Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos se recuperaram nesta sexta-feira depois que o First Republic Bank foi resgatado por um grupo de grandes credores dos EUA, o que aliviou as preocupações sobre a atual turbulência bancária — o banco deve receber US$ 30 bilhões de um grupo dos maiores bancos da América, incluindo JPMorgan, Bank of America, Wells Fargo e Citigroup. Como não podia deixar de ser, a notícia acalmou investidores em pânico, preocupados com uma crise bancária após o colapso de dois bancos americanos e a turbulência no Credit Suisse.
Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em alta, após o BCE aumentar o juro em 50 pontos-base — a inflação da Zona do Euro veio em linha com as expectativas nesta manhã, o que ajuda o ambiente econômico e o sentimento dos investidores (o apoio do BC suíço ao Credit Suisse também ajudou muito). No Brasil, acompanhamos as discussões internacionais, enquanto aguardamos novidades sobre a nova regra fiscal. Alguns dados econômicos nos chamaram a atenção, como o IBC-Br de janeiro e taxa de desemprego da Pnad Contínua do trimestre até janeiro.
A ver…
· 00:55 — Será que vai agradar?
Por aqui, Fernando Haddad finalmente apresentará o novo arcabouço fiscal para Lula. A intenção é que a proposta, depois da aprovação do presidente, seja divulgada formalmente antes da reunião do Copom, na quarta-feira que vem. Com isso, o BC teria já alguns motivos para começar um discurso flexibilizando a política monetária, podendo reduzir a taxa de juro já em maio, ainda que marginalmente — como argumento, a autoridade monetária ainda poderá se valer do risco da crise de crédito, no Brasil e no mundo, bem como a desaceleração da economia doméstica já no último trimestre de 2022.
Com o fortalecimento da credibilidade das políticas fiscal e monetária, gozando de harmonia entre elas, inclusive, podemos ganhar espaço para juros mais baixos já em 2023 e 2024, podendo até revisitar a regra de inflação no curto prazo, desde que de maneira técnica e diligente. Com o movimento, teríamos espaço para a criação de um ciclo virtuoso para os ativos domésticos, como foi a última janela entre 2016 e o início de 2020, até o início da pandemia. O desafio, porém, é político, uma vez que conhecemos a natureza do governo.
· 01:51 — Respirando, pelo menos por enquanto
Nos EUA, as ações tiveram uma excelente quinta-feira. As notícias sobre bancos têm estado no centro das atenções, começando com o Silicon Valley Bank (SVB) na semana passada e, mais recentemente, com o nervosismo sobre o Credit Suisse, provocando grandes ajustes nos preços. As ações do First Republic Bank estão sob pressão em meio a temores de que a empresa, que se concentra em private banking e gestão de patrimônio, vá à falência. No entanto, o banco anunciou ontem que receberia US$ 30 bilhões em depósitos não segurados de um consórcio de 11 bancos.
Ao mesmo tempo, as ações do Credit Suisse subiram depois que foi anunciado que obteria apoio financeiro do banco central suíço. Uma questão-chave, porém, é se as preocupações bancárias estão se acalmando ou se quinta-feira foi apenas uma pausa na tempestade antes que mais notícias ruins surjam. Entendo que, embora seja muito cedo para avaliar o impacto total dos choques recentes, os efeitos macro serão limitados. Para tentar o humor, resta acompanhar hoje o índice de sentimento do consumidor americano, bem como os dados da produção industrial.
· 02:45 — Mais 50 pontos
Na Europa, o BCE elevou as taxas de juros em 50 pontos-base, para 3,5% ao ano, e sinalizou que seus próximos passos dependem dos dados, como está acontecendo nos EUA também (aliás, em qualquer banco central bem administrado, a política monetária sempre depende dos dados, mas isso não vem ao caso). Este aumento da taxa do BCE é uma boa notícia no contexto de taxas de inflação persistentemente altas.
Ao mesmo tempo, a autoridade reafirmou sua intenção de intervir com medidas de liquidez se a estabilidade do mercado financeiro estiver ameaçada. O BCE está tentando traçar linhas claras entre sua luta contra a inflação e seu trabalho de manter a estabilidade financeira. Este é um tema que outros bancos centrais provavelmente também debaterão. Resta saber o tom do Fed na semana que vem.
· 03:25 — A resiliência da inflação
Ainda não temos sinais claros de que a inflação nos Estados Unidos esteja desacelerando, principalmente se considerarmos que o índice de preços ao consumidor subiu em fevereiro. Sim, não podemos dizer que a inflação esteja fora de controle, mas a teimosia dos índices de inflação incomoda os agentes econômicos e as autoridades monetárias, não só nos EUA, mas no mundo inteiro. Essa é a razão técnica para a continuidade do aperto monetário das economias centrais.
Não resta outra opção para o Fed, a não ser continuar seu aperto monetária na reunião da semana que vem, devendo elevar a taxa de juros em 25 pontos. Caso ele opte por não fazê-lo, diferente da atitude corajosa do BCE, poderíamos assistir a uma desancoragem das expectativas de inflação e aumento da volatilidade nos mercados financeiros. De 2020 para cá, vimos alguns erros de condução da política monetária, algo que não pode se repetir em um momento tão delicado como o atual.
· 04:12 — Regras mais rígidas
Um grupo de democratas liderado pela senadora americana Elizabeth Warren propôs um projeto de lei para restaurar as regulamentações bancárias que foram desfeitas pelo ex-presidente Donald Trump. O projeto de lei proposto visa revogar uma lei aprovada de forma bipartidária em 2018 que relaxou as regulamentações Dodd-Frank em bancos de médio porte, aumentando o limite “too big to fail” (grande demais para quebrar) para US$ 250 bilhões em ativos (o valor antes era de US$ 50 bilhões). O projeto reverteria o limite referente aos requisitos de capital aprimorados.
Não apenas os parlamentares, mas o Fed também parece estar repensando várias de suas regras sobre bancos de médio porte após o colapso do SVB e do Signature Bank. Uma série de requisitos mais rígidos de capital e liquidez estão sendo revisados, bem como medidas para reforçar os “testes de estresse” anuais que avaliam a capacidade dos bancos de enfrentar uma recessão hipotética. Provavelmente, portanto, veremos um endurecimento sobre a regulamentação dos bancos nos próximos anos. Até a China entrou na discussão, criando um órgão regulador financeiro dirigido pelo Partido Comunista (quer dar ao partido supervisão direta sobre os assuntos financeiros).
Um abraço,
Matheus Spiess