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A roda da fortuna

“Afinal, Lula é um homem de sorte? […]”.

Por Caio Mesquita

04 mar 2023, 14:22

Afinal, Lula é um homem de sorte?

roda da fortuna
Imagem: Freepik

Atribuir ao atual presidente a condição de sortudo tornou-se lugar comum, até mesmo entre seus maiores detratores.

Já ouvi da boca de mais de um gestor aqui da Faria Lima que Lula é um agraciado por circunstâncias que, invariavelmente, terminam o beneficiando e contribuindo para sua trajetória exitosa.

O espetacular boom de commodities pelo qual passamos no primeiro mandato de Lula é constantemente trazido como o melhor exemplo de como os astros teimam em se alinhar a seu favor.

Dificilmente Lula teria lastro na memória das pessoas para afirmar que trará novamente picanha e cerveja para o fim de semana se não fosse pelo exemplo dos bons anos de seu primeiro mandato.

Até mesmo seus críticos mais ferrenhos admitem que Lula logrou atingir bons resultados econômicos na sua primeira oportunidade como governante, o chamado Lula I.

A espetacular virada na posição financeira do País promovida no período não só quitou a dívida externa como acumulou um formidável colchão de liquidez como nossas reservas internacionais.

Quando comparado com o que aconteceu na Argentina à mesma época, torna-se inegável a competência do então governo em aproveitar a bonança externa para mudar estruturalmente o nosso perfil de risco.

Beneficiados de forma análoga pelo mesmíssimo ciclo de valorização dos preços das commodities, os argentinos de Nestor Kirchner abraçaram o populismo financeiro, taxando fortemente as exportações agrícolas para financiar investimentos públicos e políticas sociais distributivas.

Como resultado, o PIB argentino decolou, ficando acima dos 8% anuais para quatro anos consecutivos. Por outro lado, quando o ciclo virou, o castelo de areia desmoronou.

Basta olharmos para os nossos vizinhos hoje para entender a consequência da aventura irresponsável do governo Kirchner.

Voltando a Lula, o presidente mostra indícios de certa ansiedade com o panorama econômico que se apresenta.

O fraco PIB no último trimestre aponta para um 2023 sem crescimento. Quando soma-se a isso o atual aperto nas condições financeiras, com risco de crise de crédito e política monetária restritiva, e a própria crise de confiança causada por declarações infelizes de membros do governo, a perspectiva de retomada fica cada vez mais distante.

Neste cenário ruim, Lula incorpora sua pior versão. De um lado, ativa o modo vítima, apontando a culpa nos outros – mercado financeiro, Banco Central, empresários inescrupulosos, Bolsonaro – para os problemas que deveria enfrentar. Do outro, dá corda à pior versão da esquerda populista, resgatando retóricas ultrapassadas da época de piquete na frente da fábrica.

Os romanos depositavam na deusa Fortuna a decisão sobre seus destinos. Inicialmente reverenciada por agricultores, a deusa foi crescendo de popularidade junto a outros grupos, como militares, comerciantes e, claro, jogadores.

Para reduzir a aleatoriedade da Fortuna, os romanos vincularam a sua atuação ao conceito de virtude. Assim, as ações de deusa de sorte deveriam favorecer os virtuosos, de certa forma trazendo justiça ao processo de atribuição de sorte e azar.

Fico aqui pensando, desanimado, que virtudes Lula demonstrará desta vez, como fez em seu primeiro mandato, para não só merecer novamente a graça da boa sorte, na forma de um novo ciclo positivo para as commodities, mas também usá-la em benefícios permanentes ao País.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa sorte e um abraço.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus