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Silicon Valley Bank (SVB): entenda por que o colapso do banco deixa o setor financeiro dos EUA em alerta

Quebra do SVB é a pior de um banco norte-americano desde a crise de 2008; entenda o caso e como ele reverbera na maior economia do mundo

Por João Luiz Piccioni Junior

13 mar 2023, 11:37 - atualizado em 14 mar 2023, 13:52

Silicon Valley Bank SVB
Imagem: Divulgação

E eis que surge o primeiro solavanco no mercado bancário americano. Na semana passada, após a divulgação dos seus resultados, as ações do Silicon Valley Bank (SVB) Financial Group (Nasdaq: SIVB) desabaram mais de 60% no pregão regular da Nasdaq.

O Banco, reconhecido por sua ligação íntima com o mundo da tecnologia, divulgou uma ampla reestruturação do seu balanço e das suas atividades, deixando de cabelo em pé seus investidores, credores e usuários.

Detentor de uma base de depósitos de aproximadamente US$ 150 bilhões, o Silicon Valley Bank deflagrou uma venda forçada de US$ 21 bilhões de dólares da sua carteira de ativos, o que gerou um prejuízo de US$ 1,8 bilhão e provocou a necessidade de uma oferta de ações de US$ 2,3 bilhões para cobrir as perdas.

Isso provocou a corrida dos correntistas para retirar os recursos do banco, colocando em alerta todo o setor financeiro americano.

A saída para o banco era clássica dos momentos de ruptura: encontrar um comprador. Sob a ótica do banco central americano, haveria pouco a se fazer. O SVIB já detinha cerca de US$ 15 bilhões emprestados do FED de São Francisco, o que limitaria a possibilidade de um resgate oficial por parte do setor público. A venda para alguma instituição privada era a única saída.

Ainda na sexta-feira à tarde, após a intervenção do Departamento de Proteção e Inovação Financeiras da Califórnia, o FDIC (Federal Deposit Insurance Corp) assumiu a instituição e deve garantir o resgate para os depositantes dos bancos que detinham até US$ 250 mil nas contas correntes. Para os demais, a discussão deve demorar algum tempo. 

Quebra do SVB é a pior desde 2008

Essa dinâmica traz à memória a quebra do Bear Stearns, nos idos de 2008. A situação era similar e a tábua de salvação veio por meio da aquisição feita pelo JP Morgan (NYSE: JPM).

Naquele ano, os problemas eram a alavancagem das estruturas de hipotecas. Agora, o problema do Silicon Valley Bank (e de outras instituições) é que boa parte da carteira de ativos é composta por títulos de dívida de startups. Pior de tudo: várias delas a juros zero, lastreada em opções para se comprar as ações de companhias cuja rentabilidade, na melhor das hipóteses, é praticamente nula.

Os reflexos do estouro da “mãe de todas as bolhas” ainda vão alcançar as economias globais. A caminhada para a capitulação é recheada de entreveros, e os “bear market rallies” vão ser constantes.

Por exemplo, em todas as últimas vezes que o Nasdaq tentou engatar uma tendência de alta, acabou por fazer novas mínimas. E não acredito que agora será diferente. Paciência é a chave de quando se opera vendido.

Gráfico 1 – Comportamento do índice Nasdaq do seu pico até o fechamento de sexta (10). Fonte: Koyfin.

Evento liga alerta no setor financeiro

Mas de volta à macroeconomia, é importante ressaltar a deterioração do setor financeiro americano. O evento SVB não parece ser capaz de se alastrar rapidamente, mas mostra que existem algumas maçãs podres.

Como bem pontuado pela Gavekal, em seu último relatório sobre os bancos, alguns fatores ratificam a atenção ao setor:

  • (i) existe uma clara deterioração da qualidade dos seus ativos, fato consumado pelo aumento decorrente da inadimplência e confirmado pelo aumento das provisões nos balanços;
  • (ii) há uma clara redução da expansão da carteira e dos limites de crédito; 
  • (iii) as reservas bancárias vem se retraindo, muito em função do processo do Quantitative Tightening do Federal Reserve;
  • (iv) a redução das margens financeiras vem acontecendo, por conta do descasamento entre as taxas de depósitos e as taxas cobradas no crédito mais longo.

Esses pontos ratificam nossa posição vendida nas ações do setor financeiro.

Apesar de sólido, alguns bancos dentro dos ETFs IYF (ou SEF) devem apresentar números mais fracos e puxar a cesta de ações para baixo.

Entenda o que é o credit crunch:

CIO da Empiricus Gestão. Graduado em Engenharia e Administração de Empresas pela FEI e FGV-EAESP, respectivamente, e mestre em Finanças pela FGV-EESP. Possui mais de 15 anos de experiência em análise de investimentos e gestão de recursos. Certificações CNPI (Apimec), CGA (Certificado de Gestores Anbima) e CQF (Certificate of Quantitative Finance).