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Governo Lula pode usar Petrobras (PETR4) para suavizar alta da gasolina; veja os destaques desta terça (28)

Ala política teme repercussão negativa do impacto sobre o consumidor da retomada dos impostos. Veja o que você precisa saber para esta terça-feira, 28 de fevereiro

Por Matheus Spiess

28 fev 2023, 08:48 - atualizado em 28 fev 2023, 08:48

alta da gasolina PETR4 Lula imposto

Bom dia, pessoal. 

Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em alta nesta terça-feira, seguindo as indicações positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores voltando às compras depois das vendas na semana passada. Há ainda a preocupação com as taxas de juros, já que dados econômicos recentes geraram apreensão com a possibilidade de o Federal Reserve aumentar as taxas mais do que o previsto atualmente, mantendo-as em um nível elevado por um período prolongado. 

Os mercados europeus e os futuros americanos, entretanto, abrem o dia em queda, corrigindo as altas de segunda-feira. Na agenda, os investidores se debruçam sobre indicadores de atividade e confiança nos EUA, os quais podem surpreender e voltar a frustrar os investidores sobre os próximos passos do Fed. Paralelamente, a maioria das commodities sobe, pelo menos por enquanto, na expectativa para o PMI da China, a ser divulgado durante a noite, um vetor que poderia ajudar os ativos brasileiros. 

A ver… 

· 00:46 — Qual será o desdobramento sobre a Petrobras? 

Por aqui, ainda acompanhamos de perto a questão dos combustíveis. Ontem, o Ministério da Fazenda afirmou que haveria a retomada integral dos impostos sobre os combustíveis (fósseis pagando mais do que biocombustíveis, como era anteriormente e alinhado com o discurso ambientalista do governo), o que poderá ajudar nas perspectivas fiscais, dado que estamos falando de cerca de R$ 28,9 bilhões em arrecadação na veia do governo. Para quem temia uma meia derrota de Haddad, a vitória cai muito bem, na expectativa pelo novo arcabouço fiscal agora em março. 

Mas não há almoço grátis. A ala política teme uma repercussão muito negativa do impacto sobre o consumidor da retomada dos impostos e, por isso, Lula baterá o martelo hoje para eventuais compensações, de modo a mitigar a alta de R$ 0,68 no litro da gasolina nos postos. Para isso, será utilizada provavelmente a Petrobras, que tem gordura para reduzir preço nas refinarias (o único risco seria uma queda dos dividendos, mas isso não está certo ainda), se valendo da queda do petróleo. Como a companhia é relevante no índice, se trata de um fato sistêmico importante. 

· 01:41 — Expectativas americanas 

Nos EUA, os juros dos títulos públicos subiram à medida que investidores revisaram suas expectativas para um pico mais alto na taxa em 2023. A mudança na previsão é uma reação aos recentes dados fortes sobre a economia de consumo e leituras de inflação acima do previsto; afinal, uma economia mais forte agora pode significar apenas mais aperto monetário por parte do Fed, o que provocaria recessão mais tarde. 

Justamente sobre atividade, temos hoje a pesquisa de confiança do consumidor, que deve marcar a leitura de 109,2 pontos, ligeiramente superior à janeiro. Vale destacar que o índice se recuperou da mínima verificada em julho de 2022 impulsionado por um forte mercado de trabalho — em janeiro, quase metade dos entrevistados disse que os empregos eram abundantes.  

Além desse dado, contamos também com a reta final da temporada de resultados e com o índice nacional de preços de residências, que vem enfrentando mais dificuldade diante da situação mais complicada do mercado imobiliário nos EUA. Hoje podemos ter uma economia mais fraca que reduz a inflação, mas também atinge os lucros corporativos, afetando os ativos, ou uma economia mais forte que obriga o Fed a apertar ainda mais para domar a inflação, também reduzindo os preços dos ativos. 

· 02:43 — E a inflação na Europa? 

Na Europa, a semana é recheada com dados de inflação, começamos hoje com França e Espanha, indo amanhã para a Alemanha e finalizando com Itália e a Zona do Euro como um todo na quinta-feira. É bastante coisa. Para os dados desta terça-feira, o mercado recebeu uma inflação acima do esperado na França e na Espanha, com retomada da aceleração dos indicadores, o que pressiona a curva de juros e prejudica os ativos de risco, como vemos que acontece nesta manhã. 

O processo de nova aceleração da inflação pode acontecer em todo o mundo, não só na Europa. Como sabemos, por exemplo, o Brasil muito provavelmente passará por algo assim nos próximos meses por conta da volta dos impostos sobre os combustíveis. O problema é que isso coloca inúmeros impasses para as autoridades monetárias, que serão forçadas a subir ainda mais os juros para controlar a inflação, o que aumentará consideravelmente as chances de uma recessão. 

· 03:29 — Nova estrutura para a separação entre Reino Unido e União Europeia 

A interminável discussão sobre a separação entre o Reino Unido e a União Europeia parece estar se aproximando do fim. O último impasse envolvia a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. Ao que parece, as negociações chegaram em um novo consenso sobre o comércio da região, substituindo o protocolo de Johnson sobre a Irlanda do Norte pelo que se tem chamado de “Estrutura Windsor”. 

Com a conclusão deste capítulo, os britânicos e os demais europeus podem começar uma nova etapa em suas relações, uma vez que a nova solução prevê resoluções duradouras para atritos complexos há alguns anos discutidos. O Reino Unido precisa superar logo essa etapa e seguir adiante, uma vez que entre os países do G7 é um destaque negativo, demandando muito trabalho para colocar o país no rumo certo. 

· 04:10 — A semana mais curta 

Nos EUA, na década de 1920, Henry Ford padronizou a semana de trabalho de cinco dias e 40 horas, encurtando a semana de seis dias sem reduzir o pagamento de seus funcionários. O modelo só se tornaria lei na década de 1930, com o New Deal, quando Roosevelt formalizou a jornada de 40 horas semanais. Agora, alguns países desenvolvidos discutem a jornada de apenas quatro dias de trabalho, uma ideia que se discute desde a década de 1950. Pois bem, tivemos um experimento formal. 

O experimento com a semana de quatro dias de trabalho terminou no Reino Unido, tendo influenciado cerca de 3 mil trabalhadores britânicos ao longo dos últimos meses. Entre as descobertas estavam melhores equilíbrios entre vida profissional e pessoal, menos problemas de sono e queda nas taxas de esgotamento. De fato, das 61 empresas que participaram do teste, 56 continuam implementando a semana de trabalho de quatro dias (18 das quais serão permanentes), enquanto duas empresas estenderam o teste e apenas três estão voltando ao seu padrão anterior de horários. 

O experimento é interessante, mas está longe de ser significativo. Afinal, foi feito por um período muito curto, em poucas empresas e com poucos funcionários. Não sabemos se os resultados verificados no curto prazo poderiam ser observados em outros países, em demais setores não incluídos no experimento e por mais tempo. Em outras palavras, o sonho da geração millennial de se trabalhar menos parece bem distante, principalmente com um mundo tão complexo e desafiador. Hoje, a semana mais curta, parece ter sido apenas um sonho de um mundo pós-pandêmico. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.