Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados da Ásia e do Pacífico caíram nesta segunda-feira, depois que o UBS concordou em comprar seu rival bancário na Suíça, o Credit Suisse, em uma aquisição de 3 bilhões de francos suíços (US$ 3,25 bilhões) no final de semana. Mesmo com autoridades na Europa e nos EUA tentando garantir aos investidores que seu dinheiro estava seguro, o humor não é dos melhores. Tanto é verdade que, visando conter o pessimismo, o Federal Reserve e cinco grandes bancos centrais anunciaram uma ação coordenada para garantir a liquidez do sistema financeiro global.
Não sabemos, porém, se o movimento será o suficiente para conter de maneira estrutural a tendência negativa que foi criada nos mercados por conta do setor bancário estrangeiro. Os mercados europeus e os futuros americanos começam a semana em queda, em linha com o desempenho asiático. Os próximos dias serão importantes, em especial para nós brasileiros, uma vez que contamos com reunião de política monetária no Brasil e nos EUA, sem falar da expectativa pela apresentação do novo arcabouço fiscal, que já era para ter sido divulgado, mas foi atrasado.
A ver…
· 00:55 — Problemas com a ala política
Como se não bastasse o estresse para a reunião de política monetária nesta semana, o governo voltou a atrapalhar o próprio país. Ao que tudo indica, novos problemas nasceram entre a ala política e a econômica na reunião de sexta-feira no Palácio no Planalto, quando Haddad teria apresentado a nova regra fiscal ao Lula. Contudo, parece que há pressão para mais flexibilidade no arcabouço, sugerindo inclinação a mais gasto e mais tempo para zerar o déficit iniciado no governo Dilma — no projeto, a geração de superávit já poderia acontecer entre 2024 e 2025.
Sem um arcabouço definido (ao menos formalmente divulgado), o BC tem menos argumentos para flexibilizar a política monetária, apertando ainda mais as condições financeiras brasileiras e piorando o cenário econômico local. A indefinição de uma regra deve pressionar a curva de juros para cima, sangrando ativos brasileiros. Lula erra ao caminhar pelo mesmo caminho de Dilma, ouvindo demais algumas personalidades do PT, como Hoffmann. Haverá mais conversas hoje sobre o tema, enquanto aguardamos o encontro da Junta de Execução Orçamentária amanhã.
· 01:47 — Mais 25 pontos
Nos EUA, o evento principal da semana será a reunião crucial de dois dias do comitê de formulação de política monetária do Federal Reserve. Neste momento, a negociação de futuros implica uma probabilidade de 62% de uma alta de 25 pontos-base na taxa pelo Fed e uma chance de 38% de nenhuma alta. As chances de uma alta de 50 pontos agora estão efetivamente fora de questão, depois de ser uma aposta favorita apenas algumas semanas atrás.
As opiniões estão divididas sobre as táticas que o banco central deve adotar diante dos eventos recentes. Por isso, além da decisão em si, será importante acompanharmos a coletiva de imprensa 30 minutos depois do presidente Jerome Powell — tanto a reunião do Brasil como a dos EUA será finalizada na quarta-feira, dia 22. É bem possível que, depois da alta desta semana, o Fed avalie finalizar o processo de aperto monetário, mesmo que a inflação continue em patamares elevados.
· 02:34 — O resgate
No final de semana, o banco UBS comprou o Credit Suisse por 3 bilhões de francos suíços (US$ 3,25 bilhões), cerca de 60% menos do que o banco valia quando os mercados fecharam na sexta-feira. Com a aquisição, a instituição financeira será agora responsável por US$ 3,5 tri em ativos investidos no mundo. Enquanto isso, acionistas do CS receberão uma ação do UBS para cada 22,48 ações do Credit detidas.
Para que a compra fosse rapidamente aprovada, houve um decreto de emergência do governo suíço permitiu a venda do Credit Suisse sem aprovação de acionistas. O movimento foi elogiado pelas autoridades globais, como o BCE, que parabenizou os players envolvidos na rápida decisão, uma vez que o acordo garantirá a estabilidade financeira e protegerá a economia europeia e global.
O governo americano e o Fed também elogiaram os anúncios das autoridades suíças. Agora, para complementar, o BC da Suíça vai fornecer um empréstimo de US$ 108 bilhões apoiado por uma garantia de inadimplência federal para apoiar a venda do Credit ao UBS, que deve ser concluída até o fim do ano. A minha interpretação é de que, apesar do choque inicial, a novidade deveria tranquilizar um poucos os mercados.
Acompanhe os highlights do pregão de segunda a sexta-feira, às 12h:
· 03:35 — China e Rússia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, receberá o chinês Xi Jinping nesta semana em Moscou, em um movimento que aumentará as tensões entre o Oriente e o Ocidente sobre a guerra na Ucrânia (a visita acontecerá de 20 a 22 de março). No encontro, os dois líderes discutirão questões atuais de maior desenvolvimento das relações de parceria abrangentes e cooperação estratégica entre a Rússia e a China.
Vários documentos bilaterais deverão ser assinados durante a visita, que foi organizada em resposta a um convite de Putin. Questões geopolíticas envolvendo Putin e Xi lideram a lista anual de 10 riscos da consultoria Eurasia Group para este ano, à medida que a guerra da Rússia na Ucrânia se espalha e o líder da China exerce seu novo poder concentrado.
A visita de Xi Jinping poucos dias depois de ele formalmente garantir seu terceiro mandato como líder chinês reforça seu poder no cenário mundial e envia um forte sinal de apoio a Putin. Isso pode ser interpretado como uma ameaça à estabilidade internacional, colocando o Brasil e muitos outros players em uma situação delicada; afinal, quem conseguirá mais apoio nos próximos anos, os EUA ou a China.
· 04:32— Há estabilidade no horizonte?
A volatilidade do sistema bancário aumenta a demanda por liquidez. Por isso, no final de semana, o Federal Reserve e cinco outros bancos centrais globais (Canadá, Reino Unido, Europa e Suíça) anunciaram uma ação coordenada para aumentar a liquidez em acordos de linhas de swap de dólar americano — permitirá que outros bancos centrais peguem emprestados dólares do Fed em troca de suas próprias moedas.
Veja, me parece bem razoável que as autoridades monetárias forneçam essa liquidez, considerando que as condições financeiras estão em patamares restritivos por conta da inflação. A liquidez internacional oferecida pelas linhas estendidas de swap de dólar, que serão iniciadas nesta segunda-feira, demonstra que o dólar não enfrenta nenhum rival confiável como moeda de reserva global (deverá ser diário até o fim de abril).
No longo prazo, se as condições creditícias se deteriorarem mais e o estresse sobre o setor bancário global persistir, a política econômica terá que mudar. Se caminharmos para uma recessão, a demanda mais fraca naturalmente diminuiria a inflação, provocando desinflação. Neste contexto, teríamos uma recessão, mas o cenário para o pivô da política monetária finalmente poderia ser realizado.
Um abraço,
Matheus Spiess