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Mercado em 5 minutos

O esforço tem sido grande para explodir o país

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para esta sexta-feira, 3 de março

Por Matheus Spiess

03 mar 2023, 09:02 - atualizado em 03 mar 2023, 09:02

Dor e sacrifício mercado em 5 minutos
Fonte: Free Pik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o dia predominantemente em alta nesta sexta-feira, acompanhando as movimentações positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, apesar das preocupações contínuas sobre as perspectivas para as taxas de juros após dados econômicos recentes. 

O desconforto internacional vinha ofuscando o otimismo sobre a recuperação da China depois que as autoridades encerraram três anos de medidas estritas de contenção zero-Covid que atingiram a segunda economia do mundo. Cada vez mais a economia chinesa mostra sinais de força, o que é positivo para o mundo de maneira geral. 

Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em alta, seguidos pelas principais commodities, dando espaço para certo otimismo para o Brasil, principalmente depois das realizações recentes, muito pautadas pela agenda confusa de Brasília. Para o dia, temos falas de autoridades monetárias no exterior, enquanto esperamos que governo brasileiro faça uso de seus bombeiros depois do caos recente. 

A ver… 

· 00:43 — Crescimento fraco deixou o governo em modo desespero 

Por aqui, nota-se que o governo ficou desgostoso com os dados mais fracos de PIB para encerrar o ano de 2022, quando a economia brasileira cresceu 2,9%. O número é bom, mas foi muito ajudado por esteróides, em especial os provenientes da PEC das Bondades. Agora, a história é diferente e devemos ter uma desaceleração considerável em 2023, o que faz o governo voltar a pressionar o Banco Central. 

O desconforto se estendeu a várias personalidades do governo, não apenas Lula e Gleisi, como de costume. Agora, até Tebet e Haddad falaram de maneira um pouco mais agressiva, o que é prejudicial. Francamente, não ajuda em nada; muito pelo contrário, só atrapalha. Melhor seria se ficassem quietos pelo menos, mas não conseguem, precisam desesperadamente explodir o Brasil com falas irresponsáveis. 

Para piorar a situação, o novo presidente da Petrobras também cumpriu a sua cota de abobrinhas, o que piorou o clima para a companhia, relevante em termos de peso no interior do índice. Até a indústria naval passou a ser comentada — chegou a hora da geração atual pagar parte do sonho impossível de reviver a indústria naval, que não vai sair do papel, como sempre, mas já mostra um pouco do cunho da nova gestão da estatal. O Brasil ama perder tempo com discussões que não levam a lugar algum. 

A redução dos juros está 100% na mão do governo, que deverá apresentar neste mês o novo arcabouço fiscal. Enquanto entender equivocadamente que a culpa é exclusiva da taxa de juros e de Roberto Campos Neto, não vai sair do lugar. Pelo menos o Ministério da Agricultura informou que o caso isolado da vaca louca, registrado no Pará em fevereiro, foi confirmado como atípico, o que deve provocar uma retomada das exportações em breve (antes da viagem de Lula para a China, no dia 27) — o Brasil agiu de maneira exemplar. Pelo menos uma notícia boa. 

· 01:50 — Falas sem uma única direção 

Nos EUA, após uma reversão no meio da quinta-feira, os principais índices fecharam em alta, apresentando seus melhores ganhos em mais de duas semanas. A recuperação ocorreu depois que o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, recuou contra a necessidade de um aumento de meio ponto nas taxas na próxima reunião do Fed de 21 a 22 de março. 

Os investidores estão cada vez mais preocupados com o fato de que os dados econômicos ainda robustos devem forçar o Fed a voltar a altas maiores, o que não parece ser o caso, francamente (nas últimas semanas, o mercado futuro precificou uma chance de 30% para uma alta de meio ponto no final deste mês, algo que ninguém pensava ser possível apenas um mês atrás, mas Powell deverá seguir com 25 pontos). 

Sobre a atividade, vale acompanhar o PMI de serviços americano hoje, com expectativa de registrar 54,5 pontos, cerca de um ponto a menos que o relatório anterior. Se surpreender o mercado para cima, contudo, pode voltar a reforçar a tese de atividade econômica ainda robusta, o que pressionaria a curva de juros, como observamos em 2022 e ao longo de fevereiro de 2023. 

· 02:36 — Uma Europa contracionista 

Na Zona do Euro, teremos mais membros do banco central falando ao mercado hoje, mas é improvável que os mercados fiquem muito surpresos, uma vez que boa parte das próximas movimentações já estão no preço. Mas será mesmo? Afinal, os números divulgados na quinta-feira mostraram que a inflação da região permaneceu rígida em fevereiro, levando a chefe do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, a dizer que é necessário mais aperto. 

Com as surpresas de uma inflação alta e em crescimento, o mercado passou a precificar juros mais elevados.No momento, o consenso aponta para taxas terminais de juros de 4% na Zona do Euro, o que é bem contracionista para os padrões europeus. Inevitavelmente, o prognóstico será de contração econômica como consequência, assim como poderemos ver nos EUA e em outras regiões ao redor do mundo. É o que o governo brasileiro teme que aconteça por aqui, por isso pressiona o BC. 

· 03:21 — Uma China forte 

Uma pesquisa na sexta-feira mostrou que o setor de serviços da China expandiu em um ritmo mais rápido do que o esperado em fevereiro. A leitura seguiu dados do governo que mostraram que a atividade empresarial chinesa cresceu em seu ritmo mais rápido em mais de uma década, à medida que a recuperação econômica pós-Covid ganhou força. 

O índice de gerentes de compras (PMI) de serviços subiu para 55 pontos em fevereiro, superando as expectativas de um aumento para 54,7 e superior à leitura do mês anterior de 52,9. O crescimento também estava em seu ritmo mais rápido em sete meses. Ao mesmo tempo, as empresas registraram maior número de clientes e pedidos de exportação durante o mês, com a maioria das empresas chinesas também ficando muito mais otimistas em relação à recuperação econômica neste ano. 

Os fortes dados indicam que a economia chinesa está em um caminho estável para a recuperação após o alívio da maioria das restrições da política de zero-Covid. Isso é bom para o mercado de commodities, bem como para mercados emergentes. O Brasil é um claro beneficiado do movimento na China, que poderia servir de amortecedor para o mundo em meio às desacelerações dos países centrais. 

· 04:07 — A recessão está chegando? 

Em uma época em que os dados econômicos transmitem mensagens contraditórias ou frustram as expectativas, as previsões dos economistas para o próximo ano estão se tornando cada vez mais opacas. Nos EUA, por exemplo, a última pesquisa da National Association for Business Economics, divulgada nesta semana, mostra uma divergência significativa entre os entrevistados sobre a direção que eles acham que a economia dos EUA está tomando em 2023. 

Estimativas de produto interno bruto real, inflação, indicadores do mercado de trabalho e taxas de juros estão muito diferentes entre si, refletindo uma variedade de opiniões sobre o destino da economia, variando de recessão a crescimento robusto. Ainda assim, quase 60% dos entrevistados disseram acreditar que os EUA têm mais de 50% de chance de entrar em recessão nos próximos 12 meses. Muito provavelmente, estamos nos aproximando de uma recessão por lá, mesmo que breve.    

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.