestre, revisada para baixo em relação aos 2,9% publicados em janeiro, embora ainda crescendo em relação aos níveis do ano passado.
Apesar de revisado para baixo, o dado é uma má notícia para o Fed, que está procurando sinais de enfraquecimento da atividade e do mercado de trabalho. Em outras palavras, uma parte da economia ainda permanece relativamente forte, mesmo depois dos aumentos dos juros. Complementarmente, todos estarão de olho hoje no Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), historicamente o favorito do Fed para mensurar a evolução dos preços na economia.
Espera-se que o indicador apresente um aumento de 4,3%, na comparação anual, ligeiramente menor do que foi reportado anteriormente — na comparação mensal, a alta deverá ficar entre 0,4% e 0,5%. A força e o estilo do consumidor americano, assim como o baixo desemprego, devem contribuir para que o dado permaneça em patamares elevados se comparado com o passado recente, dificultando o trabalho do Fed e prejudicando os ativos de risco.
· 02:47 — O pacote europeu
Assustada com o pacote de subsídios de energia limpa do ano passado nos EUA, a União Europeia agora está travando seu próprio “Plano Industrial de Acordo Verde”. Espera-se que o programa seja pelo menos tão grande quanto o que Washington promulgou, com potencial para impulsionar a economia da região.
O impacto do pacote europeu é até provavelmente maior, pois deve evitar a deslocalização em larga escala das atividades industriais. O programa deverá ser financiado com dinheiro não utilizado na pandemia, juntamente com outras iniciativas, podendo exceder os US$ 440 bilhões em gastos com descarbonização em 10 anos.
· 03:16 — A questão japonesa
A inflação japonesa de preços ao consumidor subiu 1,9% na comparação mensal, impactado principalmente pela hospedagem em hotel (podemos ter um boom de turismo neste ano com a reabertura da China). O núcleo do índice, que exclui itens voláteis como alimentos in natura, subiu 4,2% em janeiro, ante 4% no mês anterior e em linha com as expectativas do mercado. Trata-se da maior alta em 41 anos.
Vivemos um momento paradigmático para o mundo, sem dúvida. Sobre o tema, o novo presidente do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda, que deverá assumir o cargo em abril, sugeriu uma abordagem “criativa” para a política, insinuando algumas mudanças na rotação sem alterar a substância acomodatícia. Ou seja, a autoridade deverá manter as taxas de juros ultrabaixas para apoiar a economia frágil.
· 04:01 — O problema do endividamento dos emergentes
Vivemos em uma era de competição geopolítica cada vez mais acirrada entre os EUA e a China. Apesar da problemática ser um dos grandes destaques dos noticiários geopolíticos global, muito tem se falado também sobre um dos principais temas do encontro de ministros das finanças do Grupo dos 20 (G20, com as 20 maiores economias do mundo), na Índia.
A discussão? Encontrar uma maneira de aliviar a dívida de países de baixa renda que estão saindo da pandemia com um montante insustentável de US$ 326 bilhões em empréstimos. Em novembro de 2020, o G20 concordou com o que chamou de “Estrutura Comum” para ajudar mais de 70 países de baixa renda a reestruturar suas dívidas soberanas.
À época, houve um pedido para que os chineses e os americanos trabalhassem juntos na liderança desse esforço. Dois anos depois, porém, os esforços ficaram parados por conta das tensões entre os dois países. A consequência é que podemos ter outra década perdida para muitos países.
Um abraço,
Matheus Spiess