Empiricus 24/7

Ficando de fora

“Fear Of Missing Out, ou simplesmente FOMO, vem sendo um dos grandes temas da atualidade […]”.

Por Caio Mesquita

24 fev 2023, 14:06 - atualizado em 03 mar 2023, 14:19

Ficando de fora
Imagem: Freepik

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Álvaro de Campos


Fear Of Missing Out, ou simplesmente FOMO, vem sendo um dos grandes temas da atualidade.

Especialmente após o advento das redes sociais, em especial a dupla Facebook/Instagram, e mais recentemente o Tik Tok. A sensação de estar perdendo ou ficando fora de algo importante angustia e atormenta o homem moderno.

Essencialmente, o FOMO advém do medo do arrependimento. A sensação de estar perdendo alguma oportunidade que, uma vez passada, não ocorrerá novamente.

As redes sociais, ao trazerem um fluxo inesgotável de experiências vividas por outros, de celebridades a amigos próximos, acelera e intensifica o FOMO a níveis insuportáveis.

Recentemente, minha filha mais velha leu-me um poema de sua autoria para um concurso literário da escola. O tema, absolutamente sintonizado com nosso zeitgeist, era justamente o FOMO e seus efeitos nos estudantes de hoje.

Misturando orgulho e preocupação, ouvi atentamente o poema da Bella descrever com precisão o sofrimento vivido por uma jovem quando observa suas amigas se divertindo enquanto ela, sozinha em casa, percorre o feed de sua rede social.

Apesar de muito vulneráveis, adolescentes estão longe de serem as únicas vítimas dessa eterna sensação de estarem diante de um fluxo constante de oportunidades perdidas.

Adultos são frequentemente vítimas da sensação de incessantes perdas de oportunidades. Marqueteiros entendem e dominam esse jogo, manipulando nossas emoções na direção que melhor os convém. 

Investimentos, em particular, são campo fértil para o desenvolvimento dos sentimentos de FOMO. Somos constantemente bombardeados com histórias de êxito mas pouco se ouve sobre fracassos.

Assim, cria-se a expectativa de que começar a investir, especialmente em ativos de risco, é condição não apenas necessária mas suficiente para o sucesso financeiro.
Assim como Fernando Pessoa, na condição de Álvaro de Campos, desconhecia quem tivesse levado porrada, com todos ao seu redor tendo sido campeões de tudo, não encontramos lá fora quem compartilhe conosco o sofrimento das decisões equivocadas.

Frustrados, somos compelidos a investir na febre do momento, montando no primeiro cavalo selado que passa, já que nos ensinaram que uma nova oportunidade como essa não existirá.

Morgan Housel, gestor de venture capital e autor do best-seller “A Psicologia Financeira”, classifica o FOMO como o nosso pior traço financeiro, sendo o principal responsável por decisões de investimento equivocadas.

Housel cita Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, para explicar o perigo do FOMO sobre nossos investimentos:

“Alguém sempre ficará rico mais rápido do que você. Isso não é uma tragédia… A ideia de se importar que alguém esteja ganhando dinheiro mais rápido do que você é um dos pecados capitais.”

Aqui no Brasil, com os níveis atuais dos juros, temos até um incentivo para evitar o FOMO, já que somos bem remunerados para esperar, antes de nos comprometer com estratégias mais arriscadas.

Afastando-nos do FOMO, e não digo que isso seja fácil, muito pelo contrário, estaremos livres para pensar investimentos no longo prazo, concatenados com os nossos próprios objetivos e metas pessoais.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço,

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus